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01/jul/2014Expedição em busca da verdade – Parte 4
Esta é uma série intitulada “Expedição em busca da Verdade”, que tem por objetivo fornecer uma perspectiva racional e filosófica a respeito da existência de Deus e da veracidade do Cristianismo. Clique aqui para conferir todos os textos da série.
Para começar essa expedição a partir de um ponto racional e neutro, eu precisava estabelecer um guia para manter-me intelectualmente honesto. Era importante estabelecer essas regras desde o princípio em vez de criá-las dinamicamente. Depois de analisar vários argumentos, maneiras de se argumentar, discussões, etc, cheguei à conclusão de que o seguinte guia seria a maneira mais intelectualmente honesta e neutra de se buscar a verdade:
Eu não podia construir uma parede somente com um tijolo
Eu havia conversado com pessoas que participaram como jurados num processo legal. Eles explicaram para mim que ser um jurado num processo criminal envolve olhar para o “corpo de evidências” como um todo. Eles necessitam estar cientes de que não devem deixar que uma única evidência supra toda a base do caso, a não ser que seja uma evidência esmagadora e conclusiva. Num caso criminal, algumas evidências podem ser mais importantes que outras; outras são mais circunstanciais e ajudam a “empilhar os tijolos”. Essa pessoa mencionou um caso onde uma testemunha havia visto alguém correndo para fora de casa após um assassinato. Essa evidência apenas não provava muita coisa, uma vez que, quando uma segunda testemunha entrou na casa viu o marido segurando uma arma que havia sido recentemente usada. Parecia claro que o marido era o assassino. À medida em que o caso era construído, o testemunho da pessoa fugindo da casa – no contexto do caso como um todo – se encaixava. O marido não era o assassino. O marido havia lutado com o invasor que fugiu da cena depois que a vítima foi baleada. O problema foi que o marido aconteceu de ter sido encontrado segurando a arma depois dessa luta. O caso INTEIRO levou a essa conclusão. Uma evidência isolada não poderia haver fornecido essa informação. Eu decidi, então, embarcar nessa jornada com a mesma mentalidade de um “caso criminal”. Eu sabia que haveria evidências que seriam mais fortes do que outras. Mas, procurar por aquela única evidência que seria o xeque-mate, que resolveria o caso, não era a coisa racional a ser feita. Eu tinha que ser honesto comigo mesmo e olhar para o corpo de evidências em sua totalidade.
Toda afirmação de verdade tem pelo menos uma falsa alternativa
Você já discutiu com alguém que sempre traz uma alternativa para um argumento ou já viu um caso criminal onde a defesa lança várias explicações alternativas de inocência num caso onde parece ser óbvio que a pessoa é culpada? Eu me lembro de assistir a um programa na TV em que se apresentava um caso que parecia ser bastante sólido. A pessoa era culpada. Então, o advogado de defesa, numa tentativa de gerar dúvidas nos jurados a respeito da culpabilidade do réu, lançava possíveis alternativas para mostrar que seu cliente não era culpado. Pensei comigo mesmo, “Eu declararia essa pessoa como culpada com toda essa ‘dúvida’ gerada?”. No entanto, depois de um exame mais detalhado da evidência, estava claro para mim que a única coisa que o advogado de defesa estava fazendo era apresentar alternativas, mas não necessariamente mostrar evidência do por que a alternativa era MELHOR do que a acusação. Outro exemplo que estava preso em minha memória foi o caso de meu amigo muçulmano que havia questionado a divindade de Cristo e o fato de Jesus ter morrido na cruz. Ele havia apresentado algumas alternativas para a afirmação de que Jesus havia morrido na cruz. Era possível que Deus, de acordo com ele, sendo poderoso, colocasse alguém que parecesse com Jesus para morrer no lugar dele. A razão para isso é que a Bíblia afirma que quem morre em uma cruz é amaldiçoado de Deus. Jesus, sendo um profeta – como os muçulmanos creem –, não poderia ser amaldiçoado. Essas alternativas, a princípio, fizeram-me pensar. E agora? Ele havia me apresentado uma alternativa. Eu não podia negar que Deus era poderoso o suficiente para fazer isso. Também não podia negar que a Bíblia havia dito que quem morresse na cruz era amaldiçoado de Deus. A única razão pela qual fiquei confundido era porque eu não sabia de uma simples verdade: Toda a verdade possui pelo menos uma alternativa contrária. Uma mente lógica não busca determinada verdade sem que haja alternativas contrárias. A mente lógica olha para a alternativa para determinar se esta apresenta uma melhor explicação para a proposta de verdade original.
TODA afirmação de verdade possui pela menos uma falsa alternativa. Para cada situação que você descreve como verdadeira, alguém pode descrever outra alternativa em que a conclusão é falsa. Qualquer um pode apresentar alternativas para qualquer coisa. Alternativas são muito baratas. O que é caro é mostrar que tal alternativa é uma melhor explicação.
