“Não pequeis contra o menino” | Charles Spurgeon

Por que os cristãos não devem se dividir por causa dos dias da Criação? | Gavin Ortlund
09/ago/2022
Entrevista com Wayne Grudem
29/ago/2022

Um sermão pregado em uma reunião de oração para a escola bíblica dominical E Rúben lhes respondeu: Não vos dizia eu: Não pequeis contra o menino? Mas não quisestes ouvir, por isso agora o seu sangue está sendo cobrado de nós (Gn 42.22).

 Vocês sabem como os irmãos de José, por inveja, venderam-no ao Egito; e sabem também como eles, por fim, foram impelidos a ir ao Egito comprar cereais. Ao serem tratados rispidamente pelo governador do país, não sabendo que era seu irmão, sentiram doer a consciência, e disseram uns aos outros: “Na verdade, nós somos culpados com respeito a nosso irmão, porque vimos a angústia de sua alma, quando nos rogava, e não o quisemos atender; é por isso que essa angústia está vindo sobre nós” (Gn 42.21). Embora a consciência deles os acusasse, a voz do irmão mais velho interrompeu a conversa: “Não vos dizia eu: não pequeis contra o menino?” (Gn 42.22). Disso concluo que se pecarmos depois de sermos advertidos, a voz da consciência nos condenará ainda mais, porque terá como respaldo a lembrança das advertências negligenciadas, que virão novamente à tona, e com voz solene nos dirão: “Não vos dissemos que não devíeis pecar contra o menino?”. Nós que sabemos o que é apropriado às crianças seremos muito mais culpados do que os outros se pecarmos contra a alma deles. Há, hoje, no mundo, opiniões disseminadas muito mais sensatas sobre as necessidades e esperanças dos pequeninos do que havia cinquenta anos atrás, e nós seríamos duplamente criminosos se levássemos, hoje, o mal a eles.

O conselho de Rúben pode ser muito bem aplicado aos adultos: “Não pequeis contra o menino”. Assim eu me dirigiria a todos os pais, a todo irmão mais velho ou a toda irmã mais velha, a todos os professores, empregadores, a todo homem e a toda mulher, quer tenham família ou não: “Não pequeis contra o menino”. Nem contra seu próprio filho, nem contra o filho de quem quer que seja, nem contra o sem-teto da rua a quem chamam de “filho de ninguém”. Se vocês pecam contra os adultos, “não pequem contra o menino”. Quanto aos homens profanos, que respeitem o menino, e não poluam seus ouvidos de criança com blasfêmias. Quanto aos que bebem, que respeitem de tal modo a infância, que não seduzam as crianças a provar do cálice intoxicante. Caso não esteja ocorrendo nenhuma indecência ou brutalidade, sonde a criança pelo que você vê e ouve dela. Vocês que são pais, não entrem por caminhos que arruinarão seus filhos, não escolham casas onde eles sejam lançados na sociedade maligna, não tragam para seu convívio pessoas depravadas que as corrompam! Já é mau bastante que um homem conduza outros à tentação. Contudo, semear a semente maligna do vício nos corações ainda livres do pecado grosseiro e real constitui um ato horrendo de impiedade. Não cometam infanticídio espiritual. Por amor a Deus, em nome de nossa humanidade comum, peço-lhes que, se tiverem ainda algum sentimento, que não banquem o Herodes, matando espiritualmente os inocentes. Ouvi que durante o saque cruel de uma cidade, no momento em que um soldado estava prestes a matar uma criança, sua mão foi detida pelo clamor do pequenino: “Ó senhor, por favor, não me mate, sou tão pequeno!”. A fragilidade e a pequenez da infância deveriam apelar ao pior dos homens, e impedir que pequem contra o menino.

De acordo com a história de José, há três formas de pecar contra o menino. A primeira delas estava contida na proposta dos irmãos invejosos: “Vamos mata-lo […] Então veremos o que será dos seus sonhos” (Gn 37.20). “Não derrameis sangue” (Gn 37.22), disse Rúben, que tinha razões pessoais para querer salvar a vida de José. Existe também o assassinato moral e espiritual de meninos e meninas, e aqui até mesmo os Rúbens se juntam a nós. Até mesmo os que não são tão bons quanto deveriam ser se unirão em protesto sincero: “Não pequeis contra o menino”, não o eduque na desonestidade, na mentira, na embriaguez e no vício. Ninguém dentre nós pensaria em fazê-lo. No entanto, é o que se vê o tempo todo pelo mau exemplo. Muitos filhos se perdem por causa dos pais. Os que os dão à luz também os dão à morte. Eles os trazem a um mundo de pecado, mas parecem determinados também a levá-los ao mundo da punição: e serão bem-sucedidos nessa terrível tentativa, a menos que a graça de Deus interfira. Muitos fazem tudo o que está ao seu alcance, através de sua conduta em casa e fora de casa, para educar seus filhos a fim de que sejam uma peste na sociedade e pragas para o país.

