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No quarto ano, no mês de zive, lançaram-se os alicerces da casa do Senhor. E no décimo primeiro ano, no mês de bul, que é o oitavo mês, a casa foi concluída em todas as suas partes e de acordo com todas as suas especificações. Durante sete anos ele a construiu (1Rs 6.37,38).

O incêndio que devastou o Castelo de Windsor, na Inglaterra, foi uma catástrofe com um preço altíssimo. Para ajudar a pagar os reparos, que custaram milhões de libras esterlinas, a rainha Elizabeth II abriu sua casa para visitantes. Pela primeira vez na história, turistas comuns podiam pagar um pequeno valor para ter o privilégio de caminhar pelo Palácio de Buckingham.

A abertura do palácio à visitação proporcionou um raro vislumbre do esplendor da rainha. Para saber como as pessoas são, é útil ver onde elas vivem, e, no caso da rainha da Inglaterra, seu lar revela sua majestade. Pessoas que tiveram a sorte suficiente de visitar o Palácio de Buckingham, como foi o meu caso, viram os aposentos régios da rainha, com seus ornamentos dourados e obras-primas famosas. Caminharam pelos magníficos jardins particulares. Entraram em sua sala de audiência para contemplar o trono dourado. Ver o palácio real foi experimentar a glória do reino de Elizabeth.

O Primeiro Livro de Reis nos proporciona uma experiência parecida, levando-nos a uma visita guiada ao Templo de Salomão, a casa de Deus. Às vezes as pessoas se perguntam como Deus é de fato. Como jamais o vimos face a face, pode ser difícil ter uma ideia clara de sua verdadeira e impressionante glória. Visitar a casa que Salomão construiu pode nos ajudar a conhecer melhor a Deus. Quando examinamos a construção, sondando o esquema da estrutura e os detalhes do projeto, aprendemos sobre o caráter do Deus que viveu ali.

Uma linda casa

O texto de 1Reis 6 começa com uma declaração formal que apresenta o templo e anuncia o início de sua construção. O capítulo termina com uma declaração parecida, descrevendo sua conclusão: “No quarto ano, no mês de zive, lançaram-se os alicerces da casa do Senhor. E no décimo primeiro ano, no mês de bul, que é o oitavo mês, a casa foi concluída em todas as suas partes e de acordo com todas as suas especificações. Durante sete anos ele a construiu” (v. 37,38).

Estudiosos da Bíblia descreveriam essa técnica literária como moldura: algo no final do texto faz paralelo com algo no início e inclui tudo o que estiver no meio. A primeira parte do capítulo (v. 2-10) descreve a estrutura externa do templo. Então Deus interrompe a descrição desse projeto de construção para enumerar a Salomão todas as bênçãos por vir caso ele seja fiel em guardar os mandamentos da aliança com Deus (v. 11-13). O restante do capítulo mostra como o interior do templo foi concluído (v. 14-36) — a decoração que transforma uma casa em um lar.

Visto que apenas os sacerdotes eram autorizados a entrar no templo em si, a maioria dos israelitas jamais veria como ele era. Entretanto, 1Reis 6 nos conduz a uma visita dentro do templo. Enquanto visitamos o Templo de Salomão, devemos fazer a nós mesmos a seguinte pergunta: Que tipo de Deus viveria nesse tipo de casa? A resposta é que ele é um Deus que ama a beleza, um Deus que reina com uma glória majestosa e habita em uma santidade incomparável. Surpreendentemente, ele também é um Deus que nos convida a entrar e habitar com ele.

A primeira coisa que notamos no interior do Templo de Salomão é sua beleza:

De modo que Salomão edificou aquela casa e a concluiu. Revestiu o lado de dentro das paredes da casa com tábuas de cedro. Do chão da casa até o teto, do lado de dentro, ele as cobriu com madeira, e cobriu o chão da casa com tábuas de cipreste. Construiu vinte côvados na parte de trás da casa com tábuas de cedro do piso do chão até as paredes e o fez como um santuário interno, como o Lugar Santíssimo. A casa, isto é, a nave na frente do santuário interno, media quarenta côvados de comprimento. O cedro dentro da casa foi esculpido na forma de cuias e flores abertas. Tudo era de cedro; não se via nenhuma pedra (v. 14-18).

