Deus sacrificou a si mesmo para ele mesmo nos salvar dele mesmo? | Jason Wisdom

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OFigura1  meme exibido à esquerda representa o senso comum expressado por uma comunidade ateísta da internet. O cristianismo é risível porque “A ideia de Deus sacrificando a si mesmo para ele mesmo nos salvar dele mesmo é demais para qualquer pessoa racional acreditar”. Agora, para ser franco, a coisa colocada desta forma realmente soa ridícula. Mas será que é mesmo? Não. E eu acho que posso ilustrar o porquê oferecendo outro exemplo. Antes disso, entretanto, eu quero desconstruir a frase para mostrar de onde vem sua força retórica.

Antes de tudo, a repetição da expressão “ele mesmo” torna a frase retoricamente poderosa. Se você já assistiu ao filme “O mentiroso”, se lembrará da cena na qual Jim Carrey está no banheiro batendo em si mesmo – socando-se, arremessando-se contra a parede e esmagando a própria cabeça com o assento do vaso sanitário. Este é o tipo de imagem de Deus que a frase cria. Para se concentrar na espinha dorsal desta frase, eu creio que a verdadeira força está nas palavras “para Ele mesmo”. Se simplesmente fosse dito “Deus sacrificou a si mesmo para nos salvar dEle mesmo”, deixaria algumas pessoas chocadas, mas não soaria tão ridículo. Acrescentar “para Ele mesmo” sugere uma pessoa sendo sacrificada pela mesma pessoa. De acordo com o meme, é nisso que os cristãos acreditam. De fato, este conceito, oriundo do Sabelianismo, Patripassionismo e/ou Modalismo, havia sido refutado por cristãos ortodoxos já nos idos do século II e foi oficialmente condenado como heresia no Concílio de Niceia. Deste modo, o que o meme sugere é na verdade uma deturpação da visão cristã. Cristãos são monoteístas trinitários. Isto é, eles acreditam que há um Deus que existe em três pessoas distintas. Então, se o Filho é sacrificado pelo Pai, é incorreto dizer que uma pessoa está sacrificando a si mesma para ela mesma. Mas insistir neste ponto pode acabar nos levando a uma discussão teológica bem mais detalhada que o necessário para demonstrar o erro desta colocação. A coisa toda é, na verdade, muito mais simples.

Considere a seguinte frase: “A ideia de um banco pagar ao banco para me livrar do débito que eu tenho junto ao banco é demais para qualquer pessoa racional acreditar.” Será que é assim tão ridículo? Lógico que não. Por quê? Porque é simplesmente uma afirmação de como as coisas são. Para que os colegas do banco perdoem um débito que é devido, eles têm que pagar o débito eles mesmos. Da mesma maneira, para que Deus perdoe os pecados de todos os que creem em Jesus Cristo, Ele assumiu a punição na pessoa de Jesus Cristo. Se você raciocinar, verá que é assim que o perdão sempre funcionou. A pessoa ofendida absorve o ônus em vez de cobrá-lo do ofensor. Caso contrário, o ofensor permanece sem perdão. As únicas alternativas remanescentes não estariam em sintonia com a natureza perfeitamente justa de Deus. Ele poderia ignorar o pecado ou punir um bode expiatório. Ironicamente, muitos críticos do cristianismo frequentemente assumem que a última alternativa (bode expiatório) foi o que aconteceu com Jesus e eles corretamente choram por tal injustiça. E essa é uma das razões pelas quais a divindade de Jesus de Nazaré é tão importante. Se Tiago bate na cara de Pedro, Pedro é o único que pode perdoar Tiago. João não pode entrar no meio e dizer “eu te perdoo”, porque não foi ele o prejudicado. Naturalmente, neste caso, para que Pedro ofereça perdão ele deve simplesmente absorver a dor e recusar-se a infligir essa dor a Tiago. De uma forma bem direta, ele está levando a punição que Tiago merecia. Se você já foi seriamente prejudicado alguma vez, sabe o quão doloroso pode ser não reagir negativamente em resposta. É um tipo de morte – o sacrifício do “eu” de alguém. Nessa linha de raciocínio, a colocação “Deus sacrificou a si mesmo para ele mesmo nos salvar dele mesmo” não parece tão intimidadora. Com efeito, você poderia simplesmente responder perguntando “como isso é diferente da maneira como o perdão funciona normalmente?” *.

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* Há aqueles que dirão “Entendi, mas o que realmente me incomoda é o fato de Deus ter feito isso de uma maneira tão macabra – a crucificação. Isso não faz Deus parecer um ditador sanguinário?” A resposta é não. Não é a quantidade de sangue derramado, mas a qualidade do sacrifício que realmente importa. Entretanto, não seria necessária muita determinação ou obediência a Deus para que Jesus tomasse uma injeção letal. A qualidade do sacrifício é destacada pela quantidade de sofrimento. Além do mais, se Deus é quem foi ofendido, é Ele quem deve determinar que tipo de pagamento aceitará para liquidar o débito.

Traduzido por Ronaldo Berchol e revisado por Maria Gabriela Pileggi.

Texto original aqui.

Jason Wisdom é casado com Brandy e têm dois filhos. É missionário da RYFO.org e foi vocalista da banda Becoming the Archetype no período de 1999-2011. É mestre em ministério cristão pela Liberty University e bacharel em história pela Truett McConnell College.

5 Comments

  1. Leandro Ramos disse:

    Entendi a parte sobre “absorver o ônus”, mas nunca consegui entender a necessidade de salvar a própria criação da “ira vindoura” da parte dele mesmo. E é dessa ira vindoura que Jesus salva, não é? Ou seja, salva dele mesmo.

  2. Douglas Alves de sousa disse:

    Jesus nos salva da ira do Pai. O mesmo Deus, mas pessoas diferentes. Um ponto crucial é que Deus não poderia simplesmente apagar a dívida da humanidade pois isso seria injusto.
    Imagina uma pessoa com multa chega ao juiz e sendo culpado é lierado sem pagar nada, isso é justo? Alguém precisa pagar a conta, e caso o juiz queira pagar ele estará sendo justo e misericordioso. Foi o que Deus fez conosco na pessoa de jesus.

    Há outras formas de olhar isso tudo é claro, o pecado nos afasta de Deus e jesus nos religa. O pecado atrai a ira de Deus e Jesus a levou na cruz. O pecado nos leva a morte e jesus tomou ela na cruz.

  3. Maria Villela Valini artista plástica disse:

    Os seres humanos quando não querem obedecer ao Criador, criam um amontoado de obstáculos, somente porque não querem obedecer ao Criador

  4. Jessika Tannous disse:

    “Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve Deus salvar os que creem pela loucura da pregação” (1 Coríntios 1:21).

  5. Vicente Francimar de Oliveira disse:

    O delírio do sacrifício expiatório de Cristo deixa escancarado o absurdo da religião cristã. Por quê? Porque Deus (o Pai) castiga a Si mesmo (o Filho), para alcançar o perdão do pecado do ingênuo Adão, levado ao pecado pela irresponsável da Eva. Não era mais lógico Deus ter passado uma borracha em cima da travessura de Adão e Eva, e deixar o lindo casal aproveitar as férias no Jardim do Éden? Por estas e outras, considero muitis-simo mais razoáveis as doutrinas do Judaismo e Islamismo, quando comparados ao Cristianismo. Fortaleca, CE, 10.9.2021.

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