Quando vejo o tanto que há de delinquentes juvenis, não posso deixar de perguntar “Quem feriu a todos estes?” (2Rs 10.9), e que triste a resposta: “Estes são, em grande medida, vítimas do pecado dos seus pais”. Os mais ferozes predadores não arruínam seus jovens, porém o pecado torna os homens seres não naturais, de tal modo que destroem a alma de sua prole irrefletidamente. Ensinar a uma criança uma canção lasciva é de uma impiedade inexprimível; apresentá-la ao cálice de vinho é maligno. Levar a criança a locais de entretenimento onde tudo se acha corrompido, onde a criança de espírito arguto depressa aprende precocemente os segredos do vício, onde a menina, ao se assentar para assistir a uma peça, sente arder dentro de si paixões que dispensam combustível: fazer isso é bancar o papel do tentador. Você envenenaria os corações jovens, faria mal a eles? Quem dera os guardiões da moral pública acabassem com toda impureza. Não sendo isso possível, que ao menos os jovens sejam resguardados. Aquele que instrui um jovem nos vícios do mundo é um ser desgraçado e desprezível, é cáften do diabo, para quem o desdém é pouco. Não, mesmo que você seja o mais empedernido de todos os homens, não há por que importunar as ovelhas e sacrificar criancinhas perante o santuário de Moloque.

Comete-se o mesmo mal ao se doutrinar crianças com ensinos malignos. Elas aprendem depressa, por isso é triste ensiná-las o erro. É terrível quando o pai incrédulo faz pouco da cruz de Cristo na presença do filho, quando diz coisas horríveis contra nosso Senhor bendito, e o jovenzinho o ouve. É triste, muito triste, que aqueles que cantam hinos santos na escola bíblica dominical, quando vão para casa, tenham de ouvir blasfêmias contra Deus e ver as coisas santas serem profanadas e desprezadas. Do pior descrente, podemos perfeitamente dizer “Não destrua a alma imortal de seu filho; se você está disposto a perecer, não o leve junto”.

Existe, porém, uma segunda forma de pecar contra o menino. Neste caso tomaremos como exemplo a proposta de Rúben. Rúben não teve má intenção quando disse: “Lançai-o nesta cisterna, aqui no deserto, e não encosteis a mão nele” (Gn 37.22). Muitos pensam em deixar o menino do jeito que ele se encontra, e só procurá-lo mais tarde, na tentativa de livrá-lo da destruição. Não o mate, mas abandone-o sozinho até a maturidade. Não o mate, pois isso seria um homicídio terrível, mas deixe o menino no deserto até o momento mais apropriado para que, assim como Rúben, venha a socorrê-lo mais tarde. Neste momento, tocarei em muitos mais do que naquele momento inicial. Muitos cristãos professos ignoram as multidões de crianças à sua volta, e comportam-se como se não houvesse tais seres vivos. Talvez essas pessoas frequentem a escola bíblica dominical, ou não; elas não sabem e não se importam. Seja como for, essa boa gente não se preocupa em educar as crianças. Eu diria com toda a franqueza: “Não pequem contra o menino negligenciando-o”. “Não”, diz Rúben, “tomaremos conta dele quando for homem. Agora ele está na cisterna, mas temos a esperança de tirá-lo de lá mais tarde”.

Este é o senso comum: que as crianças devem crescer incrédulas, e que só mais tarde na vida é que se deve salvá-las. Elas devem ficar na cisterna por enquanto, e de lá deverão ser tiradas aos poucos. Essa ideia perniciosa é pecar contra o menino. Parte alguma da Escritura dá respaldo a essa política de delonga e de negligência. Nem a natureza nem a graça pedem por isso. Essa era a queixa de Jeremias: “Até os monstros marinhos estendem o seio; eles dão de mamar às suas crias; a filha do meu povo tornou-se cruel, como as avestruzes no deserto” (Lm 4.3, KJV). Que nenhum de nós tenha contra si tal acusação. Nosso plano e nosso objetivo devem ser de tal ordem que nossos filhos, enquanto ainda são crianças, sejam levados a Cristo. Peço aos irmãos e irmãs queridos aqui presentes, e que amam ao Senhor, que não duvidem da conversão dos seus pequeninos, mas que a busquem o quanto antes, de todo o coração. Por que deveriam nossos Josés permanecer na cisterna da corrupção da natureza? Oremos para que o Senhor os tire imediatamente da horrível cisterna, e os salve com uma grande salvação.

