Expedição em busca da verdade – Parte 13: Por que não existem vários Seres Supremos? | Fábio Mendes

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Expedição em busca da verdade – Parte 13

Esta é uma série intitulada “Expedição em busca da Verdade”, que tem por objetivo fornecer uma perspectiva racional e filosófica a respeito da existência de Deus e da veracidade do Cristianismo. Clique aqui para conferir todos os textos da série.

Neste ponto da minha jornada, a existência de um Ser Supremo, primeira causa necessária, era perfeitamente racional. No entanto, uma pergunta precisava ser respondida: Poderia haver múltiplas causas iniciais? Poderia haver múltiplos deuses? Seria ilógica essa linha de raciocínio?

Antes de tudo é necessário pensar um pouco mais sobre uma possível característica desse “Ser Supremo”: perfeição. Seria necessário que esse Ser Supremo seja perfeito? Por que não ser um Ser Supremo menos que perfeito desde que não existisse outro Ser Supremo mais “perfeito”? Se isso fosse possível, seria racional pensar na possibilidade de vários deuses que se complementariam entre si?

Para fazer essa análise, precisamos definir “perfeição”. O que vem a ser algo perfeito? Perfeição é a qualidade em que nada é possível ser adicionado ou removido. Algo é perfeito quando não precisa ser modificado; quando possui todas as características possíveis de se ter; onde que nada pode ser melhorado.  Note, no entanto, que essa definição é um pouco diferente de outros usos. Por exemplo: Quando dizemos que uma ferramenta é “perfeita” para um tipo de trabalho, não estamos dizendo que nada é preciso ser adicionado a ela. Este é um uso diferente da linguagem. O que estamos dizendo é que para ESTE trabalho em si, para ESTE uso, a ferramenta cumpre todos os requisitos, isto é, possui todas as características necessárias para executar o trabalho. A perfeição que estou tentando definir é uma que é independente do uso. É objetiva e absoluta. Não carece de nada, independente do uso ou circunstância.

Se existe uma primeira causa que não foi causada, isso implica que não existe nenhuma característica possível de se ter que esse Ser não possua. Por quê? Vejamos. Quando pensamos em atributos ou características, muitas vezes pensamos nesses atributos como “coisas flutuantes” que “colam” ou não em nós. Quando falamos que uma pessoa é boa, está implícito que “bondade” é um atributo já pré-existente “flutuando” e que esta pessoa tem esse atributo “colado” em sua personalidade. Em outras palavras, nós acreditamos que “bondade” existe de modo independente desta pessoa, de forma que, se a pessoa morre, o atributo “bondade” continua flutuante e pode ser “colado” a outro. Note então o seguinte: o atributo da bondade, neste exemplo, parece ser algo “eterno e flutuante”, assumido por uma pessoa ou não, dependendo se esta pessoa é “boa” ou não. Este atributo transcende a pessoa.

Voltemos então ao pensamento inicial: se é possível que tal característica exista, por que esse Ser tem que tê-la?  Porque, se este não for o caso, este Ser não é logicamente a causa inicial. Se eu assumo que este Ser não é causado, isto é, é a causa inicial, como posso “colar” uma característica pré-existente? De onde veio esta característica? O pensamento se torna incoerente. Como você pode ter um Ser não causado que possui atributos “colados” em sua essência que já existiam antes deste Ser?

Para sair desta incoerência lógica, existem duas alternativas. A primeira alternativa é que o Ser CRIOU este atributo para si mesmo. A outra alternativa é que esta característica é intrínseca e necessária neste Ser. Não foi criada e não preexistiu o Ser. É simplesmente uma característica intrinsicamente necessária para a essência deste Ser. Em outras palavras, para este Ser, este atributo não é algo “colado” à sua essência. Esse atributo É este Ser.

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Ok, mas como isso mostra que só existe UM Ser e não vários? Antes de discutir isso, é importante determinarmos como nós analisamos e concluímos que algo é igual ou idêntico a outro. Comecemos com como determinamos se algo é PARECIDO com outro. Quando algo é parecido com outro é porque existem muitas características ou atributos de uma coisa que são as mesmas ou têm graus similares. Por exemplo, uma cadeira pode ser parecida com outra, pois pode ter a mesma cor (ou graus similares de cor, isto é, tons similares de cor), mesmo tamanho, ser feita do mesmo material, etc. Quanto mais atributos similares uma coisa tem com a outra, mais parecida com a outra ela é. Agora imagine que um objeto é tão parecido com outro que TODOS os atributos de um objeto são exatamente os mesmos que o outro, inclusive o espaço físico que ocupam. Nesse caso, o que temos não é uma situação em que um objeto é parecido com outro; o que temos é uma situação em que os dois objetos são A MESMA COISA. Não têm com ser dois objetos distintos, pois isso exigira que se possa fazer uma distinção entre eles, isto é, achar um atributo que seja diferente.

Voltando então para a questão dos atributos deste Ser. Para ser perfeito, este Ser tem que ter criado os atributos ou já deve possui-los como sua essência. Para efeito deste pensamento, no momento não é necessário definir se o atributo foi criado ou se faz parte da essência (farei isso num texto futuro). Se o atributo foi criado por este Ser, é racional assumir que este Ser possui este atributo ao seu máximo, no seu grau maior. Afinal, o Ser é quem o criou e, qualquer que seja o grau máximo possível, está estabelecido por Ele, pois Ele criou. Se o atributo é parte essencial deste Ser, por definição, este atributo está ao seu máximo, pois qualquer grau essencial que esse Ser tenha, é o máximo que se pode ter. Desta forma, quando somamos todos esses atributos, vemos que se tivermos vários seres com exatamente os mesmos atributos e com o mesmo grau máximo, fica claro que todos os seres são idênticos em todos os seus atributos, de forma que, por lógica, não estamos lidando com vários seres, mas com um só.

Por último, mesmo que ainda exista uma objeção ao raciocínio acima e que ainda se cogite a possível existência de vários seres, creio justificável apelar para a “Navalha de Occam”, que é um princípio que ensina não ser necessário “multiplicar” explicações se uma mais simples é necessária e satisfaz a explicação. Desta forma, não é necessário apelar para vários seres supremos quando um Ser Supremo satisfaz.

Todos os textos aqui.

Fábio Mendes mora na Califórnia, EUA. É bacharel em Ciências da Computação pela Universidade Bethel, em Minnesota, e MBA em gerenciamento de tecnologia pela University of Phoenix. Atualmente, exerce a função de Arquiteto Sênior de Sistemas para uma seguradora internacional. Membro da igreja Christ Fellowship, em Miami, dedica-se ao pensamento e à filosofia cristã com ênfase para jovens.

3 Comments

  1. Marco disse:

    Uma dúvida, o mesmo argumento da bondade ser “colada” não valeria ao mal?

  2. Marco disse:

    Espero que trate sobre o assunto do mal também!

  3. Marco disse:

    Quando que esta série vai continuar?

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