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Jonathan Edwards (1703-1758)

O fardo do ministério pastoral estava corroendo a minha alegria. Sentia-me mais exausto do que nunca devido às demandas de liderança. Eu precisava lutar pela alegria no ministério mais do que nunca. Aqui estava eu pesquisando sobre a vida de Jonathan Edwards e sua teologia da alegria — tudo isso enquanto travava uma batalha para proteger minha própria alegria do que parecia ser um desvanecimento gradual.

Mais uma vez eu vi como o mandamento para se alegrar não é apenas um chamado geral, mas também um chamado vocacional para aqueles que estão no ministério pastoral. Eu devo pastorear o rebanho com alegria, ou não lhes serei útil (Hb 13.17). Na verdade, se eu não tiver alegria, meu ministério não será bíblico — e sustentável — porque “a alegria do Senhor é a vossa força” (Ne 8.10).

Não vou durar muito tempo nessa maratona do ministério sem a força que vem da alegria em Jesus.

A citação

Enquanto fazia um estudo sobre como a teologia da alegria de Jonathan Edwards o capacitava a ministrar com alegria, mesmo em meio a tribulações, deparei-me com uma citação que mudou minha vida. Vamos voltar talvez ao momento mais baixo da vida pastoral de Edwards: quando sua igreja o demitiu como pastor. David Hall era membro do conselho que se reuniu para determinar o destino de Edwards na controvérsia da Ceia. Este foi o depoimento de Hall:

“[Edwards] recebeu a notícia de maneira inabalável. Nunca vi o menor sinal de desagrado em seu semblante durante toda a semana, mas ele parecia como um homem de Deus, cuja felicidade estava fora do alcance de seus inimigos e cujo tesouro não era apenas um bem futuro, mas um bem presente, superando todos os males imagináveis da vida, até mesmo para o espanto de muitos que não poderiam ficar em paz sem sua demissão.” (Jonathan Edwards: A New Biography, 327)

Quando li a frase, “cuja felicidade estava fora do alcance de seus inimigos”, literalmente tive que sentar e erguer minhas palmas em uma postura de súplica a Deus para receber isso. Tudo em mim coletivamente disse: “Eu quero isso, Senhor. Por favor, me ensine isso, Senhor!” Essa citação se tornou uma busca.

A busca

A teologia da alegria de Edwards o sustentou no ministério porque ele colocou a alegria no centro de seu ministério. É o fio que perpassa toda a sua teologia.

Os dois primeiros elementos essenciais de sua teologia da alegria são os mais abrangentes, mas também os mais familiares para mim por causa da influência de John Piper. Edwards enfatizou que Deus não pode ser Deus sem se deleitar em si mesmo, e que os pecadores redimidos não podem glorificar a Deus sem se deleitarem nele. Essas verdades gêmeas são resumidas de forma adequada no ensaio de Piper sobre o legado de Edwards, “A God Entranced Vision of All Things: Why We Need Jonathan Edwards 300 Years Later”, em seu livro, “A God Entranced Vision of All Things”. Citarei Edwards e compartilharei as reflexões de Piper sobre o efeito dessas verdades.

1. A natureza divina de Deus

A alegria faz parte da natureza divina de Deus. Em outras palavras, Deus não seria Deus sem a alegria infinita que ele tem em suas perfeições infinitas. Ele deve se deleitar infinitamente no que é infinitamente deleitável. Ele deve valorizar supremamente aquilo que é supremamente valioso. Deus não seria sábio se deixasse de se deleitar em si mesmo dessa maneira. Ele não seria santo e justo. Ele seria injusto e se tornaria um tolo caído e idólatra que efetivamente trocou a glória de Deus por coisas criadas (Rm 1.22–23).

Mas Edwards foi ainda mais longe e mais fundo em seu ensaio sobre a Trindade:

“O Pai é a divindade subsistindo de forma principal, não originada e mais absoluta, ou a divindade em sua existência direta. O Filho é a divindade [eternamente] gerada pela compreensão de Deus, ou tendo uma ideia de Si mesmo e subsistindo nessa ideia. O Espírito Santo é a divindade subsistindo em ação, ou a essência divina fluindo para fora e sendo exalada no amor infinito de Deus por e no deleite em Si mesmo. E . . . toda a essência divina realmente subsiste tanto na ideia divina quanto no amor divino, e que cada um deles são pessoas propriamente distintas.” (“A Treatise on Grace”, 118)

Eu amo o que Piper diz sobre este aspecto da teologia da alegria de Edwards:

“Não há como elevar a alegria a um patamar mais alto no universo do que isso. Nada maior pode ser dito sobre a alegria do que dizer que uma das Pessoas da Divindade subsiste no ato do deleite de Deus em Deus — que alegria suprema e infinita é a Pessoa do Espírito Santo.” (“A God Entranced Vision of All Things”, 25)

Portanto, Edwards tornou a alegria um aspecto inegociável da natureza de Deus. Explorar completamente essa verdade leva a uma reflexão mais profunda sobre o que está no cerne da glorificação de Deus.