Salomão construiu seu templo com pedras lavradas trazidas das montanhas, mas dentro tudo era coberto de cedro — não apenas o santuário principal, mas também o Lugar Santíssimo. Cedros dão uma linda madeira, de modo que Salomão havia adquirido de Hirão, rei de Tiro (1Rs 5.1-12), uma grande quantidade. Logo que a principal estrutura foi construída, Salomão revestiu suas paredes inteiramente de cedro. O chão também era feito de madeira — nesse caso, de cipreste, que é mais resistente que o cedro e mais apropriada para uma grande circulação de pessoas. Até onde sabemos, os tipos de madeira usados por Salomão não têm nenhum significado simbólico. No entanto, a madeira era bela, o que era motivo suficiente para utilizá-la: Salomão quis que essa casa fosse bela por dentro e por fora.

A madeira de cedro no interior do templo foi belamente decorada. Foi esculpida “… na forma de cuias e flores abertas…” (1Rs 6.18), como era a moda na época, pois decorações com motivos florais eram típicas do antigo Oriente Próximo[1]. Embora não saibamos qual foi a exata forma de decoração usada no Templo de Salomão, é fácil imaginar fileiras de flores desabrochando nas paredes, não por qualquer função utilitária, mas simplesmente por sua beleza.

Toda essa decoração nos diz algo importante acerca de Deus. O interior do Templo de Salomão era adornado com árvores, frutos e flores vistos no mundo criado por Deus, e, dessa forma, sua decoração refletia a beleza da criação e volta ao seu criador. Ele é um Deus que ama a beleza, que aprecia o trabalho artístico e mantém padrões estéticos elevados: “Esplendor e majestade estão diante dele; força e beleza estão em seu santuário” (Sl 96.6).

O amor de Deus pela beleza fica evidente nas coisas que ele fez. O universo está cheio de grande esplendor, desde as nebulosas de estrelas no espaço longínquo até o choupo amarelo na encosta rochosa de uma montanha. Agostinho se indaga:

Que palavras poderiam descrever adequadamente a beleza e a utilidade da criação, concedidas ao homem pela generosidade divina para sua contemplação e apreciação? Considere as inúmeras e variadas expressões de beleza do céu, da terra e do mar; a abundância de luz e sua maravilhosa peculiaridade, no sol, na lua e nas estrelas nas sombras das florestas; a cor e a fragrância das flores; a diversidade e a infinidade de aves, com seus cantos e cores brilhantes; as multiformes espécies de seres vivos de todos os tipos, dos quais observamos até mesmo o menor com a maior admiração. […] Considere também o grande espetáculo do mar, trajando-se de diferentes cores, como se fossem roupas: às vezes verde, e em um número tão grande de tonalidades, às vezes roxo, às vezes azul. […] Quem poderia apresentar uma explicação completa de todas essas coisas?[2]

Deus não apenas cria e ama a beleza, mas ele próprio é um Deus belo. A fonte de toda e qualquer beleza que vemos no universo é a formosura do próprio Deus. Ele é “infinitamente o mais belo e excelente”, o “fundamento e fonte de toda a beleza”, escreveu Jonathan Edwards. “Toda a beleza que venha a ser encontrada na totalidade da criação é […] reflexo dos raios difusos daquele ser que tem brilho e glória totalmente infinitos”.[3]

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Quando o pai de Salomão sonhou em construir um templo para ali adorar, o motivo disso foi principalmente que ele queria ver essa beleza com os próprios olhos. “Uma coisa tenho pedido ao Senhor…”, disse Davi, “… que eu possa habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar em seu templo” (Sl 27.4). A beleza de Deus não é sua aparência externa, mas seu caráter íntimo. Deus é belo no amor que demonstra a seus filhos, na misericórdia que demonstra a pecadores perdidos e na perfeita harmonia de todos os seus atributos divinos.

Vemos a beleza de Deus mais claramente na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo. Não que Jesus fosse especialmente bonito em sua aparência física. Aliás, a Bíblia diz exatamente o contrário: “… ele não tinha formosura nem esplendor para que olhássemos para ele e nenhuma beleza para que o desejássemos” (Is 53.2). No entanto, Jesus Cristo é mais belo que qualquer outra pessoa. É belo por causa da perfeição de seu amor e do elevado preço de seu sacrifício. Apesar de sua aparente feiura, sua morte na cruz foi a coisa mais bela que alguém já fez: uma vida perfeita oferecida em sofrimento e dor para que todo o que nele crê fosse perdoado.

