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Por que as pessoas rejeitam Jesus? Por ser alguém com um profundo interesse em doutrina e apologética, eu geralmente me concentro nas razões mais intelectuais para a incredulidade. Eu descobri que os céticos geralmente ignoram boa teologia, usam fatos históricos imprecisos e são fracos no emprego da lógica e da filosofia. Por isso, o meu objetivo é instruí-los com delicadeza nessas áreas, usando provas e argumentos para ajudá-los a entender os ensinos da ortodoxia e os motivos pelos quais devemos crer que a visão cristã do mundo é verdadeira. Mas eu também sei que mesmo que eu tenha sucesso na minha argumentação, ela não vai necessariamente fazer um cético crer em Jesus. Há uma miríade de fatores em jogo. Discorro sobre seis deles aqui.

Cristãos se comportando mal

As pessoas que se chamam de cristãs podem ser verdadeiros idiotas, não há como negar esse fato. Sejam pregadores segurando placas de ódio ou motoristas com adesivos de peixe nos seus carros fazendo gestos obscenos no trânsito, os crentes muitas vezes não mostram muita mansidão e compaixão. Isso afasta as pessoas do Cristianismo. Depois de escrever A Morte da Fé, Sam Harris foi motivado a escrever sua Carta a Uma Nação Cristã, em parte porque ele recebeu muitas cartas dizendo como ele estava errado em não acreditar em Deus. Ele diz “As mensagens mais hostis vieram de cristãos. É uma ironia, pois os cristãos em geral imaginam que nenhuma religião transmite tão bem como a sua as virtudes do amor e do perdão. A verdade é que muitos que afirmam ter sido transformados pelo amor de Cristo são intolerantes à crítica.” (Carta a Uma Nação Cristã, p. 13, Companhia das Letras, 1ª reimpressão).

Não há dúvida de que os cristãos muitas vezes são imorais, e isso causa danos imensos à causa de Cristo. Como a Gaudium et Spes ressalta, “Pelo que os crentes podem ter tido parte não pequena na gênese do ateísmo … pelas deficiências da sua vida religiosa, moral e social, se pode dizer que antes esconderam do que revelaram o autêntico rosto de Deus e da religião.” (19). Se o seu parceiro de conversa parece resistir mais aos cristãos do que a Jesus ou ao Cristianismo, então pode ser que ele tenha sido prejudicado por crentes no passado.

Coração partido

Quando Russell Baker tinha 5 anos de idade, seu pai teve que ser levado às pressas ao hospital e faleceu logo depois. Como o colunista do New York Times relata em sua autobiografia, que foi recorde de vendas, esse acontecimento foi fundamental em sua vida:

“Pela primeira vez eu pensei de verdade em Deus. Entre suspiros eu falei para a Bessie [a governanta da família] que se Deus era capaz de fazer coisas assim às pessoas, então Ele era detestável e não tinha mais utilidade para mim. Bessie me falou sobre a paz do Céu e a alegria de estar entre os anjos, e sobre a alegria do meu pai, que já estava lá. Esse argumento não acalmou a minha fúria. ‘Deus ama a todos nós como Seus filhos’, Bessie disse. ‘Se Deus me ama, por que Ele deixou meu pai morrer? ’ Bessie disse que eu entenderia algum dia, mas ela estava só parcialmente certa. Naquela tarde, embora eu não conseguisse juntar as palavras desta maneira naquela época, eu decidi que Deus era muito menos interessado nas pessoas do que qualquer pessoa de Morrisonville admitiria. Naquele dia eu decidi que Deus não era totalmente digno de confiança. Depois daquilo eu nunca mais chorei com convicção real, nem esperei muito do Deus de ninguém além de indiferença, nem amei profundamente sem o medo de que isso me machucasse. Com cinco anos eu havia me tornado cético.” (Growing Up, p. 61)