2. Como glorificamos a Deus

Piper afirma que o parágrafo a seguir é pessoalmente “o parágrafo mais influente de todos os escritos de Edwards” (“A God Entranced Vision of All Things”, 25):

“Deus é glorificado em Si mesmo de duas maneiras: 1. Ao se manifestar . . . para Si mesmo em Sua própria ideia perfeita [de Si mesmo], ou em Seu Filho, que é o resplendor de Sua glória. 2. Ao desfrutar e se deleitar em Si mesmo, fluindo em um deleite infinito em direção a Si mesmo, ou em Seu Espírito Santo . . . Assim, Deus também se glorifica em relação às suas criaturas de duas maneiras: 1. Ao se manifestar à compreensão delas. 2. Ao se comunicar a seus corações, e ao se alegrarem, deleitarem e desfrutarem das manifestações que ele faz de si mesmo . . . Deus é glorificado não apenas quando Sua glória é vista, mas quando dela se alegram. Quando aqueles que a veem se deleitam nela, Deus é mais glorificado do que se apenas a vissem. Sua glória é então recebida pela alma como um todo, tanto pela compreensão quanto pelo coração. Deus fez o mundo para que Ele pudesse comunicar Sua glória, e a criatura recebê-la, tanto pela mente quanto pelo coração. Aquele que testifica sua ideia da glória de Deus não glorifica tanto a Deus quanto aquele que também testifica sua aprovação dela e seu deleite nela.” (“A God Entranced Vision of All Things”, 26)

O efeito deste parágrafo foi transformador, pois a alegria passou de periférica para central no pensamento de Piper:

“A alegria sempre me pareceu periférica até eu ler Jonathan Edwards. Ele simplesmente transformou meu universo ao colocar a alegria no centro do que significa Deus ser Deus e do que significa nós existirmos para a glória de Deus” (“A God Entranced Vision of All Things”, 24).

3. O tecido da teologia da alegria de Edwards

Leia também  Resenha: "Pecado Original" de Jonathan Edwards | Gedimar Junior

Essas duas ideias me afetaram profundamente, mas foram apenas o começo. Ao ler mais sobre Edwards, muitas vezes eu ficava completamente pasmo com o quão intrincada, interconectada e inter-relacionada essa teologia da alegria realmente era. Praticamente toda doutrina que Edwards abordava assumia o brilho ardente e luminoso da alegria em Deus.

Edwards não podia conceber uma doutrina da salvação à parte da alegria. Uma salvação sem alegria é uma contradição em termos. Ele enfatizava que a alegria em Cristo, pelo poder do Espírito, marca cada parte da salvação, desde a conversão até a santificação e a glorificação.

Edwards mal conseguia expor a doutrina da revelação sem exultar na festa de ver Deus em sua Palavra e em seu mundo. Ele insistia que meditar sobre as excelências da autorrevelação de Deus tem um efeito expansivo em nossas almas. Não devemos impor limites aos nossos apetites espirituais. À medida que vemos a beleza divina e provamos a doçura divina, nossas afeições devem se elevar de acordo com o valor infinito dessas coisas.

Edwards não conseguia conceber uma filosofia da pregação e do ministério pastoral que pudesse de alguma forma ser separada das alegres afeições de seus ouvintes. Ouça como ele pensava sobre seu dever pastoral no ministério:

“Eu consideraria estar cumprindo meu dever ao elevar as afeições dos meus ouvintes o mais alto possível, desde que sejam afetados apenas pela verdade e por afeições que não sejam contrárias à natureza daquilo que os afeta. (“The Works of Jonathan Edwards”, 4:387)

Isso me ajudou a aprimorar minha própria preparação para pregar. Nosso objetivo na preparação do sermão deve ser elevar nossas próprias afeições o mais alto possível, com afeições que se encaixem com a natureza da verdade que proclamamos — caso contrário, agiremos de maneira hipócrita, estabelecendo um objetivo para nossos ouvintes que não temos para nós mesmos.

