Jesus alimenta uma multidão de cinco mil: Será que isso realmente aconteceu? | Jonathan McLatchie

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Esta é uma história que todos nós crescemos ouvindo. Todos nós conhecemos bem a famosa história em que Jesus milagrosamente alimentou cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes, tendo nada menos do que doze cestos cheios de sobras. A história é contada pelos quatro autores dos evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas qual a veracidade desta história? Neste artigo eu tento destacar várias linhas de evidências que, quando tomadas como um todo, sugerem, no mínimo, que este evento tem suas raízes na história real. Tento mostrar isso em virtude de quatro supostas “coincidências acidentais”. Como expliquei em outro artigo, uma coincidência acidental ocorre quando o relato de um evento deixa de fora um pouco de informação que é preenchida, muitas vezes por acidente, por um relato diferente, o que ajuda a responder a algumas perguntas naturais levantadas pelo primeiro. Curiosamente, nada menos do que quatro dessas “coincidências acidentais” podem ser associadas com as narrativas sobre Jesus ter alimentado cinco mil pessoas. Assim, sem mais delongas, vamos voltar nossa atenção para essas incidências.

Em João 6:1-7, temos:

“Algum tempo depois, Jesus atravessou para a outra margem do mar da Galileia (ou seja, do mar de Tiberíades), e uma grande multidão de pessoas o seguiam porque viam os sinais que ele tinha realizado pela cura dos doentes. Então Jesus subiu no monte e sentou-se com os seus discípulos. A Páscoa judaica estava próxima. Quando Jesus olhou para cima e viu uma grande multidão que vinha em direção a ele, disse a Filipe: ‘Onde compraremos pão para esse povo comer?’ Ele perguntou isso só para testá-lo, pois ele já tinha em mente o que ele iria fazer. Filipe respondeu: ‘Eu precisaria do salário de mais de meio ano para comprar pão suficiente para que cada um recebesse um pedaço!’”

Ora, Filipe é um personagem relativamente pequeno no Novo Testamento. Naturalmente, você pode estar se perguntando por que Jesus não questionou alguém que estivesse um pouco mais acima na hierarquia (como Pedro ou João). Uma pista parcial é dada em João 1:44: “Filipe, como André e Pedro, era da cidade de Betsaida”. Da mesma forma, João 12:21 refere-se a “Filipe, que era de Betsaida, na Galileia”.

E por que é tão importante o fato de Filipe ser da cidade de Betsaida? Nós não encontramos resposta para essa pergunta até lermos o relato paralelo do evangelho de Lucas (9:10-17). Na abertura da narrativa (versículos 10-11), lemos: “Ao voltarem, os apóstolos relataram a Jesus o que tinham feito. Então ele os tomou, e retiraram-se para uma cidade chamada Betsaida, mas as multidões ficaram sabendo e o seguiram. Ele as acolheu e falava-lhes acerca do Reino de Deus e curava os que necessitavam de cura”.

E assim, somos informados por Lucas que aquilo estava acontecendo, na verdade, em Betsaida – a cidade de onde era Filipe! Jesus, então, se voltou a Filipe, a quem Ele acreditava conhecer bem o local. Observe também que Lucas não nos informa que Jesus se voltou a Filipe.

Mas isso fica cada vez mais interessante. Em Mateus 11, Jesus profetiza às cidades que não se arrependeram “Ai de você Corazim! Ai de você Betsaida! Porque se os milagres que foram realizados entre vocês tivessem sido realizados em Tiro e Sidom, há muito tempo elas se teriam arrependido, vestindo roupas de saco e cobrindo-se de cinzas”. O leitor fica se perguntando que milagres foram realizados nessas cidades. Isso não é mencionado no evangelho de Mateus. É somente à luz do relato de Lucas sobre Jesus ter alimentado cinco mil pessoas (capítulo 9), texto no qual somos informados da ocorrência do evento em Betsaida, que essa afirmação começa a fazer sentido!

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Curiosamente, a narrativa de Marcos descreve que o povo estava sentado em grupos sobre “verdes pastos” (v. 39). Isso é importante, não porque Marcos menciona pessoas sentadas na grama (Mateus 14:19 também registra pessoas “assentadas na grama”, Lucas 9:15 relata que “todos se assentaram” e João 6:10 observa que “Havia muita grama naquele lugar, e eles se assentaram”). É importante porque Marcos relata que a grama era “verde”. Isto é particularmente intrigante, considerando que em Israel (principalmente na Galileia) a grama é marrom!

O que torna isso tudo ainda mais intrigante é que o evangelho de Marcos (6:30-42) também afirma, nos versículos 30 e 31, que:

Os apóstolos reuniram-se a Jesus e lhe relataram tudo o que tinham feito e ensinado. Havia muita gente indo e vindo, ao ponto de eles não terem tempo para comer. Jesus lhes disse: ‘Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco’.”

Por que havia muita gente indo e vindo? Marcos não nos diz. No relato de João (6:4), no entanto, somos informados de que “A páscoa, a festa dos judeus, estava próxima”. Isso explica por que muitas pessoas estavam “indo e vindo”. Além disso, durante a Páscoa, há um pequeno intervalo de tempo onde a grama é realmente verde naquela região. Então, Marcos fornece os detalhes sobre a grama ser verde e sobre as pessoas indo e vindo, o que não faz muito sentido por conta própria – até ligarmos essas informações com o detalhe que nos foi dado por João; ou seja, a festa da Páscoa estava próxima.

Da mesma forma que em um quebra-cabeça, essa informação se encaixa perfeitamente à anterior. Este não é o tipo de padrão que se espera encontrar no caso de algum tipo de fabricação conspiratória de relatos históricos. Quando tomado como um argumento cumulativo – neste caso, em conjunto com vários outros – pode-se ter um argumento poderoso para a confiabilidade e integridade das narrativas dos evangelhos.

Traduzido por Ana Carolina Marafioti e revisado por Jonathan Silveira.

Texto original aqui.

Jonathan McLatchie possui licenciatura em Biologia Forense, um mestrado em Biologia Evolucionária e um segundo mestrado em biociência médica e molecular. Contribui com vários sites apologéticos, incluindo CrossExamined.org, Christian Apologetics Alliance, Apologetics UK, AllAboutGod.com, e GotQuestions.org.

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