Richard Dawkins atua oficialmente sob o título de Lente da Cátedra de Charles Simonyi e Professor de Compreensão Pública da Ciência na Universidade de Oxford. Extraoficialmente, ele talvez seja o ateu mais conhecido do mundo, em parte por seu best-seller Deus, Um Delírio, publicado em 2006. Com estas credenciais, é de se esperar que Dawkins responda ao título deste artigo com um grande “sim”, e ele não nos decepciona. Em 1999, durante um episódio do programa Soul of Britain, da rede de televisão britânica BBC, ele disse, com sua presunção de sempre: “Eu penso que a ciência realmente satisfez a necessidade para a qual a religião servia no passado, de explicar as coisas; por que estamos aqui, qual a origem da vida, de onde o mundo veio, qual o sentido da vida… A ciência tem todas as respostas.”
Se Dawkins estiver certo, então a religião se torna uma indulgência antiquada, e Deus, um mito irrelevante. Mas será que ele está certo? A maneira mais simples de responder a esta pergunta é testar cada uma de suas quatro afirmações para ver se possuem fundamento.
No contexto desta afirmação, “por que” pode ter dois sentidos: “Como chegamos aqui?” ou “Qual é a razão de estarmos aqui?”. Já que a última afirmação cobre o segundo sentido, vamos nos atentar ao primeiro – e Dawkins não tem nenhuma dúvida com relação à resposta: “É totalmente seguro dizer que, se você conhece alguém que diz não acreditar na evolução, esse alguém é burro, ignorante ou maluco (ou perverso, mas prefiro não considerar isso)”. Depois de despachar toda a oposição com uma só frase, ele defende a ideia de que o Homo Sapiens é o produto final e perfeito de uma vasta sequência de espécies estritamente relacionadas, começando com a primeira célula com vida e passando depois por invertebrados, peixes, anfíbios, répteis, aves, quadrúpedes com pelos e mamíferos simiescos.
Todos os ateus são evolucionistas, e esse é o cenário padrão para o modelo que promovem. Se eles estiverem certos, devemos esperar encontrar nosso planeta repleto de fósseis de todas as formas de vida intermediárias – mas eles simplesmente não existem. Ao escrever sobre elos evolucionários, Colin Patterson, paleontologista sênior do Museu Britânico de História Natural, diz: “Serei honesto: não existe nenhum fóssil pelo qual alguém faria uso de um argumento tão inequívoco”. Por outro lado, se Deus criou espécies totalmente formadas e separadas, devemos esperar encontrar os restos de incontáveis espécies totalmente formadas, todas sem ancestrais aparentes – e é exatamente isso que encontramos.
Nos primeiros capítulos de Gênesis, a narrativa da criação chega ao seu ápice com as seguintes palavras: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gn 1:27 – NVI), uma declaração que ressoa com tudo que sabemos sobre nossas propriedades únicas e assombrosas. Se a Encyclopædia Britannica tivesse chegado à Terra do espaço sideral, teria sido considerada como prova irrefutável de inteligência extraterrestre. Como o DNA humano contém muito mais informação organizada do que a Encyclopædia Britannica, podemos concordar, com toda convicção, com a afirmação de Arthur Compton, vencedor do prêmio Nobel: “Uma inteligência suprema trouxe o universo à existência e criou o homem”.
Usando o argumento que ele chama de “central” em Deus, um Delírio, Dawkins afirma que, mesmo que tantas coisas deem a impressão de terem sido projetadas, tal impressão é falsa, pois levanta uma questão que não possui resposta: Quem projetou o projetista? Duas coisas devem ser ditas como resposta. Primeira: onde está a prova científica de que a impressão de uma coisa ter sido projetada é falsa? Tal prova não existe – e negar o projeto antes de discutir a questão é o mesmo que declarar que milagres são impossíveis antes mesmo de descobrir se algum milagre já ocorreu. Pode-se esperar que esta abordagem ilógica venha de algum aluno em fase escolar, mas dificilmente de um estudioso de Oxford. Segunda: a ciência pode provar que o projetista precisa ter sido projetado, ou em outras palavras, que o Criador supremo precisa ter sido criado? Existe algum ramo da ciência que pode descartar definitivamente qualquer possibilidade de existir um ser sobrenatural que não foi criado por ninguém?
Como diz Ludwig Wittgenstein, o maior filósofo analítico do século XX, em seu monumental Tractatus: “A solução do enigma da vida no espaço e no tempo reside fora do espaço e do tempo”. Esta afirmação combina perfeitamente com os ensinamentos bíblicos de que Deus é “de eternidade a eternidade” (Sl 106:48 – Almeida atualizada) e com o testemunho unânime de que este Criador transcendente e eterno “a tudo dá vida” (1Tm 6:13 – NVI).
