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04/out/2016Nesta série de posts, estamos discutindo a resposta do Dr. R. C. Sproul a uma pergunta sobre a idade do universo durante o momento de perguntas e respostas na Conferência Nacional Ligonier de 2012. No post anterior, paramos no meio de sua resposta para discutir sua afirmação de que toda verdade é verdade de Deus. Seguindo esta declaração, o Dr. Sproul continuou, fazendo uma consideração muito importante sobre as revelações geral e especial. Ele disse:
“Acredito firmemente que toda a verdade é a verdade de Deus, e acredito que Deus não só tem dado revelação nas Sagradas Escrituras, mas também que as próprias Sagradas Escrituras nos dizem que Deus se revela na natureza – algo que chamamos de revelação natural. Certa vez eu perguntei a uma de minhas turmas de seminário, um grupo conservador: ‘Quantos de vocês acreditam que a revelação de Deus nas Escrituras é infalível?’ E todos eles levantaram a mão. Então, disse: ‘E quantos de vocês acreditam que a revelação de Deus na natureza é infalível?’. E ninguém levantou a mão. Trata-se do mesmo Deus a revelação.”
Uma abordagem reformada para a ciência e as Escrituras requer uma compreensão reformada da revelação. A palavra “revelação” denota o ato de revelar (lit. tirar o véu). Na teologia cristã, ela se refere ao ato de comunicação de Deus com o homem ou ao conteúdo dessa comunicação. Historicamente, teólogos têm distinguido entre diferentes tipos de revelação. Muitos teólogos medievais descreveram a diferença usando os termos revelação natural e sobrenatural. A distinção não tinha nada a ver com a fonte ou origem da revelação – os teólogos que fizeram esta distinção acreditavam que toda a revelação é de origem sobrenatural, uma vez que Deus era sua fonte. Em vez disso, esta distinção tinha a ver com o modo da revelação. A revelação natural é comunicada por Deus através dos chamados fenômenos “naturais” (Suas obras criadas), enquanto a revelação sobrenatural é comunicada por Deus através de uma intervenção especial divina (sonhos, visões, etc.).
Revelação geral
A distinção mais comum entre os teólogos reformados é a distinção entre revelação geral e revelação especial. O artigo 2 da Confissão Belga (sobre os meios pelos quais conhecemos a Deus) afirma a distinção com as seguintes palavras:
“Nós O conhecemos por dois meios. Primeiro: pela criação, manutenção e governo do mundo inteiro, visto que o mundo, perante nossos olhos, é como um livro formoso, em que todas as criaturas, grandes e pequenas, servem de letras que nos fazem contemplar os atributos invisíveis de Deus, isto é, o seu eterno poder e a sua divindade como diz o apóstolo Paulo em Romanos 1:20. Todos estes atributos são suficientes para convencer os homens e torná-los indesculpáveis. Segundo: Deus se fez conhecer, ainda mais clara e plenamente, por sua sagrada e divina Palavra, isto é, tanto quanto nos é necessário nesta vida, para sua glória e para a salvação dos que Lhe pertencem.”
Esta distinção entre revelação geral e especial focaliza mais a extensão e propósito da revelação [1]. A revelação geral é referida como revelação “geral” porque possui um conteúdo geral e é revelada para um público em geral. Através da revelação geral, dirigida a todos os homens, Deus comunica a Sua existência, Seu poder e Sua glória, de modo que os homens são deixados sem desculpa.
Uma outra distinção que deve ser feita é a distinção entre a revelação geral imediata e a mediada. A revelação geral imediata ocorre sem um agente intermediário, já a revelação geral mediada, através de um agente intermediário. João Calvino descreveu a revelação geral imediata em suas Institutas da Religião Cristã:
“Há dentro da mente humana, e na verdade por instinto natural, uma consciência de divindade [divinitatis sensum]. Isto consideramos estar além de qualquer dúvida. Para evitar que qualquer um se refugiasse no pretexto de ignorância, o próprio Deus infundiu em todos os homens uma certa compreensão de sua majestade divina (I.3.1).”
Em outras palavras, Deus revelou-se ao infundir diretamente o conhecimento sobre si mesmo em todos os homens. Em um capítulo posterior, Calvino descreve a revelação geral mediada, realizada por Deus através de Suas obras criadas:
“Além disso, o objetivo final da vida abençoada baseia-se no conhecimento de Deus [cf. João 17:3]. Para que ninguém, portanto, fosse excluído do acesso à felicidade, ele não só implantou na mente humana essa semente de religião da qual temos falado, mas ainda revelou-se e diariamente revela-se em toda a obra da criação do universo. Como consequência, os homens não podem abrir os olhos sem serem forçados a vê-lo” (Institutas, I.5.1).
Deus, então, revela-se através de suas obras. Aqui, Calvino está simplesmente reafirmando o que disse o salmista no Salmo 19:1-2.
“Os céus declaram a glória de Deus;
o firmamento proclama a obra das suas mãos.
Um dia fala disso a outro dia;
uma noite o revela a outra noite.”
O apóstolo Paulo desenvolve a mesma ideia em Romanos 1:19-20:
“Pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis.”
Conforme explica John Murray, “Nós não devemos suavizar o ensino do apóstolo nesta passagem. É uma declaração clara no sentido de que a criação visível, como obra de Deus, torna manifesta as perfeições invisíveis de Deus como seu Criador; que, a partir de coisas que são perceptíveis aos sentidos, deriva-se a cognição dessas perfeições invisíveis, e que, portanto, uma clara apreensão das perfeições de Deus pode ser adquirida a partir de sua obra observável” [2].
Revelação especial
A revelação geral, imediata ou mediada, é dirigida a todos os homens. No entanto, ela “não [é suficiente] para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação” (Confissão de Fé Westminster, I.1). A revelação geral não revela Jesus Cristo ou Sua obra redentora dirigida aos pecadores. Assim, torna-se necessário aquilo que é chamado de “revelação especial”. A revelação especial é a revelação do caminho da salvação.
Um dos textos bíblicos mais importantes descrevendo a revelação especial de Deus encontra-se em Hebreus 1:1-2, que diz:
“Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo.”
Em tempos passados, antes da conclusão das Escrituras, Deus revelou Sua obra redentora por meio dos profetas, através de sonhos, visões e teofanias. Mas, agora, a revelação especial recebeu sua forma permanente nas Escrituras do Antigo e Novo Testamento (Confissão de Fé de Westminster, I.1).
Com este panorama resumido sobre a natureza da revelação geral e especial, voltemos à pergunta do Dr. Sproul à sua turma de seminário. Lembre-se que ele perguntou: “Quantos de vocês acreditam que a revelação de Deus nas Escrituras é infalível?” E todos eles levantaram a mão. Em seguida, Dr. Sproul perguntou: “E quantos de vocês acreditam que a revelação de Deus na natureza é infalível?” E desta vez ninguém levantou a mão. Como veremos no próximo post, a razão para as diferentes respostas tinha a ver com a preocupação legítima dos estudantes de reconhecer que a Escritura tem uma autoridade maior do que a das teorias científicas. Isso, no entanto, não foi o que o Dr. Sproul perguntou. E é aí que está a confusão em muitas discussões contemporâneas sobre este tema. Nós acabamos nos desentendendo uns com os outros porque não estamos ouvindo atentamente. O Dr. Sproul fez a seus alunos uma pergunta sobre algo que Deus faz. E, apesar dos receios de seus alunos, a resposta Dr. Sproul é correta. A revelação de Deus na criação é tão infalível como Sua revelação na Escritura, porque, em ambos os casos, é Deus quem realiza a revelação, e Deus é sempre infalível. Deus não pode errar em Sua obra de autorrevelação. A pergunta que os estudantes pensaram que o Dr. Sproul estava fazendo é uma pergunta extremamente importante, mas que não pode ser respondida adequadamente até que sua pergunta original seja respondida.
Em nosso próximo post, vamos analisar aquilo que pode ser o ponto mais importante que o Dr. Sproul levantou acerca das discussões contemporâneas: a diferença entre a revelação infalível de Deus (geral e especial) e nossa interpretação falível dessa revelação (geral e especial). Em relação a este tema, teremos de olhar para os comentários do Dr. Sproul sobre o artigo 12 da Declaração de Chicago sobre a Inerrância Bíblica, a fim de compreender a diferença entre teorias científicas que contradizem uma interpretação da Escritura e teorias científicas que contradizem um ensinamento real da Escritura.
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[1] Louis Berkhof, Introdução à Teologia Sistemática (Grand Rapids: Eerdmans, 1932), 128).
[2] John Murray, A Epístola aos Romanos (Grand Rapids: Eerdmans, 1968), 40.
Traduzido por Fernando Pasquini Santos e revisado por Jonathan Silveira.
Texto original: General and Special Revelation – A Reformed Approach to Science and Scripture. Ligonier Ministries.
Keith Mathison é professor de teologia sistemática no Reformation Bible College em Sanford. É autor de muitos livros, incluindo o livro From Age to Age. |
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Veja também os demais artigos da série:
- Revelação Geral e Revelação Especial
4 Comments
Parabéns! A abordagem evidencialista precisa ser apresentada em paridade com a abordagem pressupocionalista. Creio que o pensamento reformado clássico expresso na antiga escola de Princeton ainda apresenta nuances e contribuições para o pensamento e a prática teológica.
Amei o post… Deus vos abençoe!!!
tudo bem? gostei muito do seu site, parabéns pelo conteúdo. 😉
Ótimo tive bom apreendi dado, PAZ,