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Recorra a autoridades respeitadas para reforçar suas teses

Se você estiver pregando ou falando a pessoas que têm fortes dúvidas sobre a Bíblia, você deve reforçar os conceitos bíblicos que está defendendo usando material de apoio de fontes nas quais seus ouvintes confiam. É bem conhecido o episódio em que Paulo faz isso, em Atos 17.28, quando ele cita o autor pagão Aratus diante de um público de filósofos pagãos que, de outra forma, não concederiam à Bíblia autoridade alguma.

Muitos se negarão terminantemente a aceitar a ideia de complementar a Bíblia. Não bastaria simplesmente pregar o texto e permitir que a autoridade da Bíblia transparecesse e convencesse as pessoas? A Bíblia tem, de fato, um poder divino, vivo e sem igual, uma capacidade de persuasão penetrante que vem do próprio Deus (Hb 4.12). Contudo, citar outro pensador não é fundamentalmente diferentemente de usar ilustrações extraídas da vida cotidiana para reforçar o ensino da Bíblia. Nenhum pregador lê simplesmente as afirmativas bíblicas para as pessoas. Todos os mestres e comunicadores recorrem a casos interessantes ou cômicos, a exemplos, a histórias e a outros relatos que convençam o ouvinte e tragam compreensão acerca das verdades bíblicas.

Se você estiver pregando sobre o primeiro mandamento (“Não terás outros deuses além de mim” [Êx 20.3]) ou sobre Efésios 5.5 (em que a ganância é chamada de idolatria) ou sobre qualquer uma das centenas de passagens em que a Bíblia fala de ídolos, você poderia citar David Foster Wallace, o falecido romancista pós-moderno. Em seu discurso de formatura no Kenyon College, ele defende com eloquência e de forma contundente que “todos adoram. Nossa única escolha é o que adoramos”.34 Ele diz em seguida que todos devem “extrair o verdadeiro sentido da vida” e qualquer coisa que você use para fazê-lo, seja dinheiro, beleza, poder, intelecto ou outra coisa qualquer, tal coisa assumirá o comando de sua vida porque é, basicamente, uma forma de adoração. Ele enumera as razões pelas quais cada forma de adoração não apenas torna você frágil e o exaure, mas “pode comê-lo vivo”. Se você expuser o argumento de Wallace e usá-lo a favor do ensino bíblico fundamental, até mesmo o público mais secular se calará e ouvirá o que você tem a dizer a seguir.

Se você estiver ensinando sobre os absolutos morais — com base em quaisquer das centenas de textos bíblicos segundo os quais a Palavra de Deus tem autoridade sobre a opinião e a legislação humana —, poderia citar Martin Luther King Jr. e produzir um grande efeito.35 Em sua “Letter from Birmingham jail” [Carta da prisão de Birmingham], ele menciona Agostinho e Tomás de Aquino para dizer que as leis humanas só são justas quando estão em sintonia com a “a lei moral […] a lei de Deus […] a lei eterna”.[1] O exemplo pessoal e o argumento de King desarmam de forma contundente os ouvintes seculares e praticamente garantem atenção para a sua proposição.[2]

Ao pregar sobre o salmo 19 ou Romanos 1, ou sobre tantos outros salmos, ao falar da criação que fala a respeito da existência e da glória de Deus, você poderia citar Leonard Bernstein, que, segundo ele mesmo, quando estava diante de uma grande música e de grande beleza, sentia o “céu”, uma ordem por trás das coisas, “algo em que podemos confiar, que jamais nos desamparará”.[3] Se você estiver ensinando sobre praticamente qualquer passagem que fala do pecado humano e da rebelião — mas especialmente sobre textos como Romanos 8.7, que fala da hostilidade natural do nosso coração em relação a Deus —, faria bem em citar uma passagem notável do filósofo ateu Thomas Nagel, que confessou com sinceridade: “Não é apenas que eu não creio em Deus e, naturalmente, espero estar certo em minha crença. É que eu espero que não haja Deus nenhum! Não quero que haja um Deus: não quero que o universo seja assim […] Esse problema da autoridade cósmica não é uma doença rara”.[4]

