Dinheiro, sexo e poder, a olhos seculares, são a tríade da felicidade. O ser humano e a cultura giram em torno desses três eixos e fazem deles a busca mais importante da vida, de modo que esses três elementos passam até mesmo a ser associados diretamente à nossa identidade (a ponto até mesmo de louvarmos pessoas que são ricas, mais mulherengas e mais influentes).
Interessante é que nosso relacionamento com essas pessoas pode ser de competitividade (caso tenhamos as mesmas coisas que elas têm em algum grau) ou então, quando não desfrutamos dessa tríade na mesma medida que essas pessoas, podemos ter um relacionamento adulatório em relação a elas, porque desejamos de alguma maneira desfrutar de tudo aquilo que o outro tem. Isso para não falar das reações eufóricas e histéricas de fãs pelas celebridades que amam. Embora a admiração por um artista seja completamente legítima, uma reação histérica, no fundo, no entanto, está muito associada ao fascínio pelo dinheiro, sexo e poder que aquele artista detém. Queremos ter o mesmo status social que ela.
Em Mateus 12.15, Jesus disse: “Evitai todo tipo de cobiça; pois a vida do homem não consiste na grande quantidade de coisas que ele possui.”
Uma pessoa não pode ser qualificada ou desqualificada segundo seu status social. Com isso, não queremos dizer que a tríade dinheiro, sexo e poder é necessariamente ruim. O que é ruim é o mau uso delas. Dinheiro, sexo e poder, quando colocados no seu devido lugar, cumprem uma boa função. O cristianismo não é uma religião dualista ou gnóstica que anatematiza a matéria e as coisas terrenas.
Dinheiro compra a felicidade? Se estamos tratando a felicidade como um estado derradeiro de paz, não, não o dinheiro não é capaz de nos proporcionar a felicidade devido a própria dinâmica da realidade. A realidade não nos garante segurança.
Dinheiro pode comprar prazeres (que podem ser legítimos ou não) e oferecer uma alegria passageira. Não há nenhum problema em desfrutarmos de alegrias passageiras, mas precisamos nos lembrar justamente de que elas são passageiras. O problema está quando nos damos conta de que elas são passageiras e desejamos perpetuar a experiência de prazer por meio da repetição. É aí que nos tornamos hedonistas superficiais.
Em 1Timóteo 6.10, Paulo diz: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e por causa dessa cobiça alguns se desviaram da fé e se torturaram com muitas dores.”
Note que Paulo não diz que o dinheiro é o problema, mas sim o amor ao dinheiro. O problema é a cobiça. E não são apenas os ricos que incidem nesse erro. George MacDonald disse:
“Não é apenas o homem rico que está debaixo do domínio das coisas; também são escravos aqueles que, sem ter dinheiro, são infelizes por causa da falta dele.”[1]
A cobiça não escolhe classe social.
Em contraste com a cobiça, o ensinamento bíblico é a moderação:
“Melhor é ter pouco com o temor do SENHOR do que ter um grande tesouro acompanhado de inquietação.” (Provérbios 15.16)
“Melhor é o pouco com justiça do que grandes rendas com injustiça.” (Provérbios 16.8)
Também não é lícito ao cristão justificar sua prática workaholic desenfreada em busca por riqueza, pois ela é um sintoma de sua ansiedade em relação ao futuro. No sermão do monte, Jesus nos diz que ele conhece nossas necessidades materiais e nos ensina que Deus nos provê.
Para quem já assistiu House of Cards ou acompanha a política brasileira, sabe muito bem como o poder pode ser uma ferramenta para fazer valer interesses próprios e oprimir o povo. Se abrirmos o livro dos Reis, por exemplo, vemos vários casos assim.
Naturalmente, isso não acontece só na política. Acontece no ambiente de trabalho, por exemplo, quando uma pessoa busca uma promoção à custa das cabeças de seus colegas de trabalho. Acontece em igrejas na disputa por ministérios, acontece na família.
Hoje temos os influenciadores digitais. YouTubers famosos, com milhões de seguidores, ganham rios de dinheiro e influenciam a cabeça e o comportamento de seus telespectadores. O poder de se tornar um influenciador digital está na ponta dos dedos. Adolescentes e jovens estão abrindo canais no YouTube na esperança de se tornarem a próxima celebridade. Existe um ímpeto nocivo por fama, pela autoexaltação.
Na Bíblia, vemos que essa busca nociva por poder, fama, existia até mesmo entre os discípulos. Nos evangelhos, vemos Tiago e João pedindo a Jesus que deixem eles se assentarem ao lado dele no céu, ao que Jesus os repreende.
Essa não é a lógica do evangelho. A lógica do evangelho é que os que buscam a autoexaltação serão humilhados e os que se humilham serão exaltados. Jesus deixou sua glória, se esvaziou e se tornou servo. Por isso, Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo nome.
Hollywood tornou público aquilo que pertence ao âmbito privado entre marido e esposa. Expuseram o leito conjugal como algo banal e criaram uma dicotomia entre amor e sexo. O sexo foi reinterpretado sob um viés bem darwinista: “eu e você, amor, não somos nada além de mamíferos; então vamos fazer como os animais fazem no Discovery Channel”, diz a canção da banda Bloodhound Gang. Maroon 5 compara o sexo entre animais ao sexo entre humanos. A canção “Animals” diz: “Vou te caçar esta noite e comê-la viva, assim como os animais fazem”.
