Expedição em busca da verdade – Parte 12: Existe um Ser Supremo? | Fábio Mendes

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Expedição em busca da verdade – Parte 12

Esta é uma série intitulada “Expedição em busca da Verdade”, que tem por objetivo fornecer uma perspectiva racional e filosófica a respeito da existência de Deus e da veracidade do Cristianismo. Clique aqui para conferir todos os textos da série.

O próximo passo lógico na minha investigação envolveria analisar a possível existência de um Ser Supremo. Note que tenho uma relutância em falar “Deus” neste estágio da expedição. A razão é lógica: a palavra “Deus” traz consigo muito mais conteúdo e definição do que é preciso nesse estágio. Neste momento, não faz sentido discutir os atributos de Deus etc., sem mesmo analisar a existência de um Ser supremo.

A maneira mais lógica que vejo para discutir este assunto começa em uma discussão de nossa origem. Não origem no sentido científico, pois a ciência tem que começar a partir da natureza existindo como premissa básica. Isso não é suficiente para mim. Em expedições futuras, abordarei a questão da evolução, criação, etc. Por que existe o que existe ao invés de não existir? Não seria mais fácil não existir do que existir? Começar já diretamente partindo da premissa de que a natureza sempre existiu me parece um passo muito grande para ser dado logo no começo da análise.

Começo então fazendo uma análise de causas e efeitos. Em tudo o que analisamos um efeito sempre vem de uma causa anterior. Se você empilha dominós, eles não começarão a cair enquanto você não bater no primeiro. Essa primeira causa leva a uma sequência de causas e efeitos fazendo com que todos os dominós caiam. Isto é lógico e fundamental. No entanto, não é tão simples assim. A razão é porque, no exemplo dado, eu tive que bater no primeiro dominó. Posso afirmar que essa foi a causa inicial? Não necessariamente. Se formos analisar em detalhe, a pessoa que começou a derrubar os dominós também teve uma causa inicial. Mas, se formos ainda mais além, meu pai e minha mãe também tiveram uma causa e assim sucessivamente. Onde terminamos? Há duas alternativas de se imaginar como isto funciona:

Essas causas e efeitos seguem no passado infinitamente

Seria possível que essas causas sigam de um modo infinito no passado? A princípio parece fazer sentido. No entanto, um simples teste mental coloca em risco a lógica deste raciocínio: nós estamos olhando do presente e voltando para o passado de forma infinita. No entanto, estamos navegando de trás para frente. E se fôssemos navegar na sua ordem correta? Começando do passado e chegando ao presente? Onde começaríamos? Se o passado segue infinitamente, como chegamos ao presente?

Uma saída lógica é dizer que em qualquer ponto no passado que você escolha, existe um número finito de eventos até o presente. Faz sentido. No entanto, como chego neste ponto no passado? Continuo com o mesmo problema, pois tenho um número infinito de eventos até chegar neste ponto. Não importa quanto eu volte para trás, embora deste ponto até hoje exista um número finito de eventos, eu não tenho como mostrar como chegar a esse ponto inicial, se existem números infinitamente anteriores a ele. Como saio desse impasse? Parece-me não ser possível ter um passado infinito, pois, caso contrário, não chego ao presente.

Há um efeito inicial sem uma causa

Há outra possibilidade. Um efeito inicial que não tenha causa. Essa possibilidade parece mais sólida para mim. Algo que seja “eterno”, “fora ou acima do tempo”. Algo que criou o tempo. Se houver algo que seja acima do tempo e eterno, essa “entidade” seria o início do processo. O “dedo” que começa a derrubada dos dominós.

Quais seriam os candidatos a esse “efeito sem causa”? Creio que logicamente vejo duas possibilidades:

O Universo em si

De acordo com as últimas teorias da origem do universo, a que atualmente “fecha matematicamente” mostra que o universo e o tempo tiveram um começo no chamado “Big Bang”. Sabemos disso, pois descobrimos que o universo está se expandindo rapidamente. Para se expandir, o universo precisa estar num ponto A hoje e amanhã passar para uma expansão A + X. Extrapolando para o passado, a conclusão lógica é que o universo se comprime. Isto acontece regressivamente até chegarmos à chamada “singularidade”. Um ponto interessante dessa teoria é que as leis da física como as conhecemos hoje, o tempo e a matéria, “se quebram”.

