Por que não permitirei laptops em minhas aulas no seminário | Kevin DeYoung

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Em outubro eu darei minha primeira aula como professor de seminário. E tenho certeza de que já tomei uma decisão impopular.

Não permitirei laptops (nem tablets, nem celulares também).

Eu sei que há um argumento a ser feito para permitir computadores na sala de aula. Os alunos conseguem digitar mais rápido do que escrever com a mão. Anotações digitais podem ser acessadas através de múltiplos dispositivos. É mais fácil editar anotações eletronicamente. Nossas mãos ficarão inchadas. Não seremos capazes de ler nossa própria escrita. A ponta do lápis vai quebrar. Tenho certeza de que há mais razões sofisticadas também. Não julgo os milhares de professores que permitem, ou mesmo estimulam o uso do computador na sala de aula. Eu sei que minha posição é uma minoria.

Mas aqui estão as minhas opiniões:

1. Há não muito tempo, eu era um aluno, e eu sei o que eu fazia em meu laptop. Não, nada sinistro. Eu era um bom aluno, que dava duro e prestava atenção. Mas eu também usava meu computador para multitarefa. E isso foi antes do acesso fácil à internet. Tudo que eu tinha eram alguns jogos e minhas outras atribuições para me manter ocupado, mas eu ainda encontrava meios de me distrair. Como uma hora de palestra teria condições de competir com a tarefa de deixar a caixa de e-mail em dia, enviar torpedos para um amigo e receber as últimas “breaking news” [notícias de última hora] do Twitter e do Facebook? Os alunos divagarão, rabiscarão e esboçarão outras composições mesmo sem um laptop? Evidentemente. Mas, pelo menos, eles não terão o mundo na ponta dos dedos e entretenimento de primeiro mundo em uma tela remota minimizada.

2. Os estudos que sugerem que o desempenho dos alunos sem um laptop na sala de aula é melhor, parecem verdadeiros para mim. Escrever anotações manualmente força os alunos a desacelerarem, serem mais seletivos e integrarem aquilo que estão aprendendo. E os alunos não ficam apenas dando uma olhada em outras coisas aqui e acolá. Eles ficam gastando mais da metade de seu tempo trocando mensagens com seus amigos e usando seus computadores para propósitos não acadêmicos. Até mesmo os alunos mais inteligentes aprendem menos porque gostam de multitarefa e concluir tanto quanto possível.

3. Bem, todos nós poderíamos dar um tempo no impulso onipresente da tecnologia. Honestamente, é provável que eu seja tão viciado em meus dispositivos quanto meus alunos. Então, por que criar (e ainda por cima encorajar) outro espaço onde podemos ficar presos à tela? Será que um pouco de desintoxicação tecnológica não nos tornaria um pouco mais saudáveis?

E isso nos leva ao cerne da questão. Vamos supor que realmente pudéssemos garantir que os alunos fossem absolutamente fiéis à palavra deles e nunca abrissem a internet, pulassem para outra tarefa e nunca avançassem jogando Paciência. Vamos supor que uma política de autopoliciamento realmente funcionasse (como você espera que seja em todos os seminários do mundo). Por razões pedagógicas eu ainda seria contra laptops. Eu não quero alunos grudados na tela. Eu não estou tentando fazer com que os alunos adivinhem com o que as minhas notas de aula se parecem. Não estou tentando testar a sua capacidade de tomar nota fazendo-lhes perguntas sobre os fragmentos mais obscuros de cada aula. Não estou objetivando desenvolver estenógrafos judiciais. Se a meta é produzir uma cópia exata de minhas anotações, eu posso dar-lhas! Mas eu quero que eles se envolvam comigo. Quero olhos nos olhos. Quero ouvidos. Pode ser muita ousadia minha em dizer, eu quero mesmo corações.

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Pode ser que alguns professores sejam secos como torrada e não façam mais do que ler textos de conferência antigos ou arar conteúdo demais sem misericórdia em cima de cérebros limitados (ou bexigas limitadas). Esse é um problema de produção, e não aquele em que um dispositivo de entrada vai resolver. Quero que minhas aulas sejam interessantes. Quero que edifiquem. Perdoem-me por soar como Robin Williams em A Sociedade dos Poetas Mortos, mas eu quero que elas sejam inspiradoras. E isso não significa que eu não quero ver 30 logotipos da Apple iluminados. Quero que as pessoas pensem, sintam, ruminem e lutem enquanto eu falo, sem olhar para uma tela tentando escrever cada palavra que eu digo.

O que significa que eu quero que os alunos façam mais do que deixar seus laptops em casa. Quero que eles encarem a aula como um evento auditivo, digestivo e meditativo. Pode não ser bom o suficiente levar isso a cabo, mas eu adoraria que os alunos chegassem à conclusão, por mais paradoxal que possa soar, de que “este conteúdo é muito bom para eu tentar passá-lo todo para o papel”. Quero pessoas dispostas a ouvir, não gente desesperada para conseguir as anotações perfeitas que levam ao grau perfeito. E se as coisas piorarem, e os alunos acabarem moderadamente entediados por uma hora em vez de infinitamente distraídos, isso também não é ruim.

Traduzido por Leonardo Bruno Galdino e revisado por Jonathan Silveira.

Texto original: Why I’m Not Allowing Laptops in My Seminary Class. The Gospel Coalition.

Kevin DeYoung é o pastor principal da University Reformed Church, em East Lansing (Michigan). Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado em teologia pelo Gordon-Conwell Teological Seminary. É preletor em conferências teológicas e mantém um blog na página do ministério The Gospel Coalition.

3 Comments

  1. Héber Negrão disse:

    Uma boa solução que professores de aderem a esta ideia podem oferecer a seus alunos é permitir que suas aulas sejam gravadas em áudio. Assim os alunos ficariam livres para ouvir, ruminar e meditar durante a aula e, posteriormente, ouvindo a gravação, poderiam tomar todas as anotações necessárias.

  2. Jessé Salvino Cardoso disse:

    Bem sério mesmo, essa razão pois sou professor também entendi o processo que o colega passa em relação aos alunos.

  3. Jessé Salvino Cardoso disse:

    Nosso objetivo é muito melhor, desapareceu o verdadeiro número e sentido de aula.

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