Resenha: “Uma introdução literária à Bíblia” | Willy Robert

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A Bíblia Sagrada é o livro mais influente do mundo. Seus textos exerceram papel fundamental no estabelecimento de diversas culturas e civilizações, sendo basilares na formulação do direito, sociedade, política e no uso religioso, que é sua função principal. Do judaísmo, que utiliza o Antigo Testamento, aos protestantes que creem na inspiração dos 66 livros, e aos católicos, que acrescentam mais livros, milhões de pessoas recorrem a esse texto diariamente em busca de orientação e encorajamento espiritual.

Ao longo de aproximadamente 1600 anos, cerca de quarenta autores diferentes compuseram os mais diversos gêneros literários encontrados nas Escrituras. A Bíblia inclui profecia, poesia, epístolas, literatura sapiencial e as narrativas ou histórias, que é o principal gênero textual da Palavra de Deus. Essa multiplicidade situa o texto sagrado na categoria de uma obra literária muito abrangente, um fato que precisa ser considerado em sua interpretação e apreciação.

O autor americano Leland Ryken, em seu mais recente livro “Uma Introdução Literária à Bíblia”, lançado por Edições Vida Nova, dedica-se a apresentar o texto Sagrado como uma obra literária. Através de uma análise profunda dos diversos gêneros, Ryken destacou as características principais de cada um, trazendo exemplos das próprias passagens bíblicas para ajudar o leitor a, além de compreender a riqueza teológica, enxergar a beleza e profundidade da literatura Bíblica.

Acadêmico respeitado na área da literatura, com doutorado pela Universidade de Oregon, Ryken é professor emérito de Literatura Inglesa no Wheaton College, além de autor de mais de quarenta livros relacionados à Bíblia. Toda essa formação robusta, aliada à sua atuação profícua de muitos anos, foi fundamental para a produção dessa obra, que já chega aqui no Brasil se destacando como uma referência no assunto.

O livro é dividido em uma Introdução, seguida por mais quatro partes: Narrativa Bíblica; Poesia Bíblica; Outras formas Bíblicas Literárias e O Novo Testamento. Cada uma dessas partes é composta por vários capítulos, nos quais cada gênero literário é analisado, juntamente com suas inúmeras variações.

Na primeira parte, o autor discute a Narrativa Bíblica. Ryken explora as principais características da narrativa, incluindo seus elementos, aspecto artístico, as narrativas do herói, o épico e a tragédia. Cada capítulo segue uma estrutura que apresenta a ideia geral, seguida de textos bíblicos onde esses gêneros estão presentes.

Ryken começa destacando as semelhanças e diferenças entre as narrativas bíblicas e as narrativas em geral. Ele aborda o Realismo, uma característica predominante desse gênero literário, destacando como os autores apresentam as histórias situando-as no tempo e no espaço, demonstrando que são histórias reais, repletas de detalhes e significados. Um exemplo claro de Realismo é o relato de Juízes 3, que descreve detalhadamente como Eúde assassinou o rei Eglom: “Eúde estendeu a mão esquerda, tirou a espada de sobre a coxa direita e cravou-a na barriga do rei. O cabo também entrou com a lâmina e, como ele não tirou a espada, a gordura se fechou sobre ela, e a sujeira saiu. Então Eúde saiu para o vestíbulo, fechou as portas da sala no terraço e as trancou”.

Além do Realismo, o autor explora o Romance Literário que, erroneamente, muitos associam a histórias amorosas. Mas, na realidade, se refere a histórias extensas, cheias de aventura, batalhas, entre outras coisas. Nesse ponto, ele utiliza a história de Eliseu e o exército sírio em 2Reis 6.15-18 como exemplo.

Ryken passa então a abordar os diversos elementos da narrativa, como cenário, trama e personagem, assim como suas diversas características. E ilustra esses aspectos por meio de diversos momentos da vida de Abraão e Jacó.

Outro ponto interessante que o autor destaca é a artisticidade nas narrativas, explorando elementos como unidade, foco central, arranjos, variedade na unidade, progressão, equilíbrio, contraste, simetria, repetição e ritmo. A ideia nesse ponto é mostrar que a escrita do texto bíblico não é rígida como uma lista de compras ou um manual de instruções, mas é intencional, organizada e cheia de beleza. Vale mencionar que esse aspecto ocorre em todos os gêneros literários, não apenas nas narrativas.

Ao abordar a Poesia Bíblica, na parte dois do livro, Ryken também explora sua artisticidade, destacando como ela proporciona prazer e encanto ao leitor. Ele enfatiza que “a presença da artisticidade aumenta o impacto de um pronunciamento. Um texto que apresenta qualidades artísticas comunica sua mensagem de modo mais eficaz do que um texto monótono”.

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Na terceira parte, o livro aborda “Outras Formas Bíblicas Literárias”, como o Encômio, Provérbio, Sátira e Drama. Os Encômios são escritos para elogiar uma qualidade ou algum tipo de caráter. Eles geralmente enfatizam um objeto a ser homenageado, suas origens, sua descrição, natureza e concluem induzindo o leitor a imitar o objeto de louvor. Um exemplo claro de Encômio é o Salmo 1, onde o justo é elogiado na forma da bem-aventurança.

O livro segue adiante, fazendo uma análise importante dos Provérbios, traçando suas principais características, como a concisão, que torna os provérbios memoráveis. Ao elogiar os provérbios, Ryken cita o escritor James Joyce, que afirmou que “os Provérbios são momentos em que os olhos espirituais ou intelectuais ajustam nossa visão da verdade ou da experiência humana a um foco exato. Eles captam o momento mais claro e mais emotivo e o ponto de luz mais intenso”.

No que diz respeito a Sátira, o autor apresenta aquele estilo que ridiculariza a insensatez humana. Para Ryken, a sátira sempre terá a presença de cinco pontos: um objeto de ataque, um instrumento satírico, um tom e uma norma. Os discursos de Jesus, são exemplos desse gênero, bem como suas diversas parábolas. A parábola do rico insensato tem esse claro tom satírico, onde a falsa segurança terrena do fazendeiro rico é objeto de ataque, pois seu trabalho é visto por Deus como algo completamente inútil.

Para concluir essa parte, Ryken explora o Drama, outro gênero que permeia amplamente toda a Bíblia. E para ilustrar seu ponto, ele se aprofunda detalhadamente na história de Jó.

Na quarta e última parte, o foco do livro volta-se para toda a variedade literária do Novo Testamento. Em oito capítulos profundos, mas objetivos, o autor discute os Evangelhos e suas características, fala sobre as Parábolas, destaca o livro de Atos dos Apóstolos, aborda as Epístolas, além de dedicar espaço para analisar as Poesias, Provérbios, Hinos e Discursos encontrados no Novo Testamento, finalizando com uma análise de toda a riqueza do livro de Apocalipse.

Todas as análises são cuidadosamente construídas, sempre acompanhadas de vários exemplos para fundamentar a argumentação. Estamos diante de um excelente material que veio para se estabelecer como obra de referência no auxílio à interpretação bíblica, pois compreender o material que se tem em mãos auxilia consideravelmente na forma como se entende o que está sendo estudado.

Dentre os vários pontos fortes do livro, destaca-se sua linguagem robusta, mas acessível, permitindo que leigos e leitores comuns da Bíblia possam acompanhar o ritmo da obra de forma satisfatória.

Sua robustez também contribui para que pastores, professores e acadêmicos se impressionem com a riqueza de detalhes e a profundidade do conteúdo, proporcionando um aprendizado amplo, mesmo para quem já tem experiência no assunto.

Com 640 páginas, a obra prende a atenção do leitor do começo ao fim, e que com certeza, será consultada inúmeras vezes para extrair toda a riqueza que o autor reuniu.

Willy Robert é graduado em Teologia pelo Seminário Martin Bucer. Pós-graduando em Teologia Histórica. Professor de Teologia Histórica e Sistemática no Seminário Veritas. Pastor da Igreja Batista Redenção em Juiz de Fora (MG). Casado com Rosy e pai do Abner.
Este é um livro fundamental de crítica literária da Bíblia. Seu formato é simples: combina comentários teóricos sobre diversos aspectos literários da Bíblia com exposições de textos selecionados para ilustrar a teoria. A intenção do autor é que essa combinação de teoria e ilustração forneça uma metodologia para que seus leitores possam também aplicá-la a outros textos bíblicos.

Aqueles que estudam, pregam ou ensinam as Escrituras acrescentarão este livro a suas obras de referência mais consultadas e o manterão sempre à mão.

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