Confesso ser um slogan bonito: Amor Livre. Afinal, juntar duas coisas que todo mundo quer – amor e liberdade – parece criar a coisa mais legal do mundo, não é mesmo? Imagine só: todos as pessoas se amando livremente, sem vergonha dos próprios sentimentos, cada um defendendo a liberdade do outro de amar como, quando e quem quiser. Mundo perfeito, o sol brilha, o arco-íris no horizonte, os pássaros cantam, o cupido trabalha, as pessoas se amam.
Certo? Não.
Essa história de amor livre começou na década de 60 com os hippies que, de mãos dadas, cantarolavam “Imagine all the people…” e continua hoje com o pessoal dançando com o punho na testa e cantando “Ai, se eu te pego…” em polonês. E não foi só a qualidade musical que caiu, mas os ideais também sofreram com o tempo.
Se, na década de 60, os hippies protestavam em frente a Casa Branca contra uma guerra que matava milhares de pessoas, hoje as pessoas protestam nas redes sociais contra tudo que lhes der na telha. De “Eu Amo Band-Aid da Disney” até “Odeio Cabelos no Sabonete”, de “White Power” a “Black Power”, de PT a PSDB, tudo é motivo de protesto em linhas virtuais.
Mas, ainda que um pouco escondida, a tônica do amor livre permanece em tudo. Mesmo a crítica mais ponderada ao mais criticável dos atos humanos sucumbe diante do argumento mais batido e chato (sim, chato!) da atualidade: “Mas essa é a sua posição e você tem que respeitar as diferenças”. Respeitar as diferenças; eis onde o amor livre fincou mais profundamente suas raízes. Afinal, quem é livre não quer censura de nenhum tipo a sua suposta liberdade.
Porém, entretanto, contudo, todavia, o tal do amor livre não é nem amor, nem livre.
Não é amor porque que tipo de amor permite que aquele a quem se ama destrua a si mesmo sem repreendê-lo e ensiná-lo? Que tipo de pai não dá bronca em seu filho quando ele quer enfiar a mão na tomada? Talvez o mesmo tipo de pai que não pune seu filho quando ele é desrespeitoso ou faz pirraça. E talvez o mesmo tipo de pai que colhe os cacos do coração quando vê o filho morrer em busca de uma pretensa liberdade.
Não é livre porque defende nada mais do que a submissão aos desejos. Livre, porém escravo de si mesmo. E creio não haver menor prisão em que se trancar do que o próprio coração. Eu desejo laranjas, laranjas terei. Desejo prazer, de prazer viverei. Desejo homens, mulheres, crianças, animais, objetos, de tudo terei o quanto quiser e quando quiser. E não me importa a opinião de quem quer que seja – nem mesmo Deus –, pois sou livre quando estou algemado a mim mesmo. “Ninguém é realmente livre até que tenha dominado a si mesmo”, disse um filósofo grego, cujo nome não me recordo.
No fim das contas, amor livre não significa mais do que o desejo de ver cada um destruir a si mesmo com aquilo que bem entender, sejam vícios, drogas ou opções sexuais. É o desprezo pelo outro elevado à máxima potência. Mas isso ninguém, nunca, vai admitir.
Tu, porém, amado Timóteo, saiba disto: tais pessoas “morrem por falta de disciplina; e pelo excesso da sua loucura andam errado” (Provérbios 5.23). Também lembre que essa ideologia não faz sentido, pois esses indivíduos “prometem-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção; porque de quem um homem é vencido, do mesmo é feito escravo” (2Pedro 2.19).
E quando alguém vier com essa história de que “você tem que respeitar as diferenças”, responda-lhe que antes disso você deve amar as pessoas, ensinando-as a respeito do caminho da liberdade. “Dizia, pois, Jesus ao judeus que nele creram: ‘Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; e conhecerei a verdade e a verdade vos libertará’” (João 8.31,32). Assim, quem sabe, essas mesmas pessoas não destruam a si mesmas neste mundo, nem venham a ser destruídas eternamente, “pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 6.23).
Pai e marido, Lucas Vasconcellos Freitas é Mestre em Estudos Teológicos com ênfase em Estudos Interdisciplinares pelo Regent College (Vancouver, Canadá) e em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É parte da equipe do Claraboia Brasileira e escreve ficção nas horas vagas. |