Li sobre este argumento no fórum de ReasonableFaith.org e estou curioso para saber como você responderia. Em minha opinião, não é um argumento muito convincente. Mas aqui está:
Suponho que a maioria dos cristãos aceite a premissa (1) — sei que William Lane Craig aceita. Por isso, para negar a conclusão, os cristãos precisam rejeitar a premissa (2), mas (2) é evidentemente óbvia para alguém que sinceramente deu uma chance ao cristianismo, mas não está convencido da existência de Deus. Para mim, a verdade da premissa (2) é muito mais plausível do que sua negação: se a premissa (2) fosse falsa, então teria de ser verdade que toda pessoa que alega ter sinceramente buscado a Deus, mas não ter conseguido encontrá-lo, deve estar mentindo, ou para outros ou para si mesmo.
Os cristãos realmente acreditam nisso?
Como era de se esperar, a maioria dos que resistem ao argumento afirma que a premissa (2) é falsa, o que eu acho extraordinário. Para sustentar que a premissa (2) é falsa, seria preciso acreditar que todo não cristão está mentindo, ou sobre a existência de Deus ser evidente, ou sobre ser sincero. Compare a premissa (2) com o seguinte:
E assim por diante.
A maioria de nós não duvidaria dessas afirmações, uma vez que geralmente confiamos na palavra das pessoas sobre o que elas acreditam. Por que, então, não deveríamos de modo geral confiar na palavra de não cristãos que afirmam que sinceramente buscaram encontrar a Deus? Sem uma resposta adequada a essa pergunta, os que rejeitam a premissa (2) são apenas culpados de cometer uma falácia da exceção.
Desculpe se é um pouco extenso. Espero ouvir o que você pensa.
Sinceramente.
Tapji
Canadá
Acredito que a existência de Deus, isto é, a existência do Deus descrito na Bíblia, é ou se tornará evidente nesta vida para quem sinceramente o buscar. Agora, por “evidente”, não quero dizer óbvia ou certa. Quero dizer que aquele que busca sinceramente chegará à fé redentora em Deus; sua busca será bem-sucedida; ele não só chegará à crença de que Deus existe, mas chegará ao conhecimento de Deus.
Por que acredito em algo assim? Bem, primeiramente porque isso é o que Jesus ensinou, e eu tenho boas razões para acreditar que Jesus é a revelação de Deus para a humanidade e, portanto, digno de crédito no que ensinou. Você pode encontrar minhas razões para pensar assim em Reasonable faith.[1] Quanto aos ensinamentos de Jesus, considere esta declaração de seu Sermão do Monte:
Peçam e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Porque todo o que pede, recebe; e o que busca, encontra; e ao que bate, a porta lhe será aberta (Mt 7.7,8).
Por “buscar”, Jesus obviamente não se referia a uma investigação meramente intelectual, mas a uma busca genuína da alma, uma busca espiritual em humildade e com o coração contrito. Esse ensinamento condiz bem com a vontade salvífica universal de Deus (1Tm 2.3,4; 2Pe 3.9).
É claro, a providência de Deus na vida de cada pessoa se desenrola ao longo do tempo. A existência de Deus pode não ser evidente a alguém em certas fases de sua vida, mas pode se tornar evidente quando e pelos meios que Deus escolher. Se uma pessoa estiver realmente buscando a Deus, ela persistirá em sua busca e, finalmente, encontrará Deus.
Assim, eu substituiria a premissa (1) por
1′. Se Deus existe, então sua existência se tornará evidente para qualquer pessoa que buscar sinceramente a Deus.
Então, para aqueles que dizem: “Eu sinceramente busquei a Deus e não o encontrei”, digo: “Não desista! Continue buscando, e você encontrará Deus”.
Se temos, como penso que temos, boas razões para acreditar que Jesus era quem dizia ser, então temos boas razões para acreditar que aquilo que ele ensinou é verdade. Portanto, que invalidador ou anulador é apresentado pelo detrator dessa doutrina?
É a alegação de que
2. A existência de Deus não é evidente para todos que buscam sinceramente a Deus.
Mas a premissa (2), mesmo se for verdade, não é incompatível com a premissa (1′). A partir de (1′) segue apenas que a existência de Deus se tornará evidente para aquele que busca sinceramente a Deus. É claro que a premissa (2) ajusta-se facilmente à alegação de que
2′. A existência de Deus nunca se torna evidente para algumas pessoas que buscam sinceramente a Deus.
Mas por que deveríamos pensar que a premissa (2′) é verdadeira? Como sabemos disso? É inegável que é inadequado dizer que a premissa (2′) “é evidentemente óbvia para qualquer pessoa que sinceramente deu uma chance ao cristianismo, mas não está convencida da existência de Deus”. Pois talvez sua falta de persistência seja uma indicação de que sua busca não foi tão séria quanto ela imagina (ela deu ao cristianismo “uma chance”?) ou talvez essa pessoa ainda irá encontrar Deus.
Para consolidar a premissa (2′), parece que teríamos de recorrer a casos de pessoas que buscaram a Deus com sinceridade, mas no fim da vida não conseguiram chegar à fé em Deus. O problema com tal argumento, porém, é que nós simplesmente não estamos em posição de olhar para dentro do coração humano e julgar a sinceridade de uma pessoa a esse respeito. Isso exigiria uma espécie de discernimento psicológico que não está disponível para nós. Só Deus é capaz de fazer o cardiograma espiritual necessário para responder a essa pergunta.
