O prodigioso Ross Douthat, contrariando o New York Times, pensa em voz alta: O cristianismo liberal pode ser salvo? Contra um pano de fundo de colapso de membresia na Igreja Episcopal.
Os grupos cristãos mais bem-sucedidos têm sido politicamente conservadores, mas teologicamente superficiais, pregando um evangelho da prosperidade ao invés de pregar a mensagem completa do Novo Testamento.
Porém, se o cristianismo conservador tem sido frequentemente comprometido, o cristianismo liberal tem simplesmente fracassado. Praticamente todas as denominações – Metodista, Luterana, Presbiteriana – que tentaram se adaptar aos valores liberais contemporâneos têm visto a queda repentina de frequência dos membros na igreja ao estilo episcopal. Dentro da Igreja Católica, igualmente, as ordens religiosas com mente mais progressiva tem frequentemente falhado em gerar as vocações necessárias para sustentar a si mesmas.
Tanto liberais religiosos quanto seculares têm sido relutantes em reconhecer essa crise. Líderes das igrejas liberais têm alternado entre o estilo Monty Python, dizendo “é apenas um arranhão!” e uma estranha autojustificação a respeito de sua extinção iminente. (Em uma entrevista em 2006, o Bispo presidente da Igreja Episcopal explicou que os membros de sua comunhão valorizavam demais “o cuidado com a Terra” para eles reproduzirem.)
A guru cristã progressista Diana Butler Bass faz uma pergunta diferente: O cristianismo pode ser salvo? Uma resposta a Ross Douthat. Bass chama atenção para o fato de que igrejas liberais não são as únicas denominações em declínio, apontando para a Convenção Batista do Sul, o Sínodo Luterano do Missouri e a Igreja Católica Romana – sendo que os dois primeiros perderam membros nos últimos anos e o terceiro mantém seus números apenas devido à maciça imigração de hispanos. Bass acredita que as igrejas liberais podem ter chegado primeiro a esse ponto, mas as igrejas conservadoras não estão muito atrás. Contudo, apesar dos números desencorajadores, ela acredita existir vitalidade nas igrejas liberais.
Inesperadamente, o Cristianismo Liberal está – ao menos em algumas congregações – experimentando uma renovação. Isso acontece por meio de um movimento popular que está brotando em igrejas locais, impulsionado pelo trabalho duro de bons pastores e teólogos praticamente desconhecidos da cultura geral. Algumas congregações locais estão crescendo, tendo se reengajado seriamente com as práticas da reflexão teológica, hospitalidade, oração, adoração, justiça social e formação cristã. Um estudo recente do Instituto Hartford de Pesquisa Religiosa descobriu que as congregações liberais realmente demonstram níveis mais altos de vitalidade espiritual do que as conservadoras, notando que essas descobertas eram “contraintuitivas” à narrativa comum da vida da igreja Americana.
Há mais do que uma pequena ironia histórica nisto. Uma renovação silenciosa está acontecendo, mas as estruturas denominacionais ainda precisam ajustar suas instituições à recuperação da sabedoria prática que está reconstruindo congregações locais. A mídia continua a focar em grandes pastores e igrejas grandes tendo adeptos conservadores como o ponto central da religião Americana, ignorando a paixão e bondade da antiga tradição liberal que novamente está encontrando ímpeto. No entanto, a história aceita do crescimento conservador e declínio liberal é uma lenda do século vinte, contrária ao que dizem os levantamentos, dados e melhores pesquisas sobre o que está acontecendo agora.
Um foco quanto à estatística de membros, certamente, não é totalmente fora de ordem, assim como um edifício cronicamente vazio com janelas de vitrais dificilmente pode ser chamado de igreja. No entanto, um populismo eclesiástico que simplesmente cede à uma massa dificilmente faz a vida da igreja ser satisfatória. Parece-me que tanto igrejas conservadoras quanto liberais são apanhadas em jogos semelhantes, mesmo que suas estratégias sejam bem diferentes.
Igrejas conservadoras geralmente mantém a pureza da mensagem do evangelho, isto é, o foco na pessoa e obra de Jesus Cristo, melhor do que igrejas liberais, mas elas rejeitam muito facilmente os credos históricos, as confissões e liturgias que têm moldado a igreja através dos séculos. A igreja em si mesma não é mais uma instituição autoritativa, portando as chaves do Reino; é apenas uma reunião de indivíduos que espiritualmente pensam de modo idêntico e que preferem cultuar de certo modo – um modo que, não por acaso, imita muito da cultura popular contemporânea. Litur-tretenimento, se você preferir. A adoração em si mesma difere de acordo com a oferta de mercado, com cultos tradicionais, contemporâneos e mistos servidos em um buffet de variedades de sabores no que poderia ser chamado de miscelânea eclesiástica.
