Explorando “O Inferno” de Dante em Frozen | Collin Garbarino

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O filme Frozen da Disney deve ser o filme mais cristão que já vi neste ano (2013). Isso é dizer muito, uma vez que Homem de Aço foi o filme que conscientemente tentou ser o mais cristão de 2013. Eu provavelmente poderia escrever um post sobre como Frozen é uma alegoria melhor do Evangelho do que O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa, de C. S. Lewis, mas, se eu fizesse, meus colegas na HBU (Universidade Batista de Houston) me colocariam para correr da universidade num instante.

Mas eu não quero falar sobre as Boas-Novas em Frozen, eu quero falar sobre as Más-Notícias. Não se preocupe, eu não vou adiantar nada do filme que já não esteja no trailer.

Elsa é uma jovem rainha, e ela parece não conseguir controlar sua habilidade sobrenatural de congelar as coisas. Ela foge para a montanha para se afastar de seus problemas e, uma vez lá, cria um palácio de gelo e canta com gélido abandono. Sua canção é uma canção de desafio. Ela não precisa de ninguém. Ela será verdadeira com ela mesma pela primeira vez. Ela precisa de liberdade.

Mas, Elsa está realmente livre? Ela prendeu a si mesma em um palácio de gelo, e ela está totalmente sozinha. Ela não está livre. Mas, cedendo a seu dom, ela está aprisionada em si mesma.

Enquanto assistia esta cena eu fiquei sobrecarregado com memórias de O Inferno de Dante. No livro Inferno, Dante viaja entre nove círculos do inferno, contando sobre os pecadores e punições que ele vê durante todo o caminho. Quando Dante chega às profundezas do inferno, ele encontra Lúcifer. Mas o fundo do inferno não é um poço de fogo, como a maioria de nós suspeitaríamos, é um deserto congelado, e Lúcifer encontra-se congelado até a cintura.

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Lúcifer tem seis grandes asas, e cada vez que ele as abana, elas produzem uma explosão de gelo que o congela ainda mais no lugar. Suas asas eram um dom, mas desde que ele tenta usá-las para servir a si mesmo ao invés de Deus, suas asas se tornam maldição.

Lúcifer e Elsa sofrem do mesmo desejo. Ambos desejam ser livres. Elsa quer a liberdade para ser ela mesma pelo desprendimento das obrigações para família e sociedade. Lúcifer quer voar. Nada exemplifica melhor liberdade do que voar. Nas duas situações, o desejo por liberdade os aprisiona em gelo. Gelo de sua própria criação.

Eu também detecto ecos de O Paraíso Perdido, de Milton, quando Elsa canta, “Sem certo, sem errado, sem regras para mim. Eu sou livre!” A Disney retrata a queda de Elsa de uma maneira consistente com a imagem da tradição literária ocidental da humanidade caindo em pecado. Nós chamamos de “liberdade”, mas isso nos escraviza. Felizmente para Elsa, um redentor está chegando para resgatá-la ao invés de deixá-la presa em seu inferno congelado.

Eu não sei se os produtores estavam mesmo lendo Dante e Milton quando escreveram a cena de Elsa. Mas, em último dos casos, a mesma verdade eterna parece inspirar a todos eles. A real liberdade nunca pode ser encontrada na devoção a si mesmo.

Traduzido por Juliana Roberta Angelieri.

Texto original aqui.

Collin Garbarino é professor de história na Houston Baptist University. Contribui com os sites Reformation 21, The Federalist e First Things.

1 Comments

  1. Jaysson Oliveira disse:

    Soltei risos quando a obra de Lewis foi citada. Ótimo texto!

    Obs.: Não há ainda uma literatura alegórica no mesmo nível de As Crônicas, exceto as obras de Tolkien (que insistentemente dizia não serem obras cristãs).

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