Um filósofo, um pastor, uma discípula de Osho, um líder católico e um ateu entram em uma sala… Parece o início de uma boa piada, certo? Mas não é. Há alguns dias me peguei assistindo um vídeo no qual esse grupo se reunia para discutir o papel da religião e como a filosofia enxerga as mais diversas correntes religiosas existentes no mundo. O filósofo manteve-se o mais imparcial possível, a mulher e o católico não assumiram uma posição firme e o debate ficou intenso entre o pastor e o ateu (sempre com aquele toque de “requinte intelectual”).
Mas que captou minha atenção foi um momento em que o pastor, indagado sobre a necessidade do ateu de encontrar “seu caminho para Damasco”, respondeu, sem titubear: É necessário que o caminho de Damasco o encontre. Achei fantástica a resposta do pastor, porque expressou em uma frase simples algo que eu nunca consegui dizer.
Como um seminarista que deseja se aprimorar na área de apologética, sempre me percebo refletindo sobre o papel dela no evangelismo. Não vejo os longos debates, aqueles shows em que um ateu e um cristão discutem se Deus existe, como o fim supremo da apologética. Também não creio que seu fim esteja em refutar os argumentos dos religiosos que batem na porta de casa às 07:00 da manhã de um sábado de inverno. A apologética deve ter um alvo mais sublime, um propósito maior.
E na fala do pastor, encontrei minha resposta. A apologética é, em si, “o caminho para Damasco”, aquela situação que nos derruba no chão, nos humilha e, com sua luz pungente, nos cega por um tempo, para que o Espírito venha e nos faça enxergar. É ela que nos encontra em meio a uma cavalgada e instila em nosso coração cheio de desejo assassino uma pitada de vida e, depois de um encontro com ela, é difícil continuar sendo o mesmo.
Apologética para a glória de Deus é mais que defender a fé, é atacar o pecado, é entrar no cômodo mais escuro da alma de alguém e deixar uma pequena lâmpada lá, uma centelha que, alimentada da maneira correta, explode e consome tudo que há em volta. A apologética é poderosa quando se torna um “caminho para Damasco”, não porque seu poder resida na lógica dos argumentos, nas pedras pelo caminho. Ela se torna poderosa porque, no meio do caminho sempre haverá um homem, parado, com cicatrizes nas mãos, dizendo: “Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões”.
Felipe Wieira é Bacharel em Teologia pelo Centro de Estudos Teológicos do Vale do Paraíba (CETEVAP) e bacharel em Química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente, cursa o Mestrado em Teologia no Puritan Reformed Theological Seminary e serve como assistente pastoral na Igreja da Trindade, em São José dos Campos, interior de São Paulo. |