A história do coração partido de Baker (que é bastante comum) é bastante reveladora no tocante à psicologia do ceticismo. Tenho certeza de que a maioria de nós pode pensar em alguém que conhecemos que tem raiva de Deus por causa de alguma tragédia em sua vida. Quase sempre, ao que parece, essa raiva anda de mãos dadas com a negação da própria existência de Deus. Um estudo recente conduzido pela psicóloga Julie Exline (link em inglês) da Case Western Reserve University dá suporte a essa ideia. Depois de estudar estudantes universitários, sua pesquisa mostrou que “ateus e agnósticos relataram ter mais raiva de Deus em suas vidas do que os crentes. Um outro estudo também observou esse padrão entre pessoas de luto.” Se os ateus e os agnósticos têm raiva de Deus, o que eles falam sobre seu ceticismo? Ele parece sugerir que o rótulo intelectual que eles usam é motivado mais pela dor do que pela análise racional das provas.

Ausência do pai

Infelizmente, a situação de Baker o deixou particularmente propenso a tal reação. Como Paul Vitz argumenta em seu livro provocador e persuasivo Faith of the Fatherless, a ausência do pai, ou a presença de um pai defeituoso (que seja abusivo, fraco ou covarde, por exemplo) podem ter um papel importante na escolha dos filhos de se tornarem ateus.

A “hipótese do pai defeituoso”, de Vitz, sugere que um relacionamento difícil com o pai dificulta a aceitação de que supostamente existe um Pai amoroso no Céu. Vitz formulou esta teoria enquanto estudava as vidas dos “grandes” ateus da história, incluindo Hume, Schopenhauer, Nietzsche, Russell, Sartre, Camus, Hobbes, Voltaire, Butler e Freud. Todos eles tiveram pais que morreram quando eles eram bem jovens, ou que eram “defeituosos” em alguma área importante de suas vidas. James Spiegel constatou que esse princípio também se aplica a vários céticos da atualidade, incluindo Daniel Dennett e Christopher Hitchens. (The Making of an Atheist, p. 68)

Obviamente, isso não significa que todas as crianças que não têm seus pais se tornarão ateus um dia, e há várias qualificações e sutilezas no argumento de Vitz sobre os quais não vou discorrer aqui. Entretanto, a intenção de Vitz é mostrar algo que devemos ter em mente quando conversamos com ateus; a ideia que os seres humanos fazem de Deus naturalmente segue o padrão estabelecido pelos seus pais, também humanos. Quando o pai é ausente ou não é amoroso, “a decepção e o ressentimento de um ateu sobre seu pai justificam inconscientemente a sua rejeição a Deus” (Vitz, 16). Na cultura americana, onde um terço de nossas crianças estão crescendo sem seus pais biológicos e 40% dos bebês nascem de mães solteiras (link em inglês), pode-se esperar que esse problema seja muito mais frequente no futuro.

Pressões sociais

O próprio Vitz se tornou ateu na faculdade, e mostra uma avaliação sincera de seus motivos: “Depois de refletir sobre o assunto, vi que os motivos que me tornaram (e me mantiveram) um ateu-cético dos 18 aos 38 anos de idade eram, em geral, superficiais, além de lhes faltarem sérios fundamentos morais e intelectuais” (Vitz, 139). Ele escreve que aceitou as ideias apresentadas a ele por acadêmicos sem sequer realmente estudá-las ou questioná-las. Então por que ele as aceitou? Um motivo foi o “mal-estar social” (134). Vitz tinha vergonha de ter nascido no Centro-Oeste dos Estados Unidos, que “era terrivelmente maçante, limitado e provinciano” comparado à cidade grande. Ele queria “participar e estar confortável no novo e deslumbrante mundo secular” para o qual ele estava se mudando, como fizeram vários de seus colegas de classe (135). Ele também queria ser aceito em seu campo científico, então da mesma maneira que ele havia aprendido a se vestir como um aluno de faculdade escolhendo as roupas certas, ele aprendeu a “pensar como um psicólogo escolhendo as ideias e atitudes certas – isto é, ateus” (135).

