Crentes não pensam por si próprios | Fábio Mendes

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Tenho escutado muitas pessoas falarem que “crentes não pensam por si próprios”. O que isso realmente significa? Embora eu duvide que muitos saibam do que estão falando quando dizem isso, vou me aventurar a decifrar um significado.

Vamos começar pelo que eu NÃO acho que significa. Eu não creio que pensar por si próprio signifique “criar suas próprias ideias”. Existem dois problemas com essa abordagem.

O primeiro problema é que existem MUITAS ideias por aí. E improvável que sua ideia seja original, embora isso seja possível.

O segundo problema lida com o dilema que uma pessoa pode ter quando a ideia é correta, mas não se originou dela. Você ouve um argumento; e um bom argumento e você concorda com ele. Isso significaria que você não está pensando por si próprio? Isso significaria que você precisa inventar a sua própria ideia, embora concorde com uma ideia já existente? Isso seria ridículo. Nesse caso, você estaria mais interessado em inventar novas ideias em vez de buscar a verdade. Além do mais, sua vida se tornaria mais difícil à medida que mais pessoas vivam e consumam as ideias do “repositório” de ideias possíveis. Isso não é lógico. Desta forma, pensar por si próprio não pode significar inventar suas próprias ideias. Então descartemos essa opção.

Outra possível explicação é que, pensar por si próprio, significa chegar às suas próprias conclusões. Significa analisar, investigar. Significa que você conhece a conclusão e pode articulá-la para alguém. Essa explicação é melhor do que a mencionada acima. Esta permite que você “copie” ou concorde com a ideia de outro, desde que você chegue à conclusão por si próprio. E, acima de tudo, você pode articular a ideia POR SI PRÓPRIO como se fosse sua. Seria essa uma definição justa?

Vamos aplicar essa segunda explicação para à alegação de que crentes não pensam por si próprios e ver como funciona. É correto dizer que crentes tomam uma ideia de dois mil anos atrás e NÃO incorporam como sendo suas? Isso seria a conclusão lógica a partir da definição. Não necessariamente. Crentes, SIM, incorporam ideias como se fossem deles. É por esse motivo que usamos o termo “aceitar a Cristo”. Nos concordamos, nós fazemos a ideia nossa, nós a aceitamos. A partir da segunda explicação, crentes PENSAM por si próprios. No entanto, eu vou concordar que alguns crentes não são capazes de ARTICULAR a ideia como se fossem deles. Então, talvez essa definição se encaixe parcialmente à acusação.

Ok, então o desafio continua. Talvez tenhamos que refinar nossa definição um pouco mais para acomodar a acusação. Vamos tentar o seguinte: pensar por si próprio é NÃO aceitar cegamente o que outras pessoas dizem, especialmente pessoas em posição de poder. Melhor? Talvez. Alguns crentes SIM aceitam cegamente o que outros crentes em poder dizem (pastores, etc). Conseguimos! Uma explicação que se encaixa com o que queremos dizer!
Aqui vai: para pensar por si próprio você precisa:

1. Não necessariamente ter uma ideia própria e original;

2. Não cegamente aceitar uma ideia baseando-se em quem a afirma;

3. Tirar suas próprias conclusões e ser capaz de ARTICULÁ-LAS. ISSO É PENSAR POR SI PRÓPRIO! Agora sim.

Se você é um crente, é bem provável que esteja praticando o item n. 1. No entanto, você pode ser culpado dos itens 2 e 3. Você talvez esteja aceitando o que pastores estão falando sem verificar a Palavra (Atos 17.11). Talvez você também não seja capaz de articular sua fé como se deve (1Pedro 3.15).

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No entanto, os não-crentes estão livres de responsabilidade? Absolutamente não! Se você é um não-crente lendo isso e é uma das pessoas dizendo que crentes não pensam por si próprios, por favor, analise se você está consistente com a definição acima. Assim como o crente, você provavelmente cumpre o item n. 1. Mas, e quanto aos itens 2 e 3? Vamos ver:

2. Não cegamente aceitar uma posição baseando-se em quem a afirma: Você adota tal posicionamento porque VOCÊ mesmo pensou com muito cuidado? Ou você baseia seu posicionamento em influências de pessoas, sociedade, professores, amigos e outros do seu circulo de influência? Você pode honestamente dizer que são suas próprias conclusões? Você realmente as tornou suas ou está simplesmente repetindo frases de efeito que escuta por aí?

3. Tirar suas próprias conclusões e ser capaz de ARTICULÁ-LAS: Às vezes, e fácil ridicularizar pessoas que adotam determinado posicionamento. É fácil atacar uma afirmação sem ter que fazer uma. E fácil simplesmente duvidar convenientemente. Desafiar sem ser desafiado. Então, aqui vai um desafio para se pensar. Você pode articular uma determinada ideia sozinho? Você pode pensar por si próprio?

– Você pode articular como, sem um criador, algo pode vir a existir de absolutamente nada? Não estamos falando de energia quântica. NADA. Mas, sim, de completa ausência de existência.

– Você pode articular como existe uma coceira chamada “necessidade de propósito” que não pode ser simplesmente criada se o propósito não existe? Você pode articular como nós desenvolvemos uma necessidade cuja solução não existe?

– Se eu disser que a única alternativa que você tem, se não acredita em Deus, é inventar seu significado na vida, você poderia dizer onde errei no argumento? Se eu argumentasse que, sem Deus, sua única opção é viver um mundo de fantasias como se a vida tivesse propósito quando, em realidade, somos uma composição acidental de átomos que aleatoriamente gerou seres humanos, o que estaria dizendo de errado?

– Você pode articular por que Hitler estava “errado” se 1) ele agiu consistentemente com a teoria da evolução não guiada (sobrevivência do mais forte) e 2) não há como existir um fundamento para estabelecer o que é “mal”, se o “bem” não é algo objetivo, para começo de conversa?

Não quero dizer que você precise saber todas essas respostas. Crentes não têm todas as respostas. No entanto, será que existe uma pequena possibilidade de que você estar pressupondo coisas sem analisar? Existe a possibilidade de que você seja a pessoa que não está pensando por si próprio? Não sei a resposta. Mas você sabe.

Fábio Mendes mora na Califórnia, EUA. É bacharel em Ciências da Computação pela Universidade Bethel, em Minnesota, e MBA em gerenciamento de tecnologia pela University of Phoenix. Atualmente, exerce a função de Arquiteto Sênior de Sistemas para uma seguradora internacional. Membro da igreja Christ Fellowship, em Miami, dedica-se ao pensamento e à filosofia cristã com ênfase para jovens.

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