Existe, porém, uma terceira forma de pecar contra o menino, e que foi testada com José: eles o venderam, venderam-no aos ismaelitas. Os mercadores estavam de passagem e ofereceram por ele muitas moedas de prata. Seus irmãos prontamente o entregaram em troca de uma recompensa. Receio que haja alguns mais ou menos dispostos a fazer a mesma coisa hoje. Acredita-se que agora que temos conselhos escolares já não havemos mais de querer escolas bíblicas dominicais, e devemos entregar os jovens aos secularistas. Como as crianças têm de aprender a tabuada de multiplicação, já não precisarão mais aprender o temor do Senhor! Que raciocínio grotesco! Será que a geografia lhes ensinará o caminho do céu, ou a aritmética eliminará seus inúmeros pecados? Quanto mais conhecimento secular nossos jovens tiverem, tanto mais será preciso que aprendam o temor do Senhor. Deixar nossa população jovem nas mãos de mestres seculares será vendê-la aos ismaelitas. Não será menos perigoso deixá-la entregue às artes sedutoras dos ritualistas e dos papistas. Nós que amamos o evangelho não devemos permitir que as crianças soltem de nossas mãos e sejam subjugadas pelo poder daqueles que escravizam a mente com dogmas supersticiosos. Pecamos contra o menino se o entregamos aos mestres do erro.

A venda de jovens Josés também pode acontecer se nos atentarmos apenas para seus interesses mundanos, esquecendo-nos de suas almas. Muitos pais vendem seus filhos colocando-os como aprendizes de homens sem caráter, ou em situações nas quais a impiedade é a principal influência. Não raro, o pai não pergunta para onde o filho está indo no domingo, e a mãe não se importa se sua filha ouvirá o evangelho quando sair. Contudo, zelam por bons salários e outras coisas do tipo. Eles se consideram bastante firmes em suas objeções aos católicos romanos, mas o mundanismo, e até mesmo a libertinagem, em muitos casos não são entendidos como barreiras. Quantos há entre os que se chamam de cristãos que vendem as filhas, casando-as com homens ricos! Esses homens que não têm religião alguma, mas são “o par perfeito” porque circulam pela alta sociedade. As jovens são lançadas no mercado matrimonial e entregues a quem fizer o lance mais alto: Deus não é levado em conta nesse negócio. Desse modo, o rico se distancia do Senhor e amaldiçoa seus filhos, tal como o fazem os pobres. Estou certo de que vocês não venderiam literalmente sua prole em troca de escravos, mas vender a alma deles não é de forma alguma menos abominável. “Não pequeis contra o menino”. Não o vendam aos ismaelitas. “Ah”, dizem vocês, “dinheiro sempre vem a calhar”. Vocês estão dispostos a assumir o preço de sangue? Vão permitir que o sangue da alma dos seus filhos manche suas roupas? Peço a vocês que reflitam um pouco antes de cometer esse crime hediondo.

Leia também  Lutero, Calvino e Copérnico - Uma abordagem reformada sobre a relação entre Ciência e Escrituras | Keith Mathison

Às vezes, peca-se contra uma criança porque não é amada. A desculpa para essa perversidade, para essa crueldade, ambas indevidas, é que ela “é uma criança muito estranha!”. Você ouviu falar do jovem cisne que foi chocado no ninho de um pato? Nem a pata, nem o pato, nem os patinhos sabiam o que fazer com aquela ave feia. E, contudo, na verdade, ela era superior a todos os demais. José era o cisne do ninho de Jacó, mas seus irmãos não o compreendiam, tampouco seu pai. Este o repreendeu e lhe disse: “Será que eu, tua mãe e teus irmãos viremos a nos inclinar com o rosto em terra diante de ti?” (Gn 37.10). Ele não foi compreendido pela própria família. Imagino que José deva ter sido um garoto difícil de se conviver. Diante das transgressões de seus irmãos mais velhos, ele se sentiu na obrigação de comunicar ao pai o que haviam feito de mau. Não duvido que o tenham chamado de “o pequeno dedo duro”, embora, na verdade, ele fosse uma criança simpática. Seus sonhos também eram muito estranhos, e extremamente irritantes, porque ele era sempre o herói. Seus irmãos o chamavam de “sonhador” e, é claro, achavam que ele não passava de um tolo. José era o queridinho do papai, o que o tornava ainda mais detestável para os outros filhos. Contudo, aquela criança tão desprezada por seus irmãos era o José que estava diante deles agora. A história se repete: a diferença em seu filho, que hoje faz com que ele seja olhado com estranheza, talvez decorra de uma superioridade que, por enquanto, não encontrou ainda sua esfera de influência. Seja como for, “não pequem contra o menino” por ele ser diferente, porque ele poderá ser alçado a um lugar de destaque. Não se deve, é claro, torná-lo objeto de parcialidade, fazendo para ele uma túnica de muitas cores, porque, se vocês assim o fizerem, seus irmãos terão uma desculpa para invejá-lo. De outra forma, porém, não permitam que ele seja afrontado, e não deixem que lhe abatam o espírito.