Se você estiver pregando sobre Satanás, esteja certo de que seus ouvintes começarão a dar sinais de tédio. Você pode citar Andrew Delbanco, estudioso secular da Universidade de Colúmbia, cujo livro The death of Satan [A morte de Satanás] defende que “se abriu um abismo em nossa cultura entre a visibilidade do mal e os recursos intelectuais disponíveis para lidar com ele”.[5] Delbanco diz que muita gente secularizada atribui compreensivelmente toda crueldade humana à privação psicológica ou ao condicionamento social e, ao fazê-lo, torna triviais os erros terríveis de que são capazes as pessoas. O autor conta a história de Franklin D. Roosevelt, que juntamente com boa parte da elite americana, durante o Holocausto, “não deu prioridade ao socorro” das vítimas. Mais para o fim da guerra, depois que as evidências das atrocidades se tornaram fortes demais para serem desacreditadas, disseram a Roosevelt que lesse Kierkegaard, e o presidente disse que, pela primeira vez, o filósofo cristão lhe dera “um entendimento do que há no homem que lhe torna possível […] ser tão mau”.[6] Delbanco assevera que os liberais seculares (de cujo grupo se considera membro) haviam perdido qualquer conceito de “mal radical”. Se você falar do Diabo perante um público secular, deverá usar fontes como essa para desmantelar a postura de incredulidade irônica que eles, do contrário, assumirão ao ouvir esse ensino bíblico.

Se você estiver pregando sobre o pecado original, poderá citar C. E. M. Joad, intelectual britânico que deixou de ser ateu depois da Segunda Guerra Mundial. “Foi porque rejeitamos a doutrina do pecado original que nós, da Esquerda, estávamos sempre tão desapontados; desapontados com a recusa das pessoas a serem racionais […] com o comportamento das nações e dos políticos […] sobretudo com o fato recorrente da guerra.”[7]

Essa é uma parte crucial da pregação ao coração da cultura. Não há garantia alguma de que você conseguirá persuadir os céticos de sua audiência, mas essas coisas farão com que eles não se desliguem imediatamente daquilo que você diz, ouvindo-o por muito mais tempo. Com frequência, o resultado disso é que respeitarão mais a sabedoria — e, por fim, a autoridade — da Bíblia.[8]

Demonstre compreensão a respeito das dúvidas e objeções

O pregador cristão deve ser um crítico da descrença. Contudo, não há virtude alguma em ser insensível. Será que os que estão em dúvida parecem sentir que você é indiferente, autoritário ou que não leva a sério o que eles pensam, ou eles ficam surpresos, até mesmo chocados, com a forma precisa e imparcial com que você descreve as dificuldades deles em relação ao cristianismo? Eles acham que você consegue expressar o ceticismo deles tão bem quanto, ou até melhor, do que eles mesmos? O comunicador cristão deve mostrar que se lembra (ou pelo menos compreende) muito bem como é não crer, mas ao mesmo tempo asseverando que é possível chegar a uma segurança de fato da realidade e do amor de Deus. Ele deve fazê-lo expressando essas dúvidas e objeções com apreciação e respeito, de forma coerente, mostrando que ouve seu público com seriedade. Isso é algo que não pode ser falseado. Só é possível depois de passar muito tempo face a face com aqueles que não creem, além de ler as melhores críticas ao cristianismo.[9]

Temos de estar dispostos a ouvir por muito tempo, atentamente, as dúvidas, preocupações e esperanças dos descrentes para que, quando falarmos, estejamos de tal forma em sintonia com o ponto de vista deles que eles sentirão a força de nossos apelos e de nossa argumentação. Quando 1Pedro 3.15 diz que devemos dar “a razão da esperança que há em [nós]” (grifo meu), a estudiosa do Novo Testamento Karen Jobes diz que Pedro está dizendo que o “crente deve ser capaz de comunicar a fé cristã ao descrente tratando de suas dúvidas de forma que lhe seja compreensível”.[10]

Como demonstrar essa postura em seu ensino ou pregação? A primeira tarefa consiste em estar sempre ciente de seus próprios pressupostos e de ser transparente em relação a eles. Não faça uma exortação do ponto D, sabendo que ele se baseia na aceitação de A, B e C, sem aludir também a esses pontos. Isso pode significar o seguinte: “Agora, alguns de vocês talvez achem isso improvável, porque não creem nisto… — mas eu lhes pediria que tivessem em mente…”. Mostre a seus ouvintes que você sabe de seus problemas e de suas indagações a respeito do que você acabou de dizer e que refletiu sobre as resoluções e respostas.

Outra forma de envolver diretamente aqueles em dúvida entre os ouvintes é dirigir-lhes a atenção no final de sua mensagem. No fim, na hora de fazer a aplicação do sermão — ao incentivar algumas maneiras de pensar e de viver à luz do texto —, você poderia entrar num rápido diálogo com eles. Diga: “Se você não é crente ou não tem certeza no que crê, gostaria que fosse embora com algo em que pensar…”.

Dirigir-se a qualquer grupo de pessoas diretamente ou por meio de um convite mostra a elas que você sabe que estão ali. Você pode até dedicar um ponto ou pontos secundários de sua mensagem às dúvidas e dificuldades do indivíduo secular. Ao escrever o sermão, tenha em mente as objeções que os céticos fariam ao ensino de um texto específico e, em seguida, reserve um momento para interagir com eles recorrendo ao raciocínio de concordância e discordância. Você poderia dizer: “Sei que há pouco disse coisas que você pode achar ultrajantes, mas peço respeitosamente que pense no seguinte…”. A menos que você esteja falando num ambiente em que a maior parte das pessoas seja cética ou secularizada, não permita que esses temas dominem suas mensagens. Você não deve incorporar esses “adendos apologéticos” mais do que uma vez por sermão, e não os acrescente em todos os sermões.

Esses adendos devem lidar com o que alguns chamam de “invalidadores da fé”. São ideias que, se aceitas, levam as pessoas a pensar: “Se isso é verdade, então o cristianismo não pode ser verdade”. Eis alguns invalidadores (entre outros): “Não pode haver um único caminho para Deus”; “É impossível acreditar em um Deus que manda as pessoas para o inferno”; “A ciência desmascarou o sobrenatural” e “A Bíblia tem muitas partes que são ofensivas, ultrapassadas, que não podem mais ser aceitas”. Se ignorarmos a realidade desses invalidadores, pregando como se as pessoas não os cultivassem, muita gente simplesmente achará impossível acreditar nas coisas que dizemos.[11]

Insisto que a melhor maneira de lidar com as objeções é concordar sinceramente com a crença dos seus ouvintes em algum ponto, mas em seguida colocar em dúvida uma segunda crença equivocada que está na base da primeira. É dizer: “Já que você acredita nisso, por que não acreditar naquilo?”. Cria-se, assim, uma conexão entre a Bíblia e alguma das próprias crenças dos ouvintes, o que pode fazer com que se sintam fortemente levados a aceitar outras coisas que a Bíblia diz.

Se você estiver tentando convencer ouvintes seculares de que há algo mais além deste mundo material, pode citar a observação de Annie Dillard em Pilgrim at Tinker Creek [Peregrino em Tinker Creek]. Diz ela que embora sejamos parte da natureza, em que é perfeitamente natural que o forte domine o fraco, nos recusamos intuitivamente a aceitar tal conceito como padrão do comportamento humano. “Ou este mundo, minha mãe, é um monstro, ou eu sou uma aberração.”[12] Contudo, como podemos considerar o mundo natural anormal e não natural a menos que haja algum padrão acima da natureza — um padrão sobrenatural? Se você não crê que sua crença em direitos humanos seja uma ilusão, se você acha que o genocídio de pessoas fracas por pessoas mais fortes é algo verdadeira e universalmente errado (ponto de contato), então por que não acreditar que há absolutos morais em algum reino além deste mundo (ponto de confrontação)?

Se você estiver discorrendo sobre a autoridade da Bíblia, pode mencionar a importância de ter um relacionamento de amor pessoal com Deus. Sabemos que nas relações em que o amor é mútuo as duas partes devem ser agentes ativos, capazes de contradizer e corroborar uma à outra. Se a pessoa A nunca pode expressar uma opinião contrária à da pessoa B, isto significa que a pessoa B tem uma relação de poder com a pessoa A, e não uma relação pessoal. Agora, se você prefere acreditar só naquelas coisas da Bíblia com as quais você concorda, de que maneira o seu Deus pode contradizê-lo? Somente se seu Deus puder lhe dizer coisas que o contradigam, você saberá que tem um Deus real, e não apenas uma criação da sua imaginação. Portanto, uma Bíblia que tenha autoridade (ponto de contradição) não se opõe a uma relação de amor pessoal com Deus (ponto de contato). É precondição.

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Eis outra maneira de falar a respeito de uma Bíblia revestida de autoridade com pessoas que consideram ofensiva parte do seu conteúdo: “Toda cultura tem elementos bons e ruins, não é mesmo? Não há uma cultura que seja perfeita ou que contenha toda a verdade, certo?”. Este é o ponto de contato — a crença da modernidade tardia de que nenhuma cultura é dona de toda a verdade. É aqui, portanto, que se poderá erguer o ponto de contradição, isto é, sobre o ponto de contato. “Agora, pensando no argumento, imagine que a Bíblia não seja produto de nenhuma cultura humana e de nenhum grupo de autores, e sim uma revelação do próprio Deus. Se assim fosse, ela teria de ofender, em algum ponto, as sensibilidades culturais de todos. Não importa quem você seja, você habita uma cultura imperfeita que dá forma às suas crenças, e a Bíblia — se fosse revelação fidedigna de Deus — teria de afrontá-lo em algum momento. Já que é assim, de nada adianta dizer em relação à Bíblia: ‘Ela me ofende neste ponto’. Isso é precisamente o que você deveria esperar.”

O filósofo cristão Miroslav Volf, em Exclusion & embrace [Exclusão e abraço], diz que a fé em um Deus que julga (ponto de contradição) é um recurso crucial para a não violência (ponto de contato). Falando como croata que é, cujo povo sofreu limpezas étnicas nos anos 1990, Volf diz que “a prática da não violência requer que se acredite na vingança divina”. Se as vítimas da violência não acreditam que há um Deus, ou que Deus nenhum trará uma justiça final sobre a Terra, elas se sentirão justificadas, ou ao menos se sentirão incentivadas, a pegar em armas para se vingar. Portanto, diz Volf, a única maneira de “impedir o recurso à violência por conta própria” consiste em crer plenamente que somente Deus tem esse direito e que ele, um dia, fará o acerto final de todas as contas.[13]

Se você permear sua pregação com esses adendos chamativos e concisos, mas ainda assim penetrantes, não apenas animará o ouvinte secular a voltar, mas também motivará o cristão a trazer seus amigos mais secularizados para ouvi-lo. Fazendo isso, você também estará oferecendo aos crentes um conjunto de minicursos de como lidar com suas próprias dúvidas e responder às questões de seus amigos a respeito da fé.

_____________

[1] Martin Luther King Jr., “Letter from Birmingham Jail”, August 1963, disponível em: http://www.thekingcenter.org/archive/document/letter-birmingham-city-jail-0#, acesso em: jan. 2017.

[2] Outra referência cultural que reforça o ponto em questão diz respeito a W. H. Auden, que havia se desviado da fé, porém, no início da Segunda Guerra Mundial, compreendeu exatamente o que Martin Luther King Jr. disse posteriormente sobre a lei de Deus como um fundamento para julgar a ação do homem. Auden havia abandonado a fé em Deus e se voltado para a ideia da autocriação de identidade e valor, em detrimento de qualquer crença na ordem moral do universo. Isso o deixou sem qualquer base para condenar o fascismo em ascensão na Itália, Espanha e também o nazismo, já que todos eles defendiam suas ações baseando-se nas mesmas fontes de autoexpressão que ele. Conto a história de Auden em Encounters with Jesus: unexpected answers to life’s biggest questions (New York: Dutton, 2013), p. 13-6. [edição em português: Encontros com Jesus: respostas inusitadas aos maiores questionamentos da vida (São Paulo: Vida Nova, 2015)]. Veja tb. Charles Taylor, “The slide to subjectivism”, in: The malaise of modernity (Ontario: Anansi Books, 1991), p. 55-69. Taylor não menciona Auden, mas ele traça as raízes do fascismo e o fascínio pela violência como decorrentes da autoexpressão do movimento romântico.

[3] “Beethoven […] produziu peças de tirar o fôlego com acerto. Acerto — este é o termo! Quando você sente que, seja qual for a nota que se segue à última, é a única possível precisamente naquele instante, naquele contexto, é bem provável então que você esteja ouvindo Beethoven. Melodias, fugas, ritmos — deixe essas coisas para os Tchaikovskys e Hindemiths e Ravels. Nosso garoto tem aquilo que é bom de fato, o poder de fazê-lo se sentir na linha de chegada: existe algo de certo no mundo, existe alguma coisa que ‘bate’ perfeitamente, que segue sua própria lei de forma consistente: algo em que podemos confiar, que jamais nos desamparará” (Leonard Bernstein, The joy of music [New York: Simon & Schuster, 2004], p. 105).

[4] Thomas Nagel, The last word (New York: Oxford University Press: 1997), p. 130 [edição em português: A última palavra (São Paulo: Unesp, 2001).

[5] Andrew Delbanco, The death of Satan: how Americans have lost the sense of evil (New York: Farrar, Straus, and Giroux, 1995), p. 3.

[6] Ibidem, p. 190-2.

[7] Citado em Stuart Babbage, The mark of Cain: studies in literature and theology (Grand Rapids: Eerdmans,1966), p. 17.

[8] Ao mesmo tempo, considere-se o grande perigo da motivação mal orientada nessa área. As chamadas referências culturais — o uso de citações de filmes, música popular, jornais, sites de internet, empresas de mídias sociais, periódicos e livros — podem acabar servindo sobretudo para dar credibilidade pessoal ao orador. Talvez você recorra a elas para parecer sofisticado, erudito ou antenado. Talvez espere que as pessoas o aceitem como “uma delas” porque você está bem-informado ou é simplesmente acessível e normal. Se essa é a resposta que você obtém das pessoas (ou pior, se é isso que você efetivamente quer ou precisa receber delas), deverá admiti-lo e mudar sua motivação. Se for essa sua motivação, terá escolhido as referências culturais para chamar a atenção para si, em vez de tornar visíveis e desafiar as crenças da cultura secular, além de pôr a nu o coração dos seus ouvintes. Esse deveria ser seu único objetivo.

[9] Um bom exemplo disso é a escritora católica Flannery O’Connor: “Não creio que ninguém deva escrever algo tão extenso quanto um romance a não ser que seja em torno de alguma coisa que seja muito importante para ela e para as demais pessoas. E, para mim, essa coisa é sempre o conflito entre a atração pelo que é Santo e pela falta de fé nele que respiramos no ar do nosso tempo. É sempre difícil acreditar, sobretudo no mundo em que vivemos atualmente. Alguns de nós têm de pagar por sua fé a cada passo, esforçando-se para imaginar como seria se ela não existisse e se, sem ela, no fim das contas, seria possível existir ou não” (citado em James K. A. Smith, How [not] to be secular [Grand Rapids: Eerdmans, 2014], p. 10-1).

[10] Karen H. Jobes, 1 Peter, Baker exegetical commentary on the New Testament (Grand Rapids: Baker, 2005), p. 231.

[11] Veja mais exposições e exemplos de desafio e confrontação cultural em Timothy Keller, Center church, p. 124-8. Alguns dos exemplos aqui apresentados foram extraídos dessa parte do livro Center church, bem como de Timothy Keller, The reason for God: belief in a age of skepticism (New York: Dutton, 2008) [edição em português: A fé na era do ceticismo (São Paulo: Vida Nova, 2015)].