Michael Shermer, editor-chefe da revista Skeptics Magazine (“Revista Céticos”, em inglês) e diretor executivo da The Skeptics Society (“Sociedade dos Céticos”, em inglês), dá uma explicação parecida para a história da sua desconversão:

“Socialmente, quando eu troquei o teísmo pelo ateísmo e pela ciência como visão de mundo, eu acho, para ser honesto, que eu apenas gostava dos cientistas, seus livros e seu estilo e modo de viver. Eu gostava mais daquilo do que dos livros religiosos, do que das pessoas religiosas com as quais eu estava saindo – apenas socialmente. Eu apenas me senti mais confortável. … Na verdade, penso que a maioria de nós desenvolve a maioria das nossas crenças por motivos irracionais, para então justificarmos estes motivos depois do fato.”

Bem, eu não tenho certeza se a maioria das pessoas faz isso ou não, mas com certeza parece ser o caso de vários céticos. Novamente, eles não avaliam evidências nem tomam decisões justificadas. Eles se tornam descrentes porque gostam de como se sentem ao serem aceitos pelo grupo “dos legais”.

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O preço do discipulado

G. K. Chesterton disse que “O ideal cristão não foi julgado e achado em falta. Ele provou-se difícil e não foi julgado” (O que há de Errado com o Mundo). Isso resume outra razão do ceticismo: seguir Jesus é difícil!

Por exemplo, Vitz admite que a “inconveniência pessoal” foi outro fator importante para se tornar um ateu: “A religião toma uma parte do nosso tempo, não somente nas manhãs de domingo; a prática séria de qualquer religião exige muito mais do que isso. Existem outros cultos da igreja, como também se deve ter tempo para orar e ler as Escrituras, sem falar na prática de ‘boas obras’ de vários tipos. Eu era ocupado demais para essas atividades que consomem muito tempo” (Vitz, 136, 137).

O filósofo Mortimer Adler se converteu ao Cristianismo na casa dos oitenta anos, depois de passar décadas de sua vida recusando fazer tal compromisso. Durante esse tempo ele admitiu que adotar uma fé específica seria simplesmente muito difícil para ele. Isso iria “exigir uma mudança radical no meu modo de viver, uma alteração básica tanto das minhas escolhas diárias como também dos objetivos finais que deveriam ser buscados. … A verdade nua e crua é que eu não queria viver me conformando a ser uma pessoa genuinamente religiosa” (Philosopher at Large, 316).

Em casos assim, o ceticismo é simplesmente a racionalização de um desejo de não sair da própria zona de conforto. As pessoas não querem assumir o compromisso que o Cristianismo exige, então eles afirmam que ele é falso.

O papa João Paulo II disse que essa atitude também pode levar a um ressentimento e até ódio de religião. “Quando queremos atingir ou realizar um grande valor, isso exige um grande esforço da vontade. Eis porque para livrar-nos subjetivamente desse esforço, para justificar-nos a nós mesmos pela falta dessa virtude, diminuímos a sua importância, recusando-lhe o valor que na realidade ela tem. Vemos nela até um mal” (Amor e Responsabilidade, p.125, Edições Loyola). Com certeza, isso ajudaria a explicar um pouco do desprezo que vemos entre os céticos modernos com relação ao Cristianismo. Se você se deparar com um descrente que menospreza a sua fé ao invés de usar argumentos justificados, este pode ser o motivo.

Imoralidade

Agora, o motivo principal do artigo. De todas as motivações e razões para o ceticismo que eu encontro, a imoralidade, sem dúvida, é a mais comum. Particularmente, o pecado sexual parece ser o fator que mais gera a incredulidade na cultura americana. Brant Hanson (link em inglês) chama o sexo de “O Grande Porém” porque ele ouve “‘Eu gosto de Jesus, PORÉM…’ com muita frequência dos descrentes, e esse ‘porém’ é seguido, geralmente, de uma forma ou de outra, por alguma objeção com relação à Bíblia e… por sexo. As pessoas pensam que há algo bastante errado com um sistema religioso que diz que dois adultos solteiros, com o consentimento de ambos, devem se abster do sexo.” Em outras palavras, as pessoas simplesmente não querem seguir o ensinamento cristão que diz que a relação sexual deve acontecer somente entre um homem e uma mulher que são casados, então eles abrem mão da religião inteira.