Edwards não poderia sonhar com uma doutrina do céu à parte da alegria. De fato, o céu é o convite para “entrar na alegria do teu Senhor” (Mt 25.21). O céu é um mundo de alegria — não apenas um mundo onde você entra e tem alegria por Deus, mas onde você entra na própria alegria de Deus.

Mas eis a pergunta que eu continuava fazendo: Esses fios são fortes o suficiente quando são tecidos juntos dessa maneira? Ou essa alegria se desfaz nas costuras quando alguém se sente desgastado pelas adversidades?

Alegria mesmo nos dias mais sombrios

Edwards tinha muito a dizer sobre como processar as adversidades. Uma das passagens mais emocionantes para mim foi uma carta que Edwards escreveu ao Rev. Benjamin Coleman. Coleman era um pastor em Boston que havia acabado de sofrer a perda de sua filha, a doença prolongada de sua esposa que resultou em sua incapacitação, e a morte recente de seu pastor auxiliar. Não leia esses fatos com uma imaginação estéril. Tentei compreender o que faria se minha querida filha morresse, minha bela esposa ficasse completamente incapacitada, ou meu amado pastor associado falecesse repentinamente. Como eu agiria? O que seria da minha alegria? Eis o que Edwards diria a nós:

“Assim, quando você é privado da companhia de seus amigos temporais, pode ter a doce comunhão do Senhor Jesus Cristo de forma mais abundante, e como Deus tem escurecido gradualmente o mundo para você, apagando cada uma de suas luzes, ele fará com que a luz de sua glória eterna brilhe cada vez mais dentro de você.” (“Edwards on the Christian Life”, 118)

Algo fez sentido naquele momento quando conectei a teologia de Edwards sobre o sofrimento a outra citação que li muitas vezes antes:

“O deleite de Deus é a única felicidade com a qual nossas almas podem ser satisfeitas. Ir para o céu, para desfrutar plenamente de Deus, é infinitamente melhor do que as acomodações mais agradáveis aqui. Pais e mães, maridos, esposas ou filhos, ou a companhia de amigos terrenos, são apenas sombras; mas Deus é a substância. Estes são apenas raios dispersos, mas Deus é o sol. Estes são apenas riachos, mas Deus é o oceano.” (“The Works of Jonathan Edwards”, 17:437–438)

Por que nossa alegria pode ser verdadeiramente intocável e estar fora do alcance das adversidades? Podemos perder os riachos de alegria, mas nunca a fonte. Os raios dispersos de alegria podem parar de brilhar, mas nunca o sol da própria alegria. Quando os raios dispersos se forem, vamos lamentar, mas não como aqueles que perderam o sol. Quando os adoráveis riachos secarem, vamos lamentar, mas não como aqueles que perderam o oceano. A alegria é intocável porque sua fonte é inseparável. Nada em toda a criação pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.39).

Texto original: How Jonathan Edwards Helped Save My Ministry. The Gospel Coalition.

Conheça as obras de Jonathan Edwards, clicando aqui.

Jason C. Meyer (PhD, Southern Baptist Theological Seminary) é o pastor de pregação e liderança na igreja Bethlehem Baptist Church e professor adjunto de Novo Testamento no Bethlehem College and Seminary, em Mineápolis. Antes de chegar à Bethlehem, serviu como capelão e professor assistente de Estudos Cristãos na Louisiana College. Meyer é casado com Cara, com quem tem quatro filhos e é o autor do comentário de Filipenses da série ESV Expository Commentary.
O pastor abre o sermão com uma piada, mistura uma série de versículos desconexos com historietas bem construídas e depois conclui com uma citação inspiradora de algum autor famoso. Contudo, será esse o tipo de pregação que mais glorifica a Deus, honra a Palavra e edifica seu povo?

Em "Teologia bíblica da pregação", o pastor Jason Meyer examina o precedente bíblico da pregação encontrado no Antigo e no Novo Testamento. Com base nesse exame, oferece orientações práticas para a pregação expositiva nos dias de hoje e para isso responde às seguintes perguntas a respeito da pregação: “O quê?”, “Como?” e “Por quê?”.

Considerada a melhor e mais abrangente obra de teologia bíblica sobre o tema, esse livro o ajudará a identificar uma boa pregação e a adotá-la como meio para que as pessoas tenham um encontro com o Deus vivo e sejam transformadas por ele.

Publicado por Vida Nova.

1 Comments

  1. Teologia e outras coisas disse:

    Belíssimo artigo. Um dos melhores que li aqui.

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