O ponto brilhante neste inverno insuportavelmente frio tem sido o sucesso do filme Frozen (Frozen, Uma Aventura Congelante), considerado um dos melhores filmes da Disney em décadas.
Nós levamos a família para assistir o filme no fim de semana de Ações de Graça, esperando o enredo comum, o roteiro cansativo de uma princesa sendo sincera consigo mesma e encontrando a salvação através do amor romântico. Afinal, este é o dogma da Disney.
Surpreendentemente, o enredo do filme nos leva em direção oposta. A princesa que é “sincera consigo mesma” causa estragos no mundo e deixa relacionamentos quebrados em seus rastros. Sua irmã dedicada a persegue, mesmo com grande esforço pessoal. E quando tudo parece estar perdido e você espera um príncipe que salvará o dia com o amor romântico, há, ao invés disso, um retrato impressionante de autossacrifício, descrito como o único tipo de amor que pode derreter um coração congelado.
Não é difícil observar os esboços de redenção neste filme. Se você acredita que o amor é mais que um sentimento, que o amor verdadeiro se expressa em um autossacrifício (que em última instância flui da vontade de Cristo para dar Sua vida para o mundo), e que a verdadeira mudança apenas ocorre através da redenção e não por autodescoberta, então você achará esse filme delicioso. Ou melhor, você encontrará caminhos para conectar o tema deste filme ao evangelho. Nós amamos isto.
Quatro meses depois, nós ainda estamos falando sobre o filme Frozen. Ele ganhou cerca de um bilhão de dólares, superando o filme mais rentável de todos os tempos, “O Rei Leão” (em dólar inflacionado). Durante meses ele esteve entre os cinco primeiros, e sua trilha sonora passou um tempo considerável no topo da parada musical da Billboard. [Revista norte-americana especializada na indústria musical]
“Let it Go” [“Livre Estou“, na versão em português] é a canção destaque da trilha sonora devido à sua linda melodia e memorável letra. Seu clipe já foi visto mais de 88 milhões de vezes. [Hoje, mais de 135 milhões] Porém, o sucesso dessa canção em particular me deixa com a pulga atrás da orelha, especialmente quando você considera seu lugar na história do filme Frozen.
Se já existiu uma canção que resumisse a doutrina da Disney de “ser sincera consigo mesma” e “seguir seus sentimentos” independente de suas consequências, é a canção “Let it Go”, Observe uma parte da letra:
O vento está uivando como este redemoinho interior
Não posso evitar, Deus sabe que eu tentei.
Não os deixe entrar, não os deixe ver.
Seja a boa garota que você sempre teve que ser.
Oculte, não sinta, não deixe que eles saibam.
Bem, agora eles sabem!
Deixe acontecer, deixe acontecer!
Não posso mais segurar.
Deixe acontecer, deixe acontecer!
Dê a volta e bata a porta.
Eu não ligo para o que eles vão dizer.
Deixe a tempestade enfurecer.
O frio nunca me incomodou mesmo.
É engraçado como algumas distâncias,
fazem tudo parecer pequeno.
E os temores que uma vez me controlaram, não podem mais me alcançar
É tempo de ver o que eu posso fazer,
pra testar os limites e progredir.
Sem certo, sem errado, sem regras pra mim.
Estou livre!
Milhares de meninas em todo o país estão cantando esta música – um manifesto do destino, uma chamada contra a limitação, rebelar-se contra as expectativas irreais e, como alternativa, ser sincera com o que quer que você sinta de mais profundo dentro de você. O que é irônico é que o enredo do filme vai contra a mensagem dessa música. Quando a princesa decide “deixar ir” (deixar acontecer, deixar fluir), ela traz um mal terrível para o mundo. As consequências de suas ações são devastadoras. “Sem certo, sem errado, não há regras pra mim” é o pecado que isola a princesa e congela seu reino.
Apenas depois do amor sacrificial salvá-la dos efeitos da maldição é que a princesa é liberta para redirecionar sua paixão e poderes – não em “afastar-se” e “bater a porta” e expressar a si mesma – mas em canalizar seus poderes para o bem do seu povo.
Se há uma moral para Frozen, é que “deixar ir” (deixar acontecer, fluir) é egocêntrico e prejudicial. O que é necessário é que nossos dons peculiares sejam orientados e moldados pelo amor redentor.
Talvez seja por isso que eu estou desconcertado pela popularidade da canção “Let It Go”. Não do ponto de vista artístico – é uma joia. Mas, tenho medo de sua popularidade abafar o maior e mais bonito ponto do filme.
Uma ideia popular em nossa cultura é a de que há apenas duas maneiras de viver:
1. Através da autenticidade, expressa em rebelião contra as restrições culturais;
2. Através de uma vida ordenada, expressa no cumprimento de regras, de leis.
Muitas pessoas veem essas como as únicas opções. E, às vezes, os cristãos são considerados, em sua maioria, no segundo grupo – os cumpridores de regras da religião. Para os que veem a religião como algo indigesto, “Let it Go” é um hino à beleza da espontaneidade e liberdade. Mas o Cristianismo não vê moralidade em nenhuma dessas opções.
Nós não acreditamos que somos mais autênticos conosco quando abraçamos nossos desejos mais profundos. O coração é enganoso acima de todas as coisas, e desesperadamente corrupto. Precisamos de libertação de nossos profundos instintos, e não a sua celebração.
O Cristianismo também não diz que somos mais honestos conosco quando escondemos nosso pecado – como se pela própria força de vontade pudéssemos controlar nossas tendências terríveis. Alguns religiosos podem mostrar uma imagem de cumpridores de regras, com uma lista definida de deveres comportamentais. Mas isso não é o verdadeiro Cristianismo. O evangelho nos liberta da maldição da lei.
O Cristianismo ensina explicitamente o que o filme Frozen apenas sugere: que a salvação não vem através da autodescoberta ou do autocontrole, mas através do autossacrifício.
Por todo o país, meninas estão cantando sobre a autodescoberta. Vamos nos assegurar que depois de elas assistirem a esse maravilhoso filme, elas tenham canções sobre o autossacrifício.
Traduzido por Carol Mendonça.
Texto original aqui.