A maneira mais fácil de justificar o pecado é negar que existe um criador para fornecer a realidade com a natureza, negando, assim, que não haja qualquer ordem e propósito inerentes no universo.

Aldous Huxley admitiu que esse é um motivo comum para o ceticismo:

“Eu tinha motivos para não querer que o mundo tivesse um sentido; consequentemente, eu supus que ele não tinha e pude encontrar razões satisfatórias para essa suposição sem dificuldade alguma. As pessoas que não encontram sentido no mundo geralmente o fazem porque, por uma razão ou outra, o fato de o mundo não ter sentido é condizente com o que seus livros dizem. … Para mim e para a maioria dos meus contemporâneos, sem dúvida, a filosofia da falta de sentido foi, essencialmente, um instrumento de libertação. A libertação que desejávamos era … libertação de … um certo sistema de moralidade. Nós nos opusemos à moralidade porque ela interferia com a nossa liberdade sexual…. Havia um método simples e admirável na nossa revolta política e erótica: nós podíamos negar que o mundo tivesse algum sentido. Táticas similares a essa haviam sido adotadas durante o século XVIII, e pelas mesmas razões.” (Ends and Means, 270-273)

Realmente, táticas similares a essa têm sido usadas extensivamente até os dias de hoje. Se você está procurando por duas ótimas fontes que documentam até que ponto o trabalho dos “grandes” pensadores ateus do mundo foi “calculado para justificar a vergonha da sua própria depravação“, (Spiegel, 72) eu recomendo Intellectuals, de Paul Johnson, e Degenerate Moderns: Modernity as Rationalized Sexual Misbehavior, de E. Michael Jones. A questão central desses trabalhos, na realidade, é que esses estudiosos céticos não chegaram às suas conclusões seguindo o caminho para o qual suas evidências os levaram, eles viveram vidas pecaminosas (geralmente envolvendo algum tipo de depravação sexual) e então produziram teorias que justificassem seus atos.

Esta conexão entre imoralidade e pensamentos doentios é claramente bíblica. Paulo adverte os efésios para que eles “não vivam mais como os gentios, que vivem na futilidade dos seus pensamentos. Eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento dos seus corações. Tendo perdido toda a sensibilidade, eles se entregaram à depravação, cometendo com avidez toda espécie de impureza” (Ef 4:17b-19). Paulo atribui ao coração endurecido a culpa da futilidade dos pensamentos e do entendimento obscurecido. Quando comparamos esta passagem com Romanos 1, parece que a imoralidade e más ideias trabalham juntas em um círculo vicioso que forma uma espiral para baixo. O pecado leva a falsas filosofias que, por sua vez, levam a mais pecados.

“Portanto, a ira de Deus é revelada do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça, pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se obscureceram. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis. Por isso Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos dos seus corações, para a degradação dos seus corpos entre si. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém.” (Rm 1:18-25, NVI)

Então Paulo argumenta que a natureza da realidade é clara para todos, mas as pessoas escondem a verdade com as suas iniquidades. Pessoas rebeldes se tornam tolas quando negam o sentido óbvio da criação por causa dos seus pecados. Sua tolice os leva a ceder a ainda mais imoralidade. Assim, a imoralidade está intimamente ligada ao ceticismo e nós precisamos estar atentos de que quase sempre o pecado será, pelo menos, uma questão fundamental em nossas conversas.

Este é um artigo adaptado do livro How to Talk to a Skeptic (Bethany House, 2013), de Donald J. Johnson.

Traduzido por Filipe Espósito e revisado por Maria Gabriela Pileggi.

Texto original aqui.

Donald J. Johnson é presidente do Don Johnson Evangelistic Ministries. Possui um BA em teologia, missões e estudos interculturais pela San Jose Christian College, um MA em apologética cristã pela Biola University e um MA em teologia pela Franciscan University of Steubenville. Don e sua esposa têm quatro filhos e vivem na Califórnia.

2 Comments

  1. Valdeildson Monteiro disse:

    Muito bom.

  2. alcemi cerqueira viana disse:

    gosto muito de história SÓ cristianismo gostaria de receber novidades para crescimento espirial.

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