Não existe chamado maior para nós, cristãos, que aguardar o retorno do Senhor e, nesse ínterim, apreciar a obra do Espírito em nós e por meio de nós até Jesus retornar. Também não existe chamado tão pouco apreciado e protelado. Entretanto, Pedro não nos dá essa opção. É agora, escreveu ele, que devemos aguardar. Aguardar o quê? Nossa participação em “sua [de Deus] glória eterna por meio de Cristo Jesus”. E Pedro insiste que devemos aguardar com a confiança de alguém que, “depois de ter sofrido por um pouco de tempo”, um tempo que parece longo demais para nossa mente presa ao tempo, “ele os restaurará, os sustentará e os fortalecerá, e os colocará sobre um firme fundamento” que nos capacitará a perseverarmos (1Pe 5.10, NLT). Não em um fundamento instável de promessas de conforto para hoje, mas em um fundamento sobre a rocha que nos mantém firmes e aprumados em nossa missão de nos tornarmos semelhantes a Jesus, a despeito das tempestades que trovejam em nosso íntimo e ao nosso redor. Para mim, Pedro está me pedindo:
Para eu jamais aguardar o retorno de Jesus passivamente, como se fosse algo de pouco valor, uma ambição menos importante que desfrutar as coisas boas disponíveis neste mundo. Viver sem a perspectiva maior do infinito no intervalo de meu nascimento e minha morte é uma vida desperdiçada, uma vida incapaz de contar a História Maior de Deus por meio do modo que me relaciono.
Esse é o chamado de Deus para nós, cristãos, atualmente: aguardar ativamente o amanhã conforme vivemos em amor hoje. Esse chamado está registrado na Escritura. Observe os versículos a seguir, selecionados entre muitos que trazem uma mesma mensagem.
“Espere pacientemente pelo Senhor. Seja valente e corajoso” (Sl 27.14, NLT): aguarde ativamente com paciência em meio aos problemas e sonhos despedaçados, mas sem passividade e sem agressividade. Devemos aguardar com valentia e coragem, cientes de que nossa espera acontece em meio a um caminho estreito, algumas vezes traiçoeiro e muitas vezes cheio de decepções. À medida que aguardamos nossa rica recompensa, devemos permanecer ativos em viver a História Maior de Deus, cumprindo nossa parte em nos tornarmos “pequenos Cristos”, seguidores de Jesus que demonstram seu amor por meio do modo de nos relacionarmos e estimularmos uns aos outros a buscar a alegria de amar bem, conforme prosseguimos em nossa árdua jornada.
“Espere pelo Senhor e permaneça no caminho dele” (Sl 37.34, ESV). Devemos esperar o Senhor concluir a história humana e revelar a eternidade de uma maneira que intensifique o deleite de Deus ao nos conceder nossa grande recompensa tão aguardada, a vida com ele, literalmente face a face, em um mundo de beleza imaculada e livre de perigos. Até lá, devemos permanecer ativamente no caminho dele, prosseguindo e “fazendo discípulos” (Mt 28.19, NLT), o último mandamento do Senhor para seus seguidores antes de subir ao Pai celestial. Inspirado pelo Espírito, Paulo acrescentou: “Vivam com sabedoria entre os incrédulos e aproveitem todas as oportunidades” (Cl 4.5, NLT). Que oportunidades? De evangelizar, presumo. Mas uma coisa está bem clara: não devemos ter por objetivo de vida nosso bem-estar e conforto pessoal nem viver agressivamente com o objetivo de transformar e aperfeiçoar a cultura. Antes, devemos aguardar o final enquanto andamos no caminho de Deus hoje.
“É bom que a pessoa aguarde com serenidade a salvação do Senhor” (Lm 3.26, ESV). Esse versículo talvez represente uma das mais claras indicações do desejo de Deus de que devemos aguardar em meio às dificuldades sem sucumbir à tentação de priorizar a busca de uma vida mais fácil. À medida que escrevo estas palavras, me encontro sentado em uma poltrona de hospital com uma bolsa de quimioterapia injetando medicamentos em minhas veias para tratar uma leucemia. Meu desejo mais sincero nesse momento é que minha vida seja menos difícil. Entretanto, será que desejo apenas isso? Não desejo, na verdade, agradar a Deus por meio do modo que me relaciono com os médicos e enfermeiras do hospital, independentemente de a quimioterapia funcionar?
Esse versículo de Lamentações foi escrito por Jeremias, o profeta chorão que tinha motivos de sobra para se lamentar. Suas palavras de exortação foram escritas para o povo de Judá após a destruição causada pelos babilônios.
O profeta não convocou o povo a um derrotismo resignado nem a buscar justiça por meio da força. Por meio de Jeremias, Deus convocou a população recém-escravizada de Judá a permanecer fiel, a “construir casas e permanecer” em uma terra que não lhes pertencia (Jr 29.5, NLT) e a confiar em Deus para cumprir sua promessa de libertação, ainda não realizada, à medida que enfrentavam a dura e triste realidade da devastação. O chamado é claro:
Aguardem o amanhã. Não exijam nada agora. Antes, desfrutem as bênçãos de Deus para hoje. Não obstante, quer em bênção, quer em tribulação, vivam para amar bem hoje.
“Nós mesmos aguardamos ansiosamente a esperança da justiça” (Gl 5.5, ESV). Essas palavras me trazem à mente o chamado para vivermos com a “certeza de que Deus, que começou a boa obra” em cada um de nós “prosseguirá sua obra até que finalmente ela seja cumprida no dia em que Cristo retornar” (Fp 1.6, NLT). Paulo nos exorta, com muita veemência, a cooperarmos ativamente com o Espírito hoje, antes de Jesus retornar; a prosseguir com o Espírito em seu plano de nos transformar pouco a pouco à semelhança de Jesus até a chegada daquele dia final e glorioso quando Cristo retornar, ocasião em que o veremos e seremos maravilhosamente transformados. Mais uma vez, a ideia central é: não aguardamos passivamente nem agressivamente, mas ativamente enquanto cooperamos com o Espírito de Deus.
“Vocês abandonaram os ídolos e se voltaram para Deus” e resolveram “esperar seu Filho retornar do céu” (1Ts 1.9, ESV). Tudo que nos afasta de Deus e nos empurra para nossa própria história menor, aquela história que vivemos entre nosso nascimento e nossa morte, é um ídolo. Quando a ideia de descansar no amor de Deus é interpretada erroneamente como passividade no serviço ao Senhor, a atitude de julgar-se no direito de seguir por um caminho mais fácil, na esperança de obter uma vida mais agradável, torna-se um ídolo.
Quando o ministério piedoso se transforma em engajamento fervoroso para aperfeiçoar a cultura, em desejo de priorizar um modo de vida mais confortável, mais próspero e mais justo (e até mais moral) neste mundo, a obra missionária se transforma em ídolo. Viagens missionárias para construir casas, igrejas e hospitais são coisas muito boas, uma vez que honram a compaixão do Senhor pelos pobres. Entretanto, a qualidade do relacionamento entre os missionários e a população local agrada muito mais a Deus, pois evidencia a natureza relacional de Jesus. Lembre-se de que somos exortados a prestar atenção uns aos outros a fim de nos estimularmos primeiro ao amor e depois às boas obras (veja Hb 10.24).
Adoramos melhor nosso Deus trino e relacional por meio de nossa submissão ativa à obra vagarosa, e algumas vezes dolorosa, do Espírito Santo em transformar, espiritual e relacionalmente, nosso coração, nossa alma e nossa mente à medida que aguardamos com ardor Jesus trazer justiça social a um novo céu e uma nova terra. Somente então, e não antes, os salvos, em imaculada formosura, viverão eternamente à semelhança da imagem incorruptível de Cristo em uma comunidade feliz, produtiva e sempre em descanso, uma eternidade que vale muito a pena aguardar.
Reflita a respeito dessas cinco passagens bíblicas e outras semelhantes e então o chamado de Deus se tornará evidente:
Devemos aguardar ativamente o retorno do Senhor, sem passividade e sem agressividade.
Trecho extraído e adaptado da obra “Viciados em si mesmos”, de Larry Crabb, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2024, p. 54-60. Traduzido por Vanderlei Ortigoza. Publicado no site Cruciforme com permissão.
Larry Crabb (1944-2021), Ph.D. em Psicologia pela University of Illinois. Foi um conhecido psicólogo cristão, palestrante em conferências e seminários, professor de Bíblia e autor de mais de 25 livros. |