Agora Deus está fazendo algo belo conosco. O Espírito Santo está atuando na feiura de nosso pecado, tornando-nos mais parecidos com Cristo e, por isso, cada vez mais belos o tempo todo. Essa beleza não é apenas individual, mas também comunitária, à medida que Deus constrói sua igreja como “… um templo santo no Senhor” e à medida que somos “… edificados conjuntamente em habitação para Deus pelo Espírito” (Ef 2.21,22).

Se nosso Deus é um Deus assim tão belo, então nós — mais do que quaisquer outras pessoas — devemos ter o mais elevado apreço pela beleza. Quando cristãos se contentam com padrões estéticos baixos, comprometemos o caráter de nosso Deus. Por isso, observe as folhas avermelhadas nas árvores, escute o grasno da águia selvagem, admire a pincelada da pintura na tela, ouça a música harmoniosa e, em seguida, retribua com louvor a seu Criador. Faça com suas mãos coisas bonitas que deem testemunho do caráter de Deus e dos planos brilhantes dele para o futuro. Procure embelezar a cidade, para que as pessoas possam ver na igreja uma comunidade que cuida das necessidades estéticas da alma humana. Tenha um cuidado maior com a beleza crescente de seu caráter lá no íntimo do que com os atrativos exteriores da aparência física. Cultive um amor pela beleza que honre a seu belo Deus. Faça da oração de Moisés sua própria oração: “Que a beleza do Senhor, nosso Deus, esteja sobre nós…” (Sl 90.17, KJV).

________________________

[1] William G. Dever, “Palaces and temples in Canaan and ancient Israel”, in: Civilizations of the ancient Near East (New York: Scribners, 1999), 4 vols., 1:608.

[2] Augustine, The city of God, tradução para o inglês por R. W. Dyson (Cambridge: Cambridge University Press, 1998), 22.24 [edições em português: A cidade de Deus contra os pagãos, tradução de Oscar Paes Leme, coleção Pensamento Humano (Petrópolis: Vozes, 2012); A cidade de Deus, tradução de J. Dias Pereira (Lisboa: Fundação Calouste Gulberkian, 1991-2011]).

[3] Jonathan Edwards, True virtue (1765), in: John E. Smith, org., The works of Jonathan Edwards (New Haven: Yale University Press, 1957- ), 8:550-1.

Trecho extraído e adaptado da obra “Rei Salomão: as tentações do dinheiro, sexo e poder”, de Philip Ryken, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2018, pp. 113-118. Traduzido por Marcio Loureiro Redondo. Publicado no site Tuporém com permissão.

Philip Ryken é doutor em teologia histórica pela Universidade de Oxford e presidente do Wheaton College Seminary. Foi pastor da igreja Tenth Presbyterian Church, na Filadélfia, e escreveu mais de cinquenta livros, como "As doutrinas da graça", "Rei Salomão: as tentações do dinheiro, sexo e poder" e "Amar como Jesus ama", publicados por Vida Nova.

O rei Salomão tinha toda a fama e fortuna que qualquer homem desejaria. Era o rei mais sábio e rico do mundo. No entanto, tragicamente trocou tudo isso por amor ao dinheiro, pelos prazeres do sexo e pelos poderes de um reino terrestre.

Ao estudar a vida de Salomão, vemos tanto a verdadeira grandeza quanto o trágico fracasso de nossa própria humanidade — desde a devoção piedosa até os excessos do egoísmo. Mesmo em nossas melhores intenções, todos somos propensos a sucumbir às mesmas tentações provocadas por dinheiro, sexo e poder. Mas, se nem mesmo a incrível sabedoria de Salomão pôde impedi-lo de erros tão trágicos, como podemos triunfar sobre esses mesmos impulsos pecaminosos?

Neste estudo rico e centrado em Cristo sobre a vida de Salomão, Philip Ryken mostra como a graça de Deus nos ajuda a resistir e a buscar a glória de Deus em meio às tentações.

Com guia de estudo ao final de cada capítulo.

Publicado por Vida Nova.

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