Desta forma, não temos como atribuir uma causa para o início do universo por não haver matéria e leis físicas que oferecem uma causa para o efeito do Big Bang. Presumo então ser razoável admitir a possibilidade de algo externo ao universo causando o Big Bang. Como evito um regresso infinito então? A única forma que vejo é assumir que algo não possui uma causa. Sempre existiu em uma “forma” necessária. O universo não é um bom candidato para isso, pois sabemos que as subpartículas podem ser arranjadas de outra forma de que como vemos. De forma que não é “necessário” no sentido de “não poder ser outra coisa”.  Com o universo fora desta cogitação, sobra-me outra opção lógica.

Leia também  Documentário - O Diálogo Entre Fé Cristã e Ciência no Brasil

Um Ser Supremo

A outra possibilidade é uma entidade Suprema. Uma entidade que tem que existir por sua própria necessidade. Isto é, não é causada por nenhum fator externo. Existe por si mesma. Sabemos pela teoria do Big Bang que houve uma “força” ou “energia” que começou o desencadear do Big Bang. Por esta teoria, essa “força” tem que ter algumas características peculiares:

1. Tem que ser extremamente poderosa. Toda a energia que conhecemos (e não conhecemos) estava contida na singularidade. Essa “criação” inicial envolve magnitudes enormes de energia.

2. Tem que ser imaterial. Como a matéria e leis físicas não existiam no momento do Big Bang essa causa inicial não pode ser material. Note: não podemos dizer que o universo simplesmente “explodiu”, pois não temos como apelar para nenhuma lei da física, por essas não existirem.

3. Tem que estar acima ou fora do tempo. O tempo começou a existir no momento do Big Bang. Não havia tempo antes. De forma que essa causa inicial estava em um patamar acima do tempo como o conhecemos.

4. Tem que ter a capacidade de decidir. Por quê? Note o seguinte: se não existem leis físicas, não podemos atribuir nenhuma causa “automática” que explique por que o universo passou a existir em lugar de não existir. O “ímpeto” para que tudo comece não pode ser explicado por uma lei material. O que pode explicar? Uma decisão livre e não causada por nenhum fator externo. Uma entidade que decide porque quis decidir. Não por ser coagida nem por depender de leis físicas, mas simplesmente por que quis fazer.

O que para mim era interessante é que o que os cristãos (e algumas outras religiões) chamam de “Deus” é um ser poderoso, imaterial e acima do tempo que tem características pessoais como poder de decisão. Isto implicava para mim que a existência de Deus não era algo para se assumir como uma fé cega, mas algo que tinha respaldo lógico. Uma pessoa mesmo não crendo em Deus, teria que no mínimo aceitar a racionalidade do argumento e não descartá-lo sem uma argumentação. Fugir do argumento colocando o rótulo de “religioso” seria uma atitude até que covarde, pois o argumento, no mínimo, exigia uma refutação lógica.

Por último, essa caraterística “pessoal” desta entidade (por no mínimo ter o poder de decisão livre e não causada) explicava muito mais outros fatores que o universo em si não explicava. Vou expandir mais isso no futuro, mas a previsibilidade da matemática e física, a nossa capacidade de raciocinar e a própria existência da “alma” acima de puramente processos físicos eram melhores explicadas por um Ser Supremo do que por efeitos físicos que não só se quebram no Big Bang, mas também não produzem um poder explanatório razoável para o que experimentamos.

A realidade de um Ser Supremo era lógica. Agora me faltava continuar a minha expedição para determinar se só pode haver um Ser Supremo ou vários como algumas religiões ensinam.

Clique aqui para conferir a Parte 13. Todos os textos aqui.

Fábio Mendes mora na Califórnia, EUA. É bacharel em Ciências da Computação pela Universidade Bethel, em Minnesota, e MBA em gerenciamento de tecnologia pela University of Phoenix. Atualmente, exerce a função de Arquiteto Sênior de Sistemas para uma seguradora internacional. Membro da igreja Christ Fellowship, em Miami, dedica-se ao pensamento e à filosofia cristã com ênfase para jovens.

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