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27/set/2014O meme exibido à esquerda representa o senso comum expressado por uma comunidade ateísta da internet. O cristianismo é risível porque “A ideia de Deus sacrificando a si mesmo para ele mesmo nos salvar dele mesmo é demais para qualquer pessoa racional acreditar”. Agora, para ser franco, a coisa colocada desta forma realmente soa ridícula. Mas será que é mesmo? Não. E eu acho que posso ilustrar o porquê oferecendo outro exemplo. Antes disso, entretanto, eu quero desconstruir a frase para mostrar de onde vem sua força retórica.
Antes de tudo, a repetição da expressão “ele mesmo” torna a frase retoricamente poderosa. Se você já assistiu ao filme “O mentiroso”, se lembrará da cena na qual Jim Carrey está no banheiro batendo em si mesmo – socando-se, arremessando-se contra a parede e esmagando a própria cabeça com o assento do vaso sanitário. Este é o tipo de imagem de Deus que a frase cria. Para se concentrar na espinha dorsal desta frase, eu creio que a verdadeira força está nas palavras “para Ele mesmo”. Se simplesmente fosse dito “Deus sacrificou a si mesmo para nos salvar dEle mesmo”, deixaria algumas pessoas chocadas, mas não soaria tão ridículo. Acrescentar “para Ele mesmo” sugere uma pessoa sendo sacrificada pela mesma pessoa. De acordo com o meme, é nisso que os cristãos acreditam. De fato, este conceito, oriundo do Sabelianismo, Patripassionismo e/ou Modalismo, havia sido refutado por cristãos ortodoxos já nos idos do século II e foi oficialmente condenado como heresia no Concílio de Niceia. Deste modo, o que o meme sugere é na verdade uma deturpação da visão cristã. Cristãos são monoteístas trinitários. Isto é, eles acreditam que há um Deus que existe em três pessoas distintas. Então, se o Filho é sacrificado pelo Pai, é incorreto dizer que uma pessoa está sacrificando a si mesma para ela mesma. Mas insistir neste ponto pode acabar nos levando a uma discussão teológica bem mais detalhada que o necessário para demonstrar o erro desta colocação. A coisa toda é, na verdade, muito mais simples.
Considere a seguinte frase: “A ideia de um banco pagar ao banco para me livrar do débito que eu tenho junto ao banco é demais para qualquer pessoa racional acreditar.” Será que é assim tão ridículo? Lógico que não. Por quê? Porque é simplesmente uma afirmação de como as coisas são. Para que os colegas do banco perdoem um débito que é devido, eles têm que pagar o débito eles mesmos. Da mesma maneira, para que Deus perdoe os pecados de todos os que creem em Jesus Cristo, Ele assumiu a punição na pessoa de Jesus Cristo. Se você raciocinar, verá que é assim que o perdão sempre funcionou. A pessoa ofendida absorve o ônus em vez de cobrá-lo do ofensor. Caso contrário, o ofensor permanece sem perdão. As únicas alternativas remanescentes não estariam em sintonia com a natureza perfeitamente justa de Deus. Ele poderia ignorar o pecado ou punir um bode expiatório. Ironicamente, muitos críticos do cristianismo frequentemente assumem que a última alternativa (bode expiatório) foi o que aconteceu com Jesus e eles corretamente choram por tal injustiça. E essa é uma das razões pelas quais a divindade de Jesus de Nazaré é tão importante. Se Tiago bate na cara de Pedro, Pedro é o único que pode perdoar Tiago. João não pode entrar no meio e dizer “eu te perdoo”, porque não foi ele o prejudicado. Naturalmente, neste caso, para que Pedro ofereça perdão ele deve simplesmente absorver a dor e recusar-se a infligir essa dor a Tiago. De uma forma bem direta, ele está levando a punição que Tiago merecia. Se você já foi seriamente prejudicado alguma vez, sabe o quão doloroso pode ser não reagir negativamente em resposta. É um tipo de morte – o sacrifício do “eu” de alguém. Nessa linha de raciocínio, a colocação “Deus sacrificou a si mesmo para ele mesmo nos salvar dele mesmo” não parece tão intimidadora. Com efeito, você poderia simplesmente responder perguntando “como isso é diferente da maneira como o perdão funciona normalmente?” *.
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* Há aqueles que dirão “Entendi, mas o que realmente me incomoda é o fato de Deus ter feito isso de uma maneira tão macabra – a crucificação. Isso não faz Deus parecer um ditador sanguinário?” A resposta é não. Não é a quantidade de sangue derramado, mas a qualidade do sacrifício que realmente importa. Entretanto, não seria necessária muita determinação ou obediência a Deus para que Jesus tomasse uma injeção letal. A qualidade do sacrifício é destacada pela quantidade de sofrimento. Além do mais, se Deus é quem foi ofendido, é Ele quem deve determinar que tipo de pagamento aceitará para liquidar o débito.
Traduzido por Ronaldo Berchol e revisado por Maria Gabriela Pileggi.
Texto original aqui.
Jason Wisdom é casado com Brandy e têm dois filhos. É missionário da RYFO.org e foi vocalista da banda Becoming the Archetype no período de 1999-2011. É mestre em ministério cristão pela Liberty University e bacharel em história pela Truett McConnell College. |
5 Comments
Entendi a parte sobre “absorver o ônus”, mas nunca consegui entender a necessidade de salvar a própria criação da “ira vindoura” da parte dele mesmo. E é dessa ira vindoura que Jesus salva, não é? Ou seja, salva dele mesmo.
Jesus nos salva da ira do Pai. O mesmo Deus, mas pessoas diferentes. Um ponto crucial é que Deus não poderia simplesmente apagar a dívida da humanidade pois isso seria injusto.
Imagina uma pessoa com multa chega ao juiz e sendo culpado é lierado sem pagar nada, isso é justo? Alguém precisa pagar a conta, e caso o juiz queira pagar ele estará sendo justo e misericordioso. Foi o que Deus fez conosco na pessoa de jesus.
Há outras formas de olhar isso tudo é claro, o pecado nos afasta de Deus e jesus nos religa. O pecado atrai a ira de Deus e Jesus a levou na cruz. O pecado nos leva a morte e jesus tomou ela na cruz.
Os seres humanos quando não querem obedecer ao Criador, criam um amontoado de obstáculos, somente porque não querem obedecer ao Criador
“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve Deus salvar os que creem pela loucura da pregação” (1 Coríntios 1:21).
O delírio do sacrifício expiatório de Cristo deixa escancarado o absurdo da religião cristã. Por quê? Porque Deus (o Pai) castiga a Si mesmo (o Filho), para alcançar o perdão do pecado do ingênuo Adão, levado ao pecado pela irresponsável da Eva. Não era mais lógico Deus ter passado uma borracha em cima da travessura de Adão e Eva, e deixar o lindo casal aproveitar as férias no Jardim do Éden? Por estas e outras, considero muitis-simo mais razoáveis as doutrinas do Judaismo e Islamismo, quando comparados ao Cristianismo. Fortaleca, CE, 10.9.2021.