A origem do universo nos fascina como seres humanos desde que começamos a pensar no assunto, e os cientistas vêm criando um número infinito de teorias para explicar isto. Mesmo assim a ciência não consegue ir além do instante em que as leis da própria ciência passaram a valer. Como nota Edgar Andrews, professor emérito de materiais na Universidade de Londres: “A ciência, mesmo a mais especulativa, nunca chegou ao ponto de conseguir oferecer uma explicação, ou sequer uma descrição, para o verdadeiro instante da origem”.
Isso parece bem óbvio, mas mesmo assim existem ateus que tentam evitar esta questão de várias maneiras. Peter Atkins, ateu e professor de química em Oxford, afirma que todo o universo é “um rearranjo elaborado de nada” no qual “o espaço-tempo gera sua própria poeira no processo de auto-arranjo”. Os que apoiam essa ideia, formalmente conhecida como hipótese da flutuação quântica, tiveram seu mundo virado de cabeça para baixo na revista New Scientist: “Primeiro havia nada, então de repente há alguma coisa… e, antes de você perceber, eles tiram cem bilhões de galáxias dos seus chapéus quânticos”. Em Uma Breve História do Tempo, o renomado físico teórico Stephen Hawking, sem nenhum motivo religioso para rebater, apresenta uma abordagem bem mais sensata. Ao comentar sobre as chances de o universo e seus fatores incrivelmente complexos e perfeitamente ajustados passarem a existir por acaso, ele escreve: “Seria muito difícil explicar o motivo pelo qual o universo deve ter começado exatamente assim, exceto como ato de um deus que tencionava criar seres como nós”.
Não apenas Richard Dawkins despreza os relatos bíblicos, mas também os equipara ao mito hindu que diz que o mundo foi criado em uma batedeira de manteiga, e também à noção oeste-africana de que o mundo foi criado a partir do excremento de formigas, mas esse pensamento dificilmente pode ser qualificado como sério. C. S. Lewis chegou a uma conclusão bastante diferente: “Ainda não encontrei nenhuma teoria filosófica que fosse uma melhora radical das palavras de Gênesis, que ‘No princípio, criou Deus os céus e a terra'”. Afirmar que a ciência descarta isto é ignorância disfarçada de inteligência.
É curioso que Dawkins tenha afirmado isso, já que ele nega que a vida humana tenha qualquer propósito ao descrever que tal ideia é “uma ilusão quase que universal”. Em 1995, em uma edição do jornal London’s Observer, ele respondeu a uma pergunta sobre o propósito da vida, dizendo: “Bem, não há propósito, e perguntar qual é esse propósito é fazer uma pergunta tola. É o mesmo que perguntar ‘Que cor tem a inveja?'”.
Em outro lugar, ele afirma que a vida é “feita apenas de bytes e bytes de informação digital” e que seres humanos são “máquinas de sobrevivência – veículos robóticos cegamente programados para preservar as moléculas egoístas conhecidas como genes”, mas isto é desesperadamente inadequado. Tal afirmação não dá nenhuma explicação por que nós, como seres humanos, possuímos consciência, intelecto e um desejo insaciável de avaliar dados, desenvolver ideias, exercitar a imaginação e tomar decisões. Também não explica nosso senso único de dignidade, nossos gostos estéticos, nossa habilidade de compor e apreciar arte, música e literatura, nossa dimensão moral e nossos anseios espirituais. Como destaca o distinto pensador moderno Francis Schaeffer: “Ninguém ainda apresentou uma ideia, ou ao menos demonstrou que ela é possível, que explique como o impessoal, acrescido do tempo e do acaso, pode dar origem à personalidade”.
Sir John Eccles, vencedor do Prêmio Nobel de pesquisa cerebral, argumenta: “A ciência não consegue explicar a existência de cada um de nós como um ser único”. Até mesmo Steve Jones, ateu fervoroso e professor de genética na University College, em Londres, admite com franqueza: “A ciência não consegue responder à pergunta ‘Por que estamos aqui?'”. A Bíblia consegue – e o faz nas palavras daqueles que clamam a Deus: “Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas, e por Tua vontade elas existem e foram criadas” (Ap 4:11 – NVI).
A ciência é a busca constante pela verdade no mundo natural, e nós nos regozijamos, com razão, com os incontáveis benefícios que a ciência e a tecnologia trouxeram às nossas vidas. Ir além disso e afirmar que a ciência se livrou de Deus é promover a fantasia do século XIX ao status de fato do século XXI.
Traduzido por Filipe Espósito e revisado por Maria Gabriela Pileggi.
Texto original: Has Science Got Rid of God? Ligonier Ministries.
John Blanchard é pregador, professor e apologista. Vive em Banstead, Inglaterra, e é autor do livro 'Whatever Happened to Hell?'. |