Em 2017, Scarlett Johansson disse publicamente que tem respeito pelo casamento, mas que a monogamia não é algo natural. O espírito da época toma o prazer sexual e faz dele um dos principais propósitos na vida.
E, embora a sexualidade seja uma dádiva de Deus, a cultura de Hollywood e a indústria pornográfica vulgarizaram tanto o sexo que isso acabou influenciando até mesmo a maneira como evangélicos veem a sexualidade. Até mesmo no contexto do matrimônio, muitos cristãos acreditam que o relacionamento sexual por puro deleite é pecaminoso e que a única finalidade do sexo é a procriação de filhos. Mas o cristianismo não é uma religião estoica, que foge dos prazeres terrenos. A Bíblia exalta o prazer sexual no contexto do matrimônio. Basta lermos Cantares de Salomão para chegarmos a essa constatação e ficarmos enrubescidos com tamanho erotismo. No entanto, o propósito último da vida não se reduz ao prazer sexual. Deus é maior que o sexo.
John Piper diz:
“Os prazeres do sexo são, de si mesmos, um transbordamento da bondade de Deus. Esse prazer é menos do que aquilo que experimentaremos plenamente nele à sua direita; mas é mais do que o mundo jamais experimentará em seu uso indevido do sexo. E nesse prazer provamos algo do belíssimo caráter de Deus.”[2]
Dinheiro, sexo e poder, portanto, formam uma tríade cujo propósito pode ser facilmente distorcido por nós. Mas a capacidade que temos de distorcer o propósito das coisas não significa que a coisa em si seja má. O verdadeiro propósito dessa tríade e a glória de Deus. Como podemos glorificar a Deus com o dinheiro, sexo e poder?
Em seu livro Vivendo na luz: dinheiro, sexo e poder, John Piper faz uso de uma analogia muito útil para ilustrar como isso é possível. Segundo Piper, dinheiro, sexo e poder são três planetas que devem orbitar Cristo, que é o sol.
Dinheiro, sexo e poder são dádivas de Deus para demonstrar sua bondade e glorificá-lo. Quando os planetas do sexo, dinheiro e poder estão no lugar do sol (Cristo), vivemos vidas superficiais, vazias. Vivemos acreditando que essa tríade pode redimir, pode curar, pode satisfazer. No entanto, essas coisas estão fora do escopo de sua natureza. Dinheiro, sexo e poder não podem ser vistos como fim em si mesmos, mas sim como uma bússola que aponta para algo que os transcende. Se não for assim, seremos infelizes. Basta olharmos para o caso de Salomão e veremos um claro exemplo disso. Em Eclesiastes 2 vemos que Salomão desfrutou de tudo quanto o dinheiro, o sexo e o poder podem oferecer. No entanto, ele conclui dizendo que esse não é o sentido da vida. O que me lembra de uma bela citação de C. S. Lewis:
“Somos criaturas divididas, correndo atrás de álcool, sexo e ambições; desprezando a alegria infinita que se nos oferece, como uma criança ignorante que prefere continuar fazendo seus bolinhos de areia numa favela, porque não consegue imaginar o que significa um convite para passar as férias na praia.”[3]
O sentido da vida é a satisfação em Deus. Como o próprio Piper diz: “Deus é mais glorificado quando estamos mais satisfeitos nele.” Devemos buscar um estilo de vida no qual nos satisfazemos plenamente em Cristo. Seja na escassez, seja na abundância, precisamos aprender a dizer como o apóstolo Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece”.
Que o Senhor desperte em nós afeições profundas por ele, de modo que possamos compreender que as boas dádivas terrenas são apenas lampejos que apontam para a maravilhosa prática de se deleitar em Deus.
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[1] Citado por John Piper em Vivendo na luz: dinheiro, sexo e poder. Ed. Vida Nova, p. 53.
[2] Vivendo na luz: dinheiro, sexo e poder. Ed. Vida Nova, p. 111.
[3] O peso de glória, Ed. Vida.
Jonathan Silveira é graduado em Direito pela Universidade São Francisco e mestre em Teologia pelo programa Master of Divinity da Escola de Pastores da Primeira Igreja Batista de Atibaia. É casado com Carrie e pai da Emily. |
Dinheiro, sexo e poder. Todo ser humano está inclinado a adorar essas dádivas. Os cristãos as enxergam com certa suspeita, mas Deus nos criou para desfrutar de todas elas. Descubra nesta obra como manter essas três oportunidades perigosas gravitando na órbita para a qual foram projetadas. E aprenda a desfrutar de cada uma delas de uma maneira que garanta satisfação pessoal, sirva às pessoas e glorifique a Deus. Este livro revigorante traz novo alento e despertará para a glória resplandecente de Cristo, inspirando o leitor a tornar Jesus o centro gravitacional de sua vida. Quando isso acontecer, tudo vai mudar para você. Publicado por Vida Nova. |
3 Comments
Excelente
Gostei muito!
Tem um pequeno equivoco é Lucas 12: 15 ao invés de Mateus 12:15.
Que conteúdo rico. Obrigada!