[12] Mais dessa passagem: “Este mundo [natural] que gira impulsionado pelo acaso e pela morte, deslocando-se cegamente de lugar nenhum para nenhum lugar, de algum modo produziu esta maravilha que somos nós. Eu vim do mundo, saí com dificuldade de um mar de aminoácidos e agora é hora de me virar para esse mar, sacudir-lhe meu punho fechado e gritar: “Que vergonha!” […] Ou este mundo, minha mãe, é um monstro, ou eu sou uma aberração […] Não há nenhuma pessoa no mundo que se comporte tão mal quanto o louva-a-deus. Mas, espere, você diz, não há certo ou errado na natureza; o certo e o errado são um conceito humano! Precisamente! Somos criaturas morais num mundo amoral […] Pense na alternativa […] É o sentimento humano que está bizarramente fora de ordem […] Muito bem — são nossas emoções que estão fora de ordem. Somos aberrações, o mundo está bem, então vamos todos fazer uma lobotomia para voltarmos ao nosso estado natural. Sairemos então […] de lobotomia feita, voltaremos ao riozinho e viveremos às suas margens tranquilos como um rato-almiscareiro ou um junco. Você primeiro” (Annie Dillard, Pilgrim at Tinker Creek [New York: Harper Perennial Modern Classics, 2007], p. 178-9).

[13] O ponto de contato de Volf é nosso desejo desesperado de homens modernos de que os inimigos façam as pazes de forma não violenta. Seu ponto de contradição trabalha sobre isso contrariamente à intuição. Ele conclui: “É preciso a tranquilidade de uma casa de classe média para o surgimento da tese de que a não violência humana é resultado de um Deus que se recusa a julgar”. A fé em um Deus que julga e se vinga é, na verdade, um recurso fundamental contra a não violência! Essas citações foram extraídas de Miroslav Volf, Exclusion & embrace: a theological exploration of identity, otherness, and reconciliation (Nashville: Abingdon, 1996), p. 303-4. C. S. Lewis apresenta um argumento muito diferente para os que veem com ceticismo a ideia de um Deus de ira e de juízo. Em uma passagem de O problema do sofrimento, Lewis diz que, quando amamos alguém, ficamos irados quando surge alguma coisa que fere ou arruína essa pessoa. Se um pai ama uma filha, e ele a vê arruinando sua vida, ele se ira não a despeito do seu grande amor por ela, mas por causa desse mesmo amor. O ponto de contato com o homem secular consiste no conforto com o conceito de um Deus de amor. Lewis, porém, passa do contato para a contradição ao dizer: “Se você crê num Deus de amor, terá de crer em um Deus que se ira contra o pecado”. (Cito este último exemplo em Center church, p. 126.)

Trecho extraído e adaptado da obra “Pregação: Comunicando a fé na era do ceticismo“, de Timothy Keller, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2017, pp. 127-135. Traduzido por A. G. Mendes. Publicado com permissão.

Timothy Keller nasceu e cresceu na Pensilvânia, com formação acadêmica na Bucknell University, no Gordon-Conwell Theological Seminary e no Westminster Theological Seminary. Ele é pastor da Redeemer Presbyterian Church, em Manhattan. Já esteve na lista de best-sellers do New York Times e escreveu vários livros, entre eles A fé na era do ceticismo, Igreja centrada, A cruz do Rei, Encontros com Jesus, Ego transformado, Justiça generosa, entre outros, todos publicados por Vida Nova.
Em Pregação, Timothy Keller divide com o leitor a sabedoria acumulada em anos de pregação e ensina a transmitir a fé cristã tanto por meio da pregação como em uma cafeteria. A maioria dos cristãos — mesmo pastores — tem dificuldade de falar sobre sua fé de uma maneira que consiga aplicar o poder do evangelho para a transformação das pessoas.

Timothy Keller é conhecido por sermões e palestras perceptivos e práticos que ajudam as pessoas a entender a si mesmas, encontrar Jesus e aplicar a Bíblia à vida. Neste guia acessível tanto a pastores quanto a leigos, Keller ajuda o leitor a apresentar a mensagem cristã da graça de maneira convidativa, apaixonada e compassiva.

Publicado por Vida Nova.

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