Igrejas liberais tendem a abusar de chavões como “inclusivo”, “aberto”, “afirmar” e “seguro”, minimizando distintivos confessionais e grande parte do conteúdo da própria mensagem do evangelho resumida nos Credos Apostólico e Niceno. Perdeu-se, em grande parte, o chamado a se arrepender e a viver um estilo de vida biblicamente obediente – além, é claro, de se votar em favor de causas politicamente corretas. Em vez disso, liberais implausivelmente sustentam uma visão para ocupar a “linha principal” do protestantismo, embora sua versão da fé seja cada vez mais distante da tradição histórica da fé cristã em si, como J. Grescham Machen já observou há quase um século. Em outras palavras, a compreensão do que constitui a linha principal é historicamente rasa e baseada na primazia da experiência subjetiva e de preferências do que na revelação bíblica. Jesus Cristo pode ser demonstrado, mas muito mais como um exemplo ético do que como o real Redentor do pecado e da morte.
Até aqui, a abordagem liberal conseguiu esvaziar os bancos das igrejas, apesar da retórica de inclusivismo. Como se constata, uma igreja cuja mensagem é indistinguível da cultura geral e que se abstém do chamado ao arrependimento e à conversão, rapidamente se vê tornar redundante. Por que se incomodar em levantar cedo no domingo por causa deste mingau espiritual ralo? Bass pode estar correta em notar a presença de vitalidade em algumas congregações liberais. Mas mera vivacidade pode ser encontrada em uma variedade de ambientes, incluindo ambientes de trabalho e clubes de jardinagem. Não é um argumento para igreja como tal.
A abordagem “conservadora” atualmente pode estar ganhando mais pessoas, mas um panorama em longo prazo permanece duvidoso. Muitas das mais bem-sucedidas megaigrejas hoje são herdeiras do reavivamento das “novas medidas” do século 19, de Charles Finney, que colocou ênfase no uso de técnicas engenhosas (incluindo o conhecido banco dos ansiosos) para induzir um grande número de “conversões”. Se a análise de Michael Horton está correta, Finney parece ter sustentado a expiação de Cristo como exemplo moral. Os “conservadores” podem estar de pé, inconscientemente, no mesmo terreno instável que está falhando em apoiar os liberais.
E se a igreja subordinasse suas preocupações relacionadas a números, orçamentos e causas sociais e políticas ao imperativo primário da fidelidade bíblica? E se ela estabelecesse sua preocupação quanto a trazer convertidos dentro do contexto mais amplo do chamado para viver uma nova vida no poder do Espírito Santo? A igreja pode ser menor ou maior do que é hoje. Os seus membros não ignorariam questões sociais e políticas; na verdade, eles podem aumentar seu envolvimento com tais questões. Mas eles fariam isso de uma forma que reconhece a clara autoridade da palavra escrita de Deus em todos os aspectos da vida. Eles estariam buscando não apenas o esforço moral pessoal, nem justiça social como compreendida em um senso estritamente ideológico. Ao invés disso, eles buscariam avançar o reino em toda sua plenitude através de uma resoluta fidelidade para com a causa de Cristo, que consiste em uma orientação apropriada quanto ao, atrevo a dizer, “convertido” – trabalho, lazer, liturgia e vida.
Traduzido por Tiago Alexandre da Silva e revisado por Jonathan Silveira.
Texto original: Collapse or Vitality: Liberal Versus Conservative Christianity. First Things.
David T. Koyzis é doutor em Filosofia pela Universidade de Notre Dame e atualmente é professor de Ciência Política na Redeemer University College, em Ancaster, Ontário, onde leciona desde 1987. Em 2004, sua obra Visões e ilusões políticas, publicada por Edições Vida Nova, foi premiada em primeiro lugar na categoria não ficção/cultura pela The Word Guild Canadian Writing Awards. |
Neste estudo abrangente e atualizado, o cientista político David Koyzis examina as principais ideologias políticas de nosso tempo, a saber, o liberalismo, o conservadorismo, o nacionalismo, o democratismo e o socialismo. Koyzis faz tanto uma análise filosófica quanto uma crítica honesta a cada ideologia, revelando os problemas de cosmovisão inerentes a cada uma delas, destacando seus pontos fortes e fracos. Além disso, ele oferece modelos alternativos que são fruto do engajamento histórico de cristãos na arena pública ao longo dos tempos. Escrito sob uma perspectiva bastante ampla e analítica, Visões e ilusões políticas reafirma, em sua segunda edição ampliada e atualizada, o compromisso de ser um guia útil e sensível, sobretudo para aqueles que atuam na esfera pública, analistas culturais, eruditos, cientistas políticos, enfim, todos os que se interessam pelo pensamento político. Publicado por Vida Nova. |
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A Igreja Metodista Bíblica esta disposta em receber todos os seus Membros expulsos por não concordarem com o liberalismo e o neo pentecostalismo, e conclama a abertura da Igreja Metodista Biblica em seu Municipio maiores informações 66-999382247 http://metodistabiblica.wigreja.com/artigos