Sua “edição” tenta apoiar a premissa (2′), dizendo que “nós geralmente confiamos na palavra das pessoas sobre o que elas acreditam. Por que, então, não deveríamos em geral confiar na palavra de não cristãos que afirmam que sinceramente buscaram encontrar Deus?”. Já respondi a essa pergunta: se uma pessoa persistir na incredulidade até sua morte, então as evidências da identidade de Jesus e da verdade de suas alegações nos dão razão para pensar que aquela pessoa não era tão sincera quanto ela mesma imaginava ser.
Observe que, ao dizer isso, não estamos presumindo que temos a espécie de discernimento psicológico que o ateu afirma ter. Observe também que essa resposta não equivale a dizer que “todo não cristão [que persistir até a morte na incredulidade] está mentindo, ou sobre a existência de Deus ser evidente ou sobre ser sincero”. Em vez disso, tal pessoa pode estar se iludindo. Ela imagina ser sincera e séria na sua busca de Deus, quando, na verdade, pode não ser.
Há uma quantidade considerável de literatura sobre a incrível capacidade humana para racionalização e autoengano que é relevante em relação a este tema. Todos nós enxergamos os famosos pontos cegos dos outros; mas é claro que não enxergamos os nossos próprios. Orgulho, o desejo de estar certo e o anseio pela própria autonomia, tudo conspira para subverter a nossa tão alardeada sinceridade. Não é em absoluto implausível que aqueles que persistem na incredulidade até sua morte não tenham realmente buscado a Deus.[2]
Quanto aos outros quatro exemplos de outras coisas cuja existência não é evidente para todos que as buscam sinceramente, os dois últimos são simplesmente absurdos, e temos todas as razões para pensar que a existência do Pé-grande e Papai Noel não devem ser autoevidentes. Em contrapartida, os dois primeiros exemplos, especialmente o primeiro, merecem ser levados muito a sério. Um muçulmano pode muito bem alegar que Alá irá tornar sua existência evidente para qualquer um que sinceramente o buscar. Não creio que essa afirmação seja de modo algum improvável, assumindo que Alá exista. O problema é que temos boas razões para pensar que o Deus descrito no Alcorão não existe. E temos boas razões para pensar que o Deus revelado por Jesus de Nazaré existe. Assim, em contraste com os quatro exemplos, temos boas razões para acreditar que a premissa (1′) é verdadeira e, comparativamente, não temos boas razões para pensar que as alegações oferecidas em favor de Alá, Brahma, Pé-grande ou Papai Noel sejam verdadeiras.
Bem, reconheço que dizer essas coisas faz com que ateus fiquem furiosos! Mas isso não é argumento, e eles precisam se perguntar com franqueza se sua raiva e indignação diante da maravilhosa promessa de Jesus de que todos os que sinceramente buscam a Deus irão encontrá-lo pode não ser uma indicação de onde exatamente seus corações de fato estão em relação a Deus.
_____________________
[1] William Lane Craig, Reasonable faith: Christian truth and apologetics (Wheaton: Crossway, 2008) [edição em português: Apologética contemporânea: a veracidade da fé cristã, 2. ed. ampl. atual., tradução de A. G. Mendes; Hans Udo Fuchs; Valdemar Kroker (São Paulo: Vida Nova, 2012)].
[2] Os leitores podem se interessar pelos seguintes títulos: Gregg A. Ten Elshof, I told me so: self-deception and the Christian life (Grand Rapids: Eerdmans, 2009); James S. Spiegel, The making of an atheist: how immorality leads to unbelief (Chigago: Moody, 2010); James R. Peters, The logic of the heart: Augustine, Pascal, and the rationality of faith (Grand Rapids: Baker, 2009); Patrick Downey, Desperately wicked: philosophy, Christianity and the human heart (Downers Grove: InterVarsity, 2009).
Trecho extraído da obra “A Razão da Nossa Fé. Respostas a Perguntas Difíceis sobre Deus, o Cristianismo e a Bíblia“, de William Lane Craig e Joseph E. Gorra, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2018, pp. 147-152. Traduzido por Danny Charão, Vitor Grando, Yago Martins, Lucas Maria, Eliel Vieira, Wagner Kaba e Felipe Miguel. Publicado no site Tuporém com permissão.
William Lane Craig é doutor em filosofia pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, e em teologia pela Universidade de Munique, na Alemanha. Atualmente é professor de filosofia da Universidade Biola, na Califórnia. É conferencista internacional e autor de dezenas de artigos e livros no campo da filosofia e da apologética. Em parceria com J. P. Moreland, escreveu a monumental Filosofia e cosmovisão cristã, além das obras Apologética para questões difíceis da vida, Em guarda e Apologética contemporânea, publicadas por Vida Nova. |
Os seguidores de Jesus não precisam ficar amedrontados com perguntas difíceis ou mesmo objeções contra a fé cristã. Em 'A razão da nossa fé', o renomado filósofo e apologista William Lane Craig oferece dezenas de exemplos de como tratar alguns dos desafios mais comuns ao pensamento cristão. Partindo de perguntas enviadas para o seu famoso website ReasonableFaith.org, o dr. Craig mostra a grande habilidade que tem de interagir com seus inquiridores de forma equilibrada, técnica e fundamentada nas Escrituras. A razão da nossa fé não se limita a apenas tratar de apologética; ela mostra como se faz apologética. Em coautoria com Joseph E. Gorra, esse livro também oferece conselhos para conceber e praticar um ministério de respostas às perguntas que nos são feitas em igrejas locais, nas situações de trabalho e em ambientes virtuais, na Internet. Se você está lutando para responder a perguntas difíceis ou está buscando respostas para seus próprios questionamentos intelectuais, A razão da nossa fé vai muni-lo de argumentos sólidos e da verdade escriturística. Publicado por Vida Nova. |