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Sabemos que Deus faz com que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o amam, dos que são chamados segundo o seu propósito. Pois os que conheceu por antecipação, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E os que predestinou, a eles também chamou; e os que chamou, a eles também justificou; e os que justificou, a eles também glorificou (Rm 8.28-30).
Por vivermos em um mundo maculado pelo pecado, a vida aqui nem sempre é como gostaríamos que fosse. Minha vida é igual à sua — só porque sou escritora, palestrante e conselheira, isso não significa que eu não passe por tribulações como as que você enfrenta. Em novembro de 2010, minha querida mãe de 88 anos de idade foi diagnosticada com câncer de mama em estágio 3, e desde então passou por cirurgia e radioterapia. A mãe de Phil, uma mulher que dedicou a vida a missões e à igreja, caiu no vazio da demência senil, enquanto o pai dele, um homem maravilhoso que sempre “trabalhou de corpo e alma na igreja”, não consegue mais andar.
Em janeiro de 2011, meu marido foi demitido sem aviso, supostamente em definitivo, pela empresa onde trabalhava havia mais de três décadas. Nós imediatamente reduzimos despesas, mudando-nos para uma área rural da região, mais perto de nossa igreja, sem saber que ele seria recontratado apenas cinco meses depois. Ele então passou a ter de viajar até o trabalho três dias por semana. Perdemos a alegria que tínhamos em nossa casa anterior, que tinha sido o centro das reuniões de família, porque a nova casa era pequena e muito distante de todos. A família começou a se reunir na casa da minha filha, e, embora eu me sentisse feliz por ela ser capaz de acolhê-los, também me sentia isolada, humilhada e com a sensação de que ficara para trás.
Em várias ocasiões, eu me perguntei qual era o propósito de Deus em tudo isso. Como havia algo de bom nisso que estava acontecendo? Como essas mudanças contribuíam para o avanço do reino ou para melhorar nossa vida? Nós havíamos orado sobre a mudança para reduzir despesas; por que Deus não fechou a porta? Afinal, ele sabia que Phil seria recontratado.
Reconheço que não reagi muito bem a grande parte dessa tribulação, mas no fim fui capaz de perguntar a mim mesma: o que aprendi com tudo isso? A resposta que ressoa em meu coração é: “Sou uma grande pecadora, mas tenho um grande Salvador”. Não posso olhar para trás, para aquele ano, e dizer: “Puxa, que boa menina eu fui”. Tudo o que posso dizer é que hoje descanso mais na completa suficiência da justiça de Outro. E ponto final.
Sei bem que muitos de vocês provavelmente estão passando por dificuldades que fazem meu pequeno período de tribulação parecer algo fácil de enfrentar. Estou convencida de que o Senhor sabe exatamente que tipo de provações cada um de nós precisa enfrentar para alcançar os objetivos que ele tem para nós. Também estou convencida de que o Senhor faz uso de tudo o que acontece em nossa vida para um bom propósito: para que sejamos conformes à imagem de seu Filho, “a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (v. 29).
Mesmo que ainda não tenha uma compreensão clara dos propósitos de Deus em minhas provações imediatas, ao menos uma coisa eu compreendo: ele está trabalhando em meu caráter para me transformar; está me tornando consciente dos ídolos que trago no coração, da minha falta de fé e dos falsos deuses. Ele está fazendo uma obra em minha vida, profunda e dolorosa, mas benéfica.
Para começar, antes eu estava cega para muitas das fraquezas de que me tornei bastante consciente ao longo do último ano. Por exemplo, eu não sabia quanto minha identidade estava vinculada à minha casa como local de encontro da família e dos amigos. Quando tudo o que a casa representava me foi tirado, lutei para ver minha identidade como algo oculto em Cristo e me ver como alguém completamente amada. Mas, francamente falando, o fato de que Deus me amava não me importava tanto quanto deveria. Eu queria mesmo era sentir orgulho da minha casa e do meu papel como anfitriã. Adorava receber pessoas e me sentir “por cima”. Adorava decorar a casa para o Natal e ouvir as exclamações de admiração das pessoas quando entravam em minha casa.
Quando nos mudamos para um imóvel com menos da metade da área da nossa antiga casa, o Senhor me fez abrir mão de muitas das coisas a que eu me apegara e as quais amava. Embora tenha ficado feliz em me livrar de um pouco das tranqueiras que tinha em casa, chorei muito a perda da minha biblioteca.
Também vim a perceber quanto eu idolatrava a conveniência e a possibilidade de dobrar a esquina e chegar nas minhas lojas favoritas em menos de cinco minutos. Eu adorava poder gastar dinheiro sem preocupações, quando bem entendesse e nas lojas em que gostava de comprar. Depois da mudança, eu levava uns bons trinta minutos para chegar aos meus supermercados favoritos. Sempre adorei a comodidade de ter um restaurante em cada esquina e poder entrar em um Starbucks sempre que me desse vontade. Após a mudança, tínhamos de combinar quando “ir para a cidade”.
Além disso, eu estava bastante alheia à grande influência que sofrera da cultura de juventude, agito e diversão que caracteriza as praias do sul da Califórnia. Após a mudança, passei a fazer parte de uma comunidade de aposentados que moravam na zona rural, onde o ontem é mais importante do que o amanhã e as principais diversões são bingo, cartas e golfe. Eu me sentia superior e julgava algumas daquelas pessoas, cuja vida me parecia consistir em nada mais do que fofocar, jogar baralho e vigiar se as regras eram obedecidas.
À luz de toda essa inquietante autoconsciência, a justiça de Cristo a mim imputada tornou-se mais doce. Durante esse tempo, ele começou a me ensinar como ser paciente, como amar as coisas de Deus e como amar aqueles vizinhos com quem eu achava que não tinha nada em comum (eu me tinha em alta conta). Estou aprendendo o que significa estar oculta em Cristo. E isso é um grande benefício.
É esta a minha esperança hoje: que aquele que de antemão me conheceu, predestinou, chamou, justificou e, sim, até mesmo glorificou, será fiel para continuar sua obra em minha vida. Todas as tribulações e todos os sofrimentos pelos quais passamos estão voltados, em última análise, a um único objetivo: sermos transformados e nos tornarmos como nosso irmão mais velho. Nós não vemos quanto ainda estamos escravizados e enganados; não vemos quanto nossos protestos de que amamos a Deus não correspondem de fato à realidade. Mas ele vê e então trabalha para que todas as coisas cooperem para o bem, para que nos tornemos o que ele já declarou que somos: justificados e, sim, até mesmo glorificados. “E estou certo disto: aquele que começou a boa obra em vós irá aperfeiçoá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6). Descanse na boa obra do Senhor.
Trecho extraído da obra “Celebrando o evangelho no livro de Romanos: o pão de cada dia da alma”, publicada por Vida Nova: São Paulo, 2020, p. 165-168. Traduzido por Marisa K. A. Siqueira Lopes. Publicado no site Cruciforme com permissão.
![]() | Elyse Fitzpatrick (MA em aconselhamento bíblico, Trinity Theological Seminary) trabalha como conselheira no Instituto de Aconselhamento Bíblico e Discipulado (anteriormente CCEF West) e frequentemente dá palestras em retiros e conferências. É autora de Ídolos do coração, Aconselhamento a partir da cruz, Encontrados nele e Por que ele me ama (Vida Nova), além de vários artigos em periódicos sobre o tema dos distúrbios alimentares. Elyse e o marido, Philip, têm três filhos e dois netos. |
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![]() | Em "Celebrando o evangelho no livro de Romanos", Elyse Fitzpatrick torna acessível a mensagem dessa carta de Paulo, que Martinho Lutero chamou “o evangelho em sua forma mais pura”. Este devocional de 32 dias, ao longo dos quais somos levados a pôr essa boa notícia em prática, nos ajuda a experimentar o profundo refrigério expresso com clareza nessa extraordinária carta. Publicado por Vida Nova. |
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