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Convidamos você a se juntar a Philip Ryken, presidente do Wheaton College e membro do Conselho da The Gospel Coalition, na leitura e discussão do romance vencedor do Prêmio Pulitzer, Gilead, de Marilynne Robinson.

Não lembro quem me recomendou Gilead, mas logo me apaixonei pelo livro. O motivo, em parte, foi a escrita, é claro, porque Marilynne Robinson está entre as autoras mais talentosas do mundo. Gilead “é tão belo”, escreveu um crítico, “tão bem escrito que o leitor se sentirá em estado de graça só em lê-lo”.

Eu também fiquei cativado pela premissa do romance. Gilead é um livro de memórias fictício no qual um pastor moribundo escreve uma longa epístola para seu filho, contando a história de seus ancestrais, refletindo sobre seu chamado como ministro e compartilhando conselhos paternos de toda uma vida que ele sabe que não estará por perto para dar à criança que ele ama. O resultado é um retrato íntimo de uma vida no ministério que captura as alegrias e as lutas do pastorado.

Pastores nos clássicos

Na mesma época em que li Gilead pela primeira vez, almocei com um seminarista que havia passado parte de seu verão lendo romances que seu avô recomendava que todo jovem pastor lesse. Eram todos livros que apresentavam um pastor, um padre ou um pregador como protagonista. Recordo-me que Elmer Gantry estava na lista, assim como A letra escarlate, de Nathaniel Hawthorne, e talvez Diário de um pároco de aldeia, de Georges Bernanos.

A conversa me empolgou porque reuniu duas das minhas grandes paixões da vida: a boa literatura e o ministério pastoral. Rapidamente comecei a pensar em outros livros excelentes que se enquadravam na mesma categoria: Cry, the Beloved Country, de Alan Paton; O poder e a glória, de Graham Greene; Godric, de Frederick Buechner, Witch Wood, de John Buchan; e Silêncio, de Shusaku Endo. Percebi que esses livros surgiam de todo o mundo: Estados Unidos, Inglaterra, Escócia, França, México, Japão, África do Sul. Também reconheci que eles ofereciam uma ampla variedade de perspectivas sobre o pastorado.

Logo eu estava sonhando com um curso prático que usasse clássicos da literatura mundial para ajudar os alunos do seminário a entender seu chamado para o ministério do evangelho. Que melhor (ou mais agradável) maneira de se preparar para o pastorado do que ler e discutir grandes histórias de grandes livros?

Lecionei, por fim, o curso dos meus sonhos para um pequeno seminário em doutorado em ministério no Westminster Theological Seminary e dei ao curso o nome de algo como “Ministério Pastoral na Literatura Mundial”. Mais tarde, colaborei com meu pai, Leland Ryken, e meu amigo Todd Wilson, para escrever um pequeno livro sobre alguns desses romances, chamado Pastors in the Classics.

Com esta breve série de artigos ─ parcialmente extraídos do capítulo do meu livro sobre Gilead ─ retorno a um dos meus romances favoritos da lista. Faço isso na esperança de que a leitura desse livro excepcional o encoraje a ler outros livros semelhantes.

Ministros que encontramos

É de vital importância que pastores e outros cristãos que servem em qualquer forma de ministério do evangelho leiam boa literatura. Minha lista de razões para dizer isso é longa, mas eis uma das mais importantes: a boa literatura nutre a alma. Como Charles Osgood escreveu em seu livro Poetry as a Means of Grace, a literatura que lemos “amplia o alcance da visão intelectual, moral e espiritual; expande a nossa compaixão; aguça nosso discernimento; corrige nossa avaliação de todas as coisas.”

Grandes obras de literatura que apresentam pastores (ou sacerdotes) como protagonistas têm o poder de fazer exatamente essas coisas para as pessoas no ministério. Elas expandem nossa visão do pastorado. Erguem-nos e ajudam-nos a resolver questões morais que surgem no curso do ministério. Cultivam nosso coração em relação às pessoas necessitadas. Expõem áreas de tentação e até mesmo aspectos corretos de nosso ministério que não agradam plenamente a Deus.