Conheci algumas pessoas que, ao se depararem com um pequeno José, pecaram contra ele bajulando-o. O menino disse algo razoavelmente interessante, então o puseram sobre uma mesa para que todos pudessem vê-lo e admirar o que ele tinha a dizer, ao mesmo tempo que eram persuadidos a repetir suas sábias observações. A criança se tornou, então, convencida, prepotente e arrogante. Crianças que são exibidas com frequência geralmente acabam mimadas. Dá para imaginar a mãe orgulhosa dizendo: “Olhem agora, vejam , vejam só como o Harry é maravilhoso!”. Sim, estou vendo, estou vendo como é tola a mãe do Harry! Vejo como seu pai é insensato ao expor a criança a tal perigo. Não pequem contra o menino alimentando seu orgulho que, como erva daninha que é, crescerá bem depressa.

Em muitos casos, o pecado tem exatamente a oposta aparência. O escárnio desdenhoso esfriou bons desejos em muitos, e a zombaria cortou no nascedouro muitos propósitos sinceros. Atenção para não impedir o entusiasmo do jovem por coisas boas. Deus me livre, e livre vocês também, de sufocar uma pequena centelha de graça no coração de um jovem, ou de destruir um único broto que seja de promessa! Cremos na piedade das crianças. Jamais falemos, ou nos comportemos, ou aparentemos como se a desprezássemos.

“Não pequeis contra o menino”, sejam vocês quem forem. Seja você professor, pai ou mãe, se houver nele um traço pequeno que seja de José, ainda que em seus sonhos apenas, cuide para que você não peque contra ele ao tentar reprimir a nobre chama que Deus talvez esteja acendendo em sua alma. Não posso simplesmente mencionar  agora as muitas, as inumeráveis, maneiras pelas quais talvez estejamos ofendendo os pequeninos do Senhor. Lembro, porém, a vocês, que se o amor do Senhor brilhar em seu filho, e ele vier a se tornar um servo ilustre do Senhor, vocês hão de sentir uma pontada na consciência, e uma voz dirá à sua alma: “Não disse a vocês, não pequem contra o menino?”. E se, de outra forma, seu filho não se tornar um José, e sim um Absalão, será terrível ver misturar-se necessariamente aos seus lamentos a consciência esmagadora que levou seu filho ao pecado pelo qual ele se tornou a desonra da família. Se vir meu filho perecer, sabendo que se tornou alguém digno de reprovação porque o ensinei mal e lhe dei mau exemplo, e tendo minhas mãos então crispadas de remorso mortal, clamarei: “Matei meu filho! Matei meu filho! E quando o fiz, sabia o que estava fazendo, porém desprezei a voz que me dizia: ‘Não peque contra o menino’”.

Agora, queridos professores da escola bíblica dominical, discorrerei sobre uma ou duas coisas que dizem respeito a vocês. Quando entrarem na sala de aula, não o façam com o coração indiferente, para que vocês “não pequem contra o menino”. Por que vocês haveriam de tornar as crianças indiferentes às coisas divinas? Não pequem contra elas chegando tarde demais, porque isso fará com que pensem que a pontualidade não é uma virtude, e que a escola bíblica dominical não é muito importante. “Não pequem contra o menino” faltando às aulas com frequência, ausentando-se ao menor pretexto, porque isso passará claramente a seguinte mensagem à criança: “Você pode servir a Deus de qualquer jeito sempre que quiser; veja, eu faço isso”. “Não pequem contra o menino” cumprindo simplesmente a rotina da aula, sem ensinar e instruir de fato. Isso é apenas sombra de escola bíblica dominical, e não substância, e, sob alguns aspectos, é pior do que nada. “Não pequem contra o menino” contando-lhe simplesmente várias histórias sem lhe apresentar o Salvador, pois assim vocês estarão lhe dando pedra em vez de pão. “Não pequem contra o menino” dedicando-se ao que não tenha em vista sua conversão a Deus por meio de Jesus Cristo, o Salvador.

E vocês, pais, “não pequem contra o menino” irando-se depressa demais com ele. Ouvi muitas vezes gente adulta repetir aquele versículo, “Filhos, obedecei em tudo a vossos pais” (Gl 3.20). É um texto muito apropriado, muito apropriado de fato, e meninos e meninas devem obedecê-lo atentamente. Gosto de ouvir pais e mães pregarem com base nele, mas há também, é bom lembrar, outro texto que, vocês sabem muito bem, também é plenamente inspirado: “Pais, não irriteis vossos filhos, para que eles não fiquem desanimados” (Cl 3.21). Não impliquem com uma boa criança por trivialidades, censurando-a asperamente, dizendo: “Ah, se você fosse uma criança cristã, não faria isso, nem aquilo!” — disso não tenho tanta certeza. Vocês que são chefes de família fazem uma porção de coisas erradas, e mesmo assim espero que sejam cristãos. Se seu Pai celestial fosse, por vezes, tão severo como vocês são com os pequeninos sinceros sempre que vocês perdem a calma, receio que as coisas não seriam nada fáceis para vocês. Sejam gentis, generosos, afáveis e amorosos.

Ao mesmo tempo, não pequem contra qualquer criança mimando-a demais. Crianças mimadas são como frutas estragadas: quanto menos delas tivermos, melhor. Em algumas famílias, quem manda na casa é o filho mais novo, embora não seja grande o bastante para usar bombachas. Ele manipula a mãe; e sua mãe, é claro, manipula o pai, e assim por diante. Desse modo, ele manda na casa toda. Isso é insensato, não é natural e é muito perigoso para a criança mimada. Meninos e meninas devem ser submissos, porque não podem ser felizes por conta própria, nem vocês podem, a menos que eles estejam em seu devido lugar. Não regue suas plantinhas com vinagre nem com melado. Evite tanto criticar muito como criticar pouco. Busque a sabedoria do Senhor e privilegie o equilíbrio.

Em suma, “não peque contra o menino”, mas eduque-o no caminho em que deve andar, e leve-o a Jesus, para que ele possa abençoá-lo. Não deixe de orar pela criança até que ela entregue seu coração jovem ao Senhor. Que o Espírito Santo os torne sábios para lidar com esses jovens imortais! Assim como a cerâmica plástica, eles estão prontos para ser moldados. Que ele nos ensine a moldar e a dar acabamento ao caráter deles! Acima de tudo, que ele ponha as próprias mãos à obra, para que a obra seja de fato realizada.

Trecho extraído da obra “Oração comunitária: quarenta sermões pregados no Tabernáculo Metropolitano e em outras reuniões de oração”, de Charles Spurgeon, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2022, p. 85-95. Traduzido por A. G. Mendes. Publicado no site Cruciforme com permissão.

C. H. Spurgeon (1834-1892) foi um grande pregador batista da Inglaterra e que continua a influenciar cristãos de diferentes denominações, entre os quais é conhecido ainda hoje como o príncipe dos pregadores. Muitos dos seus sermões eram transcritos à medida que os proferia, sendo depois traduzidos em várias línguas. Spurgeon muitas vezes chegou a pregar dez vezes por semana em diferentes lugares. Contava com trezentos intercessores que, todas as vezes que pregava, mantinham-se em súplica. Foi pastor em Londres por 38 anos na Igreja New Park Street Chapel (mais tarde conhecida como Metropolitan Tabernacle). Também foi o fundador da Escola de Pastores, além de autor prolífico de muitas obras, entre as quais Conselhos para obreiros, publicado por Vida Nova.
Estamos diante de um clássico da literatura cristã. Nele, o príncipe dos pregadores se revela como um homem que ora e que prega o valor inestimável da oração comunitária. Nesta coletânea com 40 sermões, aprendemos como a oração dos crentes reunidos é transformadora. A obra foi dividida em quatro seções:

- sermões sobre oração e reuniões de oração;
- exposições das Escrituras realizadas nas reuniões de oração;
- incidentes e ilustrações relacionados à prática da oração comunitária;
- sermões diversos sobre assuntos do dia a dia de uma igreja.

Este livro é o melhor ponto de partida para quem deseja saber como Spurgeon supriu a sua igreja com ensinos poderosos para cultivar uma vida de oração. A oração comunitária em sua igreja nunca será só uma reunião.

Publicado por Vida Nova.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: