A Grande Aposta – Tem uma agulha no palheiro, e o palheiro está pegando fogo. | Silas Chosen
12/fev/2016(RE)Descobrindo a mente evangélica | David T. Koyzis
08/mar/2016Nunca offline.
Estas palavras, em uma recente capa da revista Time, pretendem nos deixar nervosos com o futuro ominoso de uma tecno-invasão. Computadores estão sendo amarrados em nós, movendo-se para nossos relógios e copos, “tentando colonizar nossos corpos.”
Os jornalistas Lev Grossman e Matt Vella explicam em seu artigo: “Estamos acostumados com tecnologias que são seguramente Outras, mas o Apple Watch quer aconchegar-se e tornar-se parte de nossos próprios Egos. A realidade de se viver com um iPhone ou qualquer dispositivo inteligente conectado é que eles fazem a realidade ser sentida como cada vez menos real. O sujeito fica superconectado até o ponto no qual os pensamentos e opiniões de estranhos e anônimos distantes começam a ser mais urgentes do que os de seus próprios entes queridos presentes na mesma sala. Ele esquece o que é estar sozinho sem distrações.”
O fato de nunca ficarmos sozinhos sem distrações é especialmente alarmante, tendo em vista a parábola dos quatro solos, na qual Jesus nos adverte dos perigos espirituais das distrações. Estejam nossas preocupações no quarto ao lado ou no deserto sírio, a vida pode ficar rapidamente preenchida por um grande número de preocupações, ansiedades e desejos. O efêmero sufoca o infinito (Marcos 4: 18-19).
Mas seu pulso não precisa estar algemado por um Apple Watch para que você sinta as distrações colonizando sua vida. Os próprios pings e pushes do iPhone notificam a nossa atenção, em tempo real, aos cuidados deste mundo. As últimas notícias e falatórios podem roubar o nosso foco, jogar nossas vidas para fora do centro, e abafar a voz de Deus.
Encontrando Equilíbrio
Para ajudar a encontrar um equilíbrio saudável com a tecnologia, sentei-me recentemente com dois experientes pais na fé: David Wells e Arthur Hunt. Wells é o autor do novo livro God in the Whirlwind: How the Holy-Love of God Reorients Our World (2014) (Deus no Redemoinho: Como o Amor-Santo de Deus Reorienta Nosso Mundo). Hunt é o autor do novo livro Surviving Technopolis: Essays on Finding Balance in Our New Man-Made Environments (2013) (Sobrevivendo à Tecnópolis: Ensaios sobre a Busca do Equilíbrio em nossos Novos Ambientes Artificiais).
Ambos os autores apreciam os benefícios da tecnologia de comunicação digital e ambos os livros tentar ajudar os cristãos a pensar criticamente acerca do lugar da tecnologia e das distrações em nossas vidas. Perguntei a eles sobre o iPhone – os problemas que ele introduz em nossas vidas, as limitações que ele potencialmente impõe à alma cristã, e as soluções para um equilíbrio sábio que ele nos obriga a visualizar.
A Descida Final para Tecnópolis
Começamos a 40.000 pés. O homem tem uma longa história com a tecnologia, começando com coisas simples como pás e lanças. Historicamente, a tecnologia ajudou nossas vidas a alcançar conveniência e eficiência. Mas, ao longo do tempo, a tecnologia se moveu para fora dos limites da resolução de problemas.
“Chegamos a um período em que todas as formas de vida cultural se renderam à soberania da Tecnologia”, adverte Arthur Hunt. “Estamos agora sob um Tecnopólio, dizendo que absolutamente nada vai ficar no caminho do progresso tecnológico. Culturalmente, investimos muito em uma corrida precipitada para o futuro sem qualquer telos [fim] claro. O único telos real é que tudo tem que ser maior, mais rápido, e mais recente. Alguém poderia perguntar: Bem, o que há de errado nisso? Bem, isso aumenta a noção de que nosso propósito na vida é sermos consumidores satisfeitos de bens materiais. Assim, a próxima grande coisa não é mais a vinda do Reino de Deus, mas a vinda da tela de TV curva”.
De fato, os cristãos têm um telos claro, diz David Wells. “Nosso objetivo na vida é nos tornarmos centrados em Deus em nossos pensamentos, tementes a Deus em nossos corações e honrar a Deus em tudo o que fazemos. Mas esta é uma sociedade de distração. Se permitirmos que ela nos oprima e nos pressione em seu molde, ela irá tomar nosso tempo daquelas coisas que são fundamentais: nosso foco na realidade, na presença, na glória, na bondade e na grandeza de Deus. Então, nesse sentido, ela se torna um concorrente real.”
O objetivo da tecnologia e o objetivo da vida cristã podem facilmente se opor.
Pings
“Nós recebemos pings e beeps dos computadores. Todos nós sabemos o que é isso”, disse Wells. “Mas a grande questão é a seguinte: O que isso está fazendo com nossas mentes, enquanto estamos vivendo com essa distração constante? O que acontece conosco quando estamos em movimento constante? Quando, de fato, estamos viciados em uma constante estimulação visual, o que acontece conosco? Esta é a grande questão. Uma pessoa comum costuma trocar tarefas a cada três minutos. Estamos nos interrompendo em metade de nosso tempo! Assim, o que isso está fazendo conosco, lá no fundo? A questão menor é: Como vamos encontrar tempo para as coisas que são realmente centrais em nossas vidas como cristãos?”
Estes são dois problemas que precisamos abordar.
Parte do problema é que somos convencidos pela mentira de que nossas vidas são irrelevantes se não nos conectarmos às mídias sociais todos os dias, ou várias vezes por dia, ou todas as horas que estivermos acordados. “As pessoas no Facebook atualizam seus status de hora em hora, porque se não o fizerem, elas se tornam obsoletas”, diz Wells. “Mas as coisas mais importante no mundo são as eternas. E, nesse sentido, o eterno é mais relevante, a coisa mais up-to-date que qualquer um poderia encontrar.”
A Internet está constantemente trabalhando para nos tornar pessoas altamente impacientes, Wells adverte. “Queremos partir para a próxima ocupação agora, imediatamente. Nunca é cedo para seguirmos em frente. Mas o conhecimento de Deus e aprender a andar com ele através de todos os conflitos, ansiedades, dificuldades, injustiças da vida – este é um processo que dura a vida toda. Leva tempo para que esse conhecimento amadureça nas pessoas. E nos privaremos disso se nos permitirmos ser moldados por essa cultura de distração.”
Quer estejamos sendo interrompidos por sinais sonoros externos de notificação, ou quer por desejos internos de distração, nossas mentes estão mudando. E isso leva para preocupações mais graves que Wells tem para com os jovens cristãos. “Estamos perdendo a capacidade de atenção, pela qual me refiro à capacidade de se concentrar em alguma coisa e pensar sobre ela. Se perdermos nossa capacidade de concentração, como poderia ser Deus o centro organizador de nossas vidas? Como poderemos nos tornar teocêntricos em nossos pensamentos, se todos eles se encontrarem fragmentados? E como vamos honrar a Deus em nossas vidas, se elas forem apenas pedaços de informação? Esse é o problema.”
E agora?
Estes são problemas graves e não são exclusivos para os cristãos. Mas para onde vamos a partir daqui? Como as Escrituras nos ajudam nessas preocupações? Como podemos proteger nosso tempo e atenção para nos concentrarmos no que é eternamente relevante? Hunt e Wells oferecem cinco tópicos para nos ajudar a sobreviver à vida na Tecnópolis.
1. Avalie os custos pessoais de um dispositivo juntamente com os seus benefícios (Hunt). “Primeiramente, eu penso que a Bíblia nos diz para andar prudentemente, com os olhos bem abertos. Até certo ponto, creio que devemos ser como os filhos de Issacar, homens que entendiam seus tempos (1 Crônicas 12:32). Vivemos em um mundo que está em constante mudança, nos dizendo que precisamos deste novo gadget e o que ele irá fazer para nós. Deveríamos perguntar: O que este novo gadget vai me fazer pessoalmente? E o que ele vai fazer para minha família, a minha comunidade, para o mundo?” Cada gadget vem com benefícios, mas cada gadget também vem com custos relacionais.
2. Seja o senhor da sua tecnologia, e não escravo dela (Hunt). Não seja um receptor passivo da tecnologia, mas use a tecnologia para alcançar os fins da sua vida. “Precisamos ser mestres de nossas tecnologias e não o contrário. O consumidor não deve ser consumido.”
3. Modere o seu uso (Hunt). Não somos monges. Separar-se completamente da tecnologia não é uma opção para nós. Assim, “devemos praticar a virtude da moderação, ou o que a Bíblia chama de autocontrole. Devemos aprender a remir o tempo porque os dias são maus (Efésios 5:16). O tempo é curto porque todos vamos morrer. Portanto, temos que fazer o melhor uso do nosso tempo.” E a nossa atenção é finita e limitada. Crie hábitos em sua vida que, estrategicamente, o afastem da tecnologia.
4. Aprimore sua habilidade de distinguir o importante do insignificante (Wells).“Temos que aprender a organizar o nosso mundo interno. Se não fizermos isso, não podemos distinguir as coisas que são realmente relevantes daquelas que são efêmeras, chamativas e superficiais; aquelas que são verdadeiras daquelas que são falsas; aqueles que realmente importam daquelas que podemos descartar. Esta capacidade é aquilo que a Bíblia coloca sob a linguagem de sabedoria. Poderíamos encarar a sabedoria hoje como esperteza, mas, na Bíblia, de fato, não é assim. É algo do coração, a capacidade de ver a vida como ela é, a partir de nosso conhecimento de Deus. O temor de Deus é o princípio da sabedoria, porque a partir dele vemos nossas vidas à luz da eternidade (Salmo 111:10; Provérbios 1:7; 9:10). Quando você vê a vida sob essa luz, ela parece bem diferente da forma como é vista na Internet.”
5. Discipline-se lendo livros (Wells). “Precisamos exercitar nossas mentes constantemente através da leitura, uma vez que esta nos capacita a compreender frases e seguir narrativas. Precisamos dessas habilidades para estudar as Escrituras. ”
Para a saúde da nossa alma, devemos aprender a ficar sozinhos sem distrações.
Somente em silêncio reflexivo podemos ordenar (ou re-ordenar) nossas vidas pela maior e mais relevante notícia do universo. Wells nos lembra que “A coisa mais profunda, maior e mais gloriosa que podemos saber é aquilo que Deus nos revelou de si mesmo, em seu amor e santidade”. “Todo o resto se desbota em insignificância. Se você se concentrar nas coisas que brilham apenas momentaneamente, no final de sua vida irá descobrir que suas mãos estão vazias.
Traduzido por Fernando Pasquini e revisado por Jonathan Silveira.
Confira o texto original aqui.
Tony Reinke é um dos escritores do ministério Desiring God e autor de três livros: “Lit! A Christian Guide to Reading Books (2011), “Newton on the Christian Life: To Live is Christ (2015) e “The Joy Project: A True Story of Inescapable Happiness (2015). É apresentador do podcast popular “Ask Pastor John” e vive nas Twin Cities com sua esposa e seus três filhos. Também escreve em seu blog tonyreinke.com.