Os evangelhos não-canônicos desafiam a historicidade do Novo Testamento? | J. Warner Wallace

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A imprensa anunciou recentemente uma conferência que irá acontecer no Reino Unido, na qual dois “eruditos” irão debater se a história de Jesus foi “realmente construída de ponta a ponta se baseando em histórias já existentes, especialmente na biografia de um César Romano”, em um esforço para manter a ordem entre os cidadãos de Roma. Aparentemente, a nova reinterpretação de Jesus é baseada em uma releitura de A Guerra dos Judeus, de Flavio Josefo. Esse tipo de coisa está se tornando cada vez mais comum, especialmente em uma era de documentários televisivos e vendas de livros, que são ambos lucrativos. Simcha Jacobovici e Barrie Wilson também estão prestes a lançar um novo livro que defende uma reinterpretação de Jesus, desta vez baseada no que eles chamam de “O Evangelho Perdido”, um manuscrito sírio do sexto século “traduzido de uma escrita grega muito mais antiga” (em outras palavras: “Sim, nós sabemos que este texto apareceu 500 anos mais tarde do que deveria para ser confiável, mas queremos que você acredite que ele pode ser datado do primeiro século”). Estamos cada vez mais inundados com esforços pseudo-acadêmicos para desacreditar a versão cristã clássica de Jesus. Céticos querem que acreditemos que os evangelhos canônicos não são as únicas histórias do primeiro século sobre Jesus. Eles alegam que existe uma série de evangelhos antigos descrevendo uma versão de Jesus muito diferente daquela que aceitamos hoje. Se este for o caso, como saberemos quais versões de Jesus são verdadeiras e quais são mentirosas?

Felizmente, nós podemos separar lendas antigas da História primitiva confiável. Os evangelhos não-canônicos tardios (como o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Maria ou o Evangelho de Judas) foram ficando mais populares à medida que os céticos foram tentando argumentar que Jesus (1) não conseguiu realizar nenhum milagre, (2) não conseguiu ressuscitar dos mortos ou (3) não conseguiu ensinar as coisas descritas no Novo Testamento. A verdade, entretanto, é que os evangelhos canônicos, por si só, são fontes confiáveis de informações relacionadas à vida de Jesus.

Os evangelhos não-canônicos apareceram em um período muito tarde

Os evangelhos encontrados no Novo Testamento apareceram bem cedo na história. Existem bons motivos para acreditar que o Evangelho de Marcos foi escrito já em 50 d.C. e que o Evangelho de João não foi escrito depois do ano 70 d.C. Estes textos apareceram cedo o suficiente para ser testemunhas oculares da vida de Jesus, como eles alegam ser. Em comparação, todo o catálogo de evangelhos não-canônicos foi escrito muito mais tarde na história (o Evangelho de Tomé, por exemplo, foi escrito entre 130 e 150 d.C., o Evangelho de Maria entre 120 e 180 d.C. e o Evangelho de Judas entre 130 e 170 d.C.). Os evangelhos não-canônicos apareceram tarde demais para terem sido escritos por testemunhas oculares da vida de Jesus.

Os evangelhos não-canônicos eram conhecidos por serem fraudulentos

Os primeiros discípulos de Jesus e os líderes da Igreja sabiam que o aparecimento tardio destes Evangelhos era fraudulento. Os primeiros líderes, como Policarpo, Irineu, Hipólito, Tertuliano e Epifânio escreveram sobre a maior parte dos evangelhos não-canônicos quando estes apareceram pela primeira vez na história, identificando-os como fraudes hereges. Irineu, quando escreveu em 185 d.C. sobre o crescente número de textos não-canônicos, disse que havia “um número indescritível de escritos secretos e ilegítimos, que eles mesmos forjaram, para confundir as mentes das pessoas tolas, que ignoram as verdadeiras escrituras”. Aqueles que estavam vivenciando tudo aquilo sabiam que os textos não-canônicos tardios não eram confiáveis.

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Os evangelhos não-canônicos refletiam segundas intenções

Os autores dos evangelhos não-canônicos permitiam que seus pressupostos teológicos corrompessem seu trabalho. Muitos dos textos não-canônicos, por exemplo, foram escritos por autores gnósticos, utilizando o pseudônimo de algum apóstolo para legitimar seus textos enquanto os associavam à pessoa de Jesus para legitimar suas teologias. Como resultado, Jesus foi muitas vezes retratado como fonte de sabedoria oculta e esotérica transmitida em ditados ou diálogos com algum discípulo em especial que possuía privilégios suficientes para ser “iluminado”. Além disso, Jesus foi muitas vezes descrito como um espírito “Docético” imaterial, sem um corpo, forçando o autor a justificar a aparência de uma morte corporal na crucificação ou outras aparições físicas descritas no Novo Testamento.

Os evangelhos canônicos afirmam ser testemunhas oculares e, ao contrário dos tardios e fraudulentos evangelhos não-canônicos, os Evangelhos do Novo Testamento foram escritos cedo o suficiente para terem sido escritos por testemunhas oculares; eles foram verificados por aqueles que vivenciavam tais acontecimentos. Não existem Evangelhos “perdidos”. Em vez disso, temos evangelhos falsos “descartados”, que foram identificados por líderes da igreja primitiva, que tinham conhecimento suficiente para isso. Aqueles que procuraram mudar a história de Jesus na antiguidade foram impulsionados por um desejo de validar os seus pressupostos teológicos. Aqueles que procuram mudar a história de Jesus hoje em dia muitas vezes são movidos por seus próprios pressupostos filosóficos ou políticos. Joseph Atwill, o homem por trás da conferência do Reino Unido mencionada acima, disse recentemente: “Embora o Cristianismo possa ser um conforto para alguns, pode também ser bastante prejudicial e repressor, uma forma insidiosa de controle mental que levou à aceitação cega da servidão, da pobreza e da guerra ao longo da história. Até os dias de hoje, principalmente nos Estados Unidos, ele é usado para apoiar a guerra no Oriente Médio”. Nós temos poucas razões para considerar a reescrita tardia dos textos sobre a vida e o ministério de Jesus; as ficções não-canônicas foram rejeitadas pelos antigos que reconheceram o seu aparecimento tardio e compreendiam as motivações egoístas de quem as escrevia. Devemos rejeitar os atuais esforços da escrita da vida de Jesus por razões bastante semelhantes.

Traduzido por Ana Carolina Marafioti.

Texto original aqui.

J. Warner Wallace (ex-ateu) é detetive criminal, palestrante e escritor. É também professor adjunto de apologética na Biola University e membro do Summit Ministries. É autor do livro Cold Case Christianity.

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