Romances pastorais fazem tudo isso ao oferecer retratos envolventes do ministério por meio da vida dos pregadores que servem como seus personagens principais. Esses personagens são apresentados em vários tipos principais. Existem pastores fiéis — não tantos quanto se poderia esperar, mas alguns. Mais comumente, o ministro no centro da história é um completo pecador. Um exemplo notável é o pregador que comete adultério perto do início de A letra escarlate. Mas Arthur Dimmesdale é apenas o primeiro de uma longa linhagem de clérigos depravados a aparecer nas páginas da literatura americana. Seja ganância, luxúria ou hipocrisia, pode-se praticamente traçar o declínio moral da cultura americana através dos ministros que povoam sua literatura.

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Em seguida, temos as figuras cômicas ─ os ministros que servem como objetos de hilaridade. Hoje estamos familiarizados com esses personagens ineptos e estéreis do clero que normalmente aparecem em filmes e seriados de televisão. Mas divertir-se às custas dos ministros é uma tradição de longa data nas letras americanas. Um exemplo notável do século 19 é o reverendo extravagantemente chamado de Cream Cheese (no drama Our Best Society, de Irving Browne), descendente direto do pregador franco-huguenote Crème de la Crème que sucede o Dr. Polysyllable no púlpito!

Felizmente, muitos dos melhores romances clericais apresentam um ministro de maneira integral. Retratam um pastor ou sacerdote fiel ao chamado de Deus enquanto, ao mesmo tempo, luta com questões reais no ministério e exibe falhas de caráter genuínas. Os ministros nesses romances ilustram o que Barbara Brown Taylor aprendeu com um de seus mentores:

Ser ordenado não diz respeito a servir a Deus de maneira perfeita, mas servir a Deus de maneira visível, permitindo que outras pessoas aprendam tudo o que puderem vendo você levantar e cair. Você provavelmente não será muito pior do que as outras pessoas e certamente não será melhor, mas terá que deixar as pessoas olharem para você. Terá que deixá-los vê-lo como você é.

Começando

O protagonista de Gilead — o reverendo John Ames — não serve a Deus de maneira perfeita, mas serve a Deus de maneira visível. O retrato multidimensional de Marilynne Robinson deste honorável ministro nos permite vê-lo como ele é. Vemos tanto sua paixão em proclamar o evangelho quanto sua profunda decepção ao saber que sua pregação nunca faz plena justiça à Palavra de Deus. Vemos sua compaixão pelo povo que Deus o chamou para servir, mas também a profunda luta que ele enfrenta ao ministrar a um paroquiano rebelde e difícil de amar. John Ames nos mostra, portanto, o que há de melhor e mais difícil no ministério pastoral.

Esta introdução é um convite para aprender a partir da vida e ministério de John Ames por meio da leitura de Gilead, no qual Marilynne Robinson dá ao ministro sua voz envolvente. De acordo com sua forma literária ─ as memórias fictícias ─ Gilead é escrito sem capítulos. Apresenta o fluxo da consciência de um homem em vez de uma trama rigidamente construída. Assim, em vez de examinar Gilead de forma sequencial ou episódica, os próximos textos explorarão vários temas do romance.

A estrutura do romance torna difícil saber como dividir a leitura de Gilead em partes adequadas. Talvez a melhor sugestão para esta primeira parte seja ler pelo menos até a página 30. Você ficará tão cativado pela escrita de Robinson que achará difícil largar o livro.

Traduzido e revisado por Jonathan Silveira.

Texto original: Gilead: A Novel View of Pastoral Ministry. The Gospel Coalition.

Philip Ryken é doutor em teologia histórica pela Universidade de Oxford e presidente do Wheaton College Seminary. Foi pastor da igreja Tenth Presbyterian Church, na Filadélfia, e escreveu mais de cinquenta livros, como "As doutrinas da graça", "Rei Salomão: as tentações do dinheiro, sexo e poder" e "Amar como Jesus ama", publicados por Vida Nova.
Gilead é o segundo romance de uma das mais brilhantes autoras americanas contemporâneas, que compõe com sua escrita um bordado ao mesmo tempo sutil e avassalador — certamente um desafio a uma tradução tão primorosa como essa, de Maria Helena Rouanet.

Esse livro é uma declaração de amor incondicional à vida, mesmo assombrada por Deus e um lamento por sua brevidade. Aclamado pela crítica e pelo público, foi o vencedor do Pulitzer de 2005.

Gilead foi acalentado pela autora e aguardado por seus leitores durante 24 anos. Tem, em suas páginas, a dimensão de obra que atingiu a maturidade plena e nos conduz à nossa própria plenitude.

Publicado por Vida Nova.

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