Um Debate Chocante Durante um Programa de Rádio Com o Arquiliberal Barry Lynn
“Pensamento crítico?” o apresentador de rádio gritou. “A maioria das pessoas da Direita cristã conservadora diria que esse é um dos maiores perigos que temos – essa ideia ‘absurda’ de pensamento crítico.”
Eu estava falando com o arquiliberal Barry Lynn [link em inglês], diretor executivo da Americanos Unidos pela Separação Igreja-Estado. Ele havia me convidado para participar do seu programa de rádio Choques de Cultura para falar sobre meu livro recém-publicado, Saving Leonardo. No entanto, quando eu expliquei que o livro desmembra cosmovisões seculares para ajudar as pessoas a desenvolverem seu pensamento crítico, Lynn pareceu incrédulo. Ele afirmou que os cristãos conservadores desencorajam quaisquer questionamentos sobre sua fé.
Ele estava generalizando bastante, mas o fato é que existe sim uma base para um estereótipo tão negativo como esse. Na verdade, isso se tornou um dos principais motivos de os jovens deixarem a Igreja.
Drew Dyck, em seu recente artigo Os Desviados, na revista Christianity Today, diz que quando falam com alguém que abandonou a fé (ou que está pensando em fazê-lo), os cristãos raramente se envolvem com a pessoa para entender os motivos de sua dúvida. Normalmente eles “possuem uma de duas reações, ambas igualmente nocivas”: alguns “ficam na defensiva e não se envolvem de maneira nenhuma”. Outros “vão para a ofensiva, bombardeando a pessoa com um sermão leigo e repleto de julgamento”.
Meus alunos dizem que se deparam com ambas as reações. Uma adolescente, que está tendo dificuldades para decidir em que acreditar, se sente desencorajada porque a principal resposta de seus pais é “Por que você simplesmente não tem fé, como nós?”.
Outro adolescente, que está explorando cosmovisões alternativas, diz que a resposta de seus pais é condenar tais cosmovisões: “Você não pode provar isso! Você não tem evidências!”. Como ele me diz: “Eu preciso que meus pais questionem ideias comigo, não que apenas as julguem”.
Quando os pais e líderes reagem às questões com condenação e culpa, eles podem acabar afastando seus adolescentes. Meus dois alunos citados acima anunciaram recentemente que não se consideram mais cristãos.
Os dois se tornaram desviados.
Eu mesma me tornei uma desviada quando tinha dezesseis anos. Eu não estava sendo rebelde. E nem estava tentando fazer uma cortina de fumaça moral de más escolhas. Eu estava simplesmente me perguntando “Como eu sei que o Cristianismo é verdadeiro?”. Nenhum dos adultos que eu consultei me deu alguma resposta.
Eventualmente eu decidi que a única maneira intelectualmente honesta era rejeitar minha criação religiosa e examiná-la juntamente com outras religiões e filosofias. Afinal, se eu não tivesse bons motivos para minhas convicções, como poderia dizer, com integridade, que o Cristianismo – ou qualquer outra coisa – é verdadeiro?
O Fuller Seminary conduziu recentemente um estudo com adolescentes que se tornaram desviados na faculdade. Os pesquisadores descobriram o fator mais decisivo para os jovens cristãos ficarem firmes em suas convicções cristãs ou para abandoná-las. E esse fator não é o que a maioria de nós esperaria que fosse.
Participar de um grupo de ministério na faculdade? Ou, ainda, de algum grupo de estudo bíblico? Por mais importante que isso seja, o fator mais decisivo é se os estudantes possuem um lugar seguro para tirarem suas dúvidas antes de deixarem suas casas e irem para a faculdade.
Os pesquisadores concluíram que “Quanto mais os estudantes do ensino superior sentem que possuíam a oportunidade de expressar suas dúvidas no ensino médio, maior é sua maturidade espiritual”.
O estudo indica que os estudantes, na verdade, ficam mais confiantes em seu compromisso cristão quando os adultos em suas vidas – pais, pastores, professores – os orientam no sentido de lidar com os desafios propostos por cosmovisões seculares prevalescentes. Em resumo, a única maneira pela qual os adolescentes se tornam realmente “preparados para responder a qualquer um que pedir a razão da esperança” (1Pe 3.15, NVI) é tratar as questões de forma honesta e pessoal.
Como tais pesquisadores afirmam: “Estudantes que tiveram a oportunidade de lutar contra perguntas difíceis e contra a dor durante o ensino médio pareceram ter uma transição mais saudável para a vida na faculdade”.
Infelizmente, a maioria das igrejas e escolas cristãs não encorajam “perguntas difíceis”. Durante a entrevista de Dyck com os desviados, a maioria afirmou que “eram constantemente censurados quando expressavam dúvidas”. Eles eram ridicularizados, repreendidos, ou até forçados a pensar que havia algo de imoral em simplesmente fazer perguntas.
Ao invés de tentar responder às perguntas dos adolescentes, a maioria dos grupos de jovens das igrejas se concentra em comida e diversão. O objetivo parece ser o de criar vínculos emocionais usando música alta, esquetes bobas, gincanas sem sentido – e pizza. Mas uma pura experiência emocional não é capaz de preparar os adolescentes para questionar as ideias que encontrarão quando saírem de casa e enfrentarem o mundo sozinhos.
Um estudo na Grã-Bretanha descobriu que pais não-religiosos possuem quase 100% por cento de chance de transmitir suas visões a seus filhos, enquanto os pais religiosos possuem apenas quase 50% chance de fazerem isso. Claramente, ensinar os jovens a se envolverem com cosmovisões seculares de forma crítica não é mais uma opção. É uma habilidade necessária para a sobrevivência.
Apresentadores hostis de rádio podem não entender, mas as próprias Escrituras encorajam os humanos a usarem suas mentes [link em inglês] para examinar quaisquer alegações da verdade. Como Paulo escreveu, “ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom” (1Ts 5.21, NVI). Acontece que é preciso praticar a primeira parte do versículo – por à prova e questionar – para que se possa construir o conhecimento de reconhecer, escolher e ficar com o que é bom.
Parafraseando o poeta inglês William Wordsworth, a criança que questiona é pai do homem realmente comprometido.
Traduzido por Filipe Espósito e revisado por Jonathan Silveira.
Texto original aqui.