História em foco: o ministério de Paulo em Tessalônica | Alan S. Bandy

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Paulo, Silas e Timóteo viajaram para oeste, pela Via Egnácia, até a cidade de Tessalônica (atualmente com o mesmo nome), na Grécia, deixando Lucas para trás, em Filipos. A viagem de Filipos a Tessalônica era de quase 160 quilômetros e provavelmente durou três dias completos. A rota os levou pelas cidades de Anfípolis e Apolônia, onde teriam pernoitado uma noite em cada uma delas. Anfípolis ficava a pouco mais de 48 quilômetros de Filipos; Apolônia, a 42 quilômetros de Anfípolis; e Tessalônica, a cerca de 43 quilômetros de Apolônia.[1]

 

Tessalônica, Grécia.

 

Paulo visava especificamente à cidade de Tessalônica como o local seguinte para evangelização (At 17.1). Ela era uma importante cidade portuária localizada na Via Egnácia, na ponta do golfo Termaico. Foi fundada em 297 a.C. por Cassandro, um dos generais de Alexandre, o Grande, que deu à cidade o nome da esposa, Tessalônica, que era também meia-irmã de Alexandre.[2] Como cidade livre, era um próspero centro comercial e capital da província romana da Macedônia.[3] Tessalônica tinha um significado estratégico para Paulo e Silas, porque, como capital da província com um robusto comércio, sua população havia aumentado de 45 mil para 200 mil habitantes.[4] Paulo pretendia concentrar seu ministério em cidades maiores e de maior expressão.

Os gregos compunham a maioria da população da cidade, embora ela fosse um centro urbano com uma composição étnica diversificada, que incluía trácios, macedônios, romanos e judeus. O próprio fato de Lucas mencionar uma sinagoga judaica indica que havia um número maior de judeus em Tessalônica do que em Filipos (At 17.1). É possível que alguns dos judeus e tementes a Deus de Filipos tivessem contatos pessoais na sinagoga de Tessalônica e tenham sugerido a Paulo que os procurasse. É possível também que Lídia tivesse contatos comerciais por meio da guilda dos artesãos de Tessalônica que trabalhavam com o tingimento em púrpura.[5] Quaisquer que fossem as razões que motivaram Paulo a escolher Tessalônica, ele foi muito objetivo em seu itinerário.

 

           

Ruínas romanas da antiga Tessalônica

 

Não está claro quanto tempo exatamente Paulo passou em Tessalônica. Lucas registra que ele esteve na sinagoga por três semanas, mas provavelmente, depois disso, manteve seu trabalho lá durante várias semanas (At 17.2). A primeira coisa que Paulo teria feito seria montar sua loja de tendas no mercado, ou perto dele, para seu sustento, algo a que ele, mais tarde, aludiu ao escrever para a igreja de Tessalônica: “Pois vocês se lembram de nosso trabalho e de nossas dificuldades, irmãos. Trabalhando noite e dia para não sobrecarregar ninguém, pregamos o evangelho de Deus a vocês” (1Ts 2.9). A venda de tendas não somente garantia renda a Paulo, mas também lhe possibilitava o contato com muitos gentios da cidade.[6] Apesar de haver persuadido diversos judeus a crer em Jesus, a maioria dos crentes de Tessalônica era composta de gentios (1Ts 1.9; 4.3-7). O apóstolo continuou a evangelizar entre os gentios e a lhes ensinar o suficiente para estabelecer a igreja (4.1; 5.12; 2Ts 2.2).[7] Provavelmente ele passou um mês ou mais em Tessalônica, evangelizando entre os gentios e discipulando os novos crentes.[8]

Desde seu primeiro sábado na cidade, Paulo e os companheiros foram à sinagoga para discutir as Escrituras e mostrar aos judeus que Jesus é o Messias. Ele argumentou, com base nas Escrituras judaicas, que era necessário que Jesus morresse e ressuscitasse para provar que ele é o Messias. Por três semanas seguidas, Paulo mostrou com habilidade sua destreza como teólogo, intérprete e orador persuasivo, e Silas estava igualmente envolvido nas discussões.

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Alguns dos judeus foram convencidos pelos ensinamentos de Paulo e Silas e creram em Jesus. Além disso, um grande número de gregos tementes a Deus e mulheres de destaque, líderes da cidade, também creu. No final dessas três semanas, havia nascido a igreja de Tessalônica. O que começou como um pequeno grupo continuou a crescer e a se expandir, à medida que outros na cidade se tornavam crentes, durante o ministério em andamento. Mais tarde, Paulo se lembraria de seu tempo com a igreja de Tessalônica, ao escrever: “Pois sabemos, irmãos e irmãs, amados de Deus, que ele os escolheu, visto que o nosso evangelho não lhes chegou apenas em palavras, mas também em poder, no Espírito Santo, e com plena certeza” (1Ts 1.4-5).


Notas

[1] C. J. Hemer, The book of Acts in the setting of Hellenistic history. WUNT, organização de C. Gempf, vol. 49, p. 115.

[2] Eckhard J. Schnabel, Paul and the early church, Early Christian Mission (Downers Grove: InterVarsity, 2004), vol. 2, p. 1160.

[3] Holladay, Acts, p. 332.

[4] Keener, Acts, 3:2537.

[5] Schnabel, Paul and the early church, p. 1161.

[6] Witherington, Acts of the Apostles, p. 504.

[7] Keener, Acts, 3:2539.

[8] Witherington, Acts of the Apostles, p. 504.


Trecho extraído e adaptado da obra “Guia Ilustrado sobre o apóstolo Paulo“, do autor Alan S. Bandy, publicado por Vida Nova: São Paulo, 2024, p. 104-106. Publicado no site Cruciforme com permissão.

(MDiv, Mid-America Seminary; PhD, Southeastern Baptist Theological Seminary) é professor de Novo Testamento e de Grego no New Orleans Baptist Theological Seminary, onde ocupa a cátedra Robert Hamblin de Exposição do Novo Testamento. Ele também conduz regularmente visitas de estudo acadêmico na Turquia e em Israel.

Desde seu nascimento em Tarso, passando por seu treinamento rabínico em Jerusalém, até sua última prisão em Roma, esta obra traz à vida a incrível história do apóstolo Paulo. Baseando-se no livro de Atos e nas muitas cartas escritas por ele, bem como em fontes históricas e arqueológicas, este livro ricamente ilustrado explora os contextos sociocultural, político e religioso do mundo romano do primeiro século, nos quais Paulo viveu e ministrou. Também lança luz sobre lugares que ele visitou e pessoas que conheceu ao longo do caminho. E, o que é mais importante, nos ajuda a entender como e por que Deus usou Paulo de maneiras tão extraordinárias.

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