Sempre havia objeções e explicações alternativas para cada argumento que eu analisasse, mas eu sabia que o fato de existir uma alternativa não invalidava um argumento. Táticas de argumentação inválidas como essa estão se tornando mais frequentes. Uma pessoa apresenta um argumento enquanto outra simplesmente apresenta alternativas como uma maneira de refutar. Embora a princípio pareça uma argumentação válida, cheguei à conclusão de que precisamos olhar o argumento e a alternativa para ver se esta é mais PLAUSÍVEL. Plausibilidade é aquilo que explica MELHOR uma questão. É a explicação mais VIÁVEL. Se o argumento apresenta mais PODER EXPLANATÓRIO, então as alternativas não passam de simples alternativas, mas com um poder explanatório menor, ou menos plausível que a proposta original. Pessoas podem apresentar milhares de alternativas. Tudo o que eu tinha que fazer é navegar calmamente por essas alternativas e verificar se eram plausíveis ou não. Bastante trabalho, mas não uma tarefa impossível.
Eu tinha que resistir à tendência de se descartar objeções muito rapidamente
Eu não sei se isso já aconteceu com você, mas ouvimos algum comentário na TV e automaticamente concluímos que se trata de um comentário bobo. Um dia isso ficou muito claro para mim. Eu estava assistindo a um debate político e ouvi uma posição contrária à minha. “Isso é ridículo”, pensei comigo mesmo imediatamente. Então, comecei a imaginar estando-me do outro lado do debate. Comecei a imaginar eu debatendo esse comentário “bobo”. Para minha surpresa, percebi que não conseguia refutar esse argumento! De alguma forma, eu havia me convencido de que o argumento era bobo sem pensar a respeito dele. E, quando pensei, o comentário não parecia tão bobo como parecia no começo. Mesmo que, no fundo, eu discordasse, não podia fornecer um argumento válido contra o argumento. Estava mascarando uma visão ilógica com a premissa de que eu tinha uma argumentação sólida. Na verdade, eu não tinha. Existe uma tendência natural em todos nós de subconscientemente presumirmos que um argumento é inválido e que podemos refutá-lo. Alguns argumentos podem parecer inválidos à primeira vista – talvez porque são novos ou porque a abordagem é completamente diferente do que esperamos, ou, ainda, talvez porque seja realmente inválido. Eu tinha que resistir ao desejo de pensar que eu saberia refutar um argumento sem necessariamente refutá-lo. Eu decidi que olharia para as objeções, as analisaria, e apresentaria um argumento de refutação.
Eu tinha que olhar para a evidência como ela é e não como eu gostaria que fosse
Você já viu algum juiz que, antes de ir para a Corte num caso de assassinato, afirma que, “Só vou condenar essa pessoa se você me apresentar pelo menos três testemunhas maiores de dezoito anos de idade que viram o assassinato. Essas três testemunhas devem ter credibilidade, ter uma formação acadêmica e nenhuma passagem na polícia. Além disso, tenho que ver a arma do assassinato com as impressões digitais do assassino. A não ser que a evidência, assim como eu disse, seja apresentada desta forma, não condenarei o réu”. Eu nunca vi isso num caso real ou em filmes. Existe uma razão para isso. Não é racional preestabelecer evidências para um veredito. A vida não funciona desta forma. Evidências num caso criminal nunca são organizadas. A busca de evidência depende de quão bem o intruso ocultou evidências, a competência da polícia no caso, etc. Existem muitas variáveis e muitos casos específicos em cada caso para justificar um preestabelecimento da base de condenação ou absolvição antes de se olhar para a evidência. Eu acreditava que isso era verdade também em minha expedição. Eu não podia deixar que minhas preconcepções me impedissem de analisar evidências contrárias ao que creio. Nós fazemos isso a todo o momento. Se temos opção por um partido político, temos a tendência de colocar um peso de prova maior do que nós poríamos a nós mesmos sobre parte contrária. Temos a tendência de estabelecer condições para aceitar uma posição contrária. Não creio que esta seja uma maneira racional de abordagem. Deveríamos olhar para a evidência disponível para nós, e não evidência que queremos que exista. Creio que nós, crentes, temos que tomar muito cuidado para não fazermos isso. É muito fácil preestabelecer algo baseado em nossas posições. No entanto, isso é verdade somente com respeito aos crentes? Honestamente, creio que isso é uma armadilha na qual o ateu ou agnóstico também podem cair. Muitos ateus ou agnósticos olham para as afirmações cristãs com uma ideia preconcebida do que a evidência DEVERIA SER para que a aceitem. Já ouvi comentários de que somente aceitariam que Deus existe se houvesse um escrito no céu, ou se todo o mal do mundo fosse eliminado, etc. Essa posição parece muito similar com a do juiz não aceitando julgar um caso a não ser que um conjunto específico de evidências exista. Isto me parece impraticável e irracional.
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Uma vez estabelecido um guia para minha busca, decidi prosseguir para o próximo passo de minha expedição. Esse passo envolvia saber como sabemos das coisas. Como adquirimos conhecimento? Como chegamos a “saber” algo? Esse era o próximo passo de minha expedição.
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Fábio Mendes mora na Califórnia, EUA. É bacharel em Ciências da Computação pela Universidade Bethel, em Minnesota, e MBA em gerenciamento de tecnologia pela University of Phoenix. Atualmente, exerce a função de Arquiteto Sênior de Sistemas para uma seguradora internacional. Membro da igreja Christ Fellowship, em Miami, dedica-se ao pensamento e à filosofia cristã